CAPÍTULO 10

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DÊNIS

Minha cabeça dói como o inferno, e o barulho da chuva batendo na janela me incomoda como se fosse tapas na minha fonte. Ressaca do inferno! Escuto passos pelo quarto, e apenas ignoro, tentando recordar minhas últimas horas sóbrio, ou o mais próximo a isso. Eu e as garotas enchendo a cara e contando histórias idiotas da nossa vida, onde tudo que se resumiu sobre as minhas, era o quanto o pavão era atrevido, petulante e orgulhoso. Elas me trazendo para casa de madrugada, eu querendo atravessar a ponte e a Selena praticamente me derrubou para não permitir.

O pavão no carro comigo e o Bastião! – recordo e minha cabeça dói ainda mais.

— Que porra! – Xingo, e minha própria voz mágoa meu cérebro.

— Está vivo! – Escuto a voz do pavão, e sinto o choque percorrer minha cabeça, quando ele bateu palmas.

— Pelo amor de Deus! – Choramingo, sem nem mesmo querer olha-lo.

Antes de matar, a cachaça humilha que é uma beleza! — Ho desgraça! Quanto mais eu lembro, mas, vejo a hipótese de fingir uma amnesia alcoólica.

— Só pelo amor de Deus mesmo. – Resmunga e sinto o cheiro de café próximo a mim. — Acorda um pouco aí, e toma esse café e um remédio, pra não morrer de ressaca.

— Porque está aqui, pavão? – reclamo ainda emborcado e de cabeça enrolada.

— por que, ao que parece, sou o único disponível para cuidar do bêbado chorão, que ficou dizendo que ia morrer e vomitando até o rabo. – Resmunga irritado, e sua voz parece criar uma fenda na minha cabeça.

— não lembro de nada disso. – Minto, tendo fleches de memórias que não desejava nem pro meu pior inimigo.

Me esfreguei igual a um gato, nas partes íntimas do pavão. Miserável! Na minha mente não me condena nada como errado, e sim muito bem excitante, mas minha consciência está se esmagando de vergonha, culpa e preocupação.

— Não se preocupe! Os peões gravaram tudo para que recorde com perfeição. – Declarou e gemo afundando mais no colchão, querendo morrer. — inclusive você cantando sobre o quanto estava apaixonado por mim. – Se diverte com minha situação.

— Deus me livre e guarde. – imploro, desejando profundamente que esteja em um pesadelo, e que logo acordo. — Me mata. É a forma ideal, para acordar do pesadelo. – peço com desespero, de quem já não aguenta mais a situação.

— claro, com todo prazer. Poderia me emprestar a sua espingarda? – Pergunta rindo, e solto um gemido.

— Cadê a dona Lúcia?! Prefiro que ela cuide de mim, mesmo que esteja sonhando. – Peço, sabendo que uma arma nas mãos do pavão, é perigoso até mesmo em sonho.

— Dona Lucia foi ajudar uma moça grávida ontem a noite, e não voltou ainda. – Avisa e suspiro profundamente, abrindo uma fresta do lençol, apenas para vê-lo de braços cruzados e com cara de deboche. — Deixa de manha, e acorda de uma vez. Toma logo esse café, pra melhorar da ressaca. O rebanho todo escapou durante a madrugada e todos os peões, inclusive o Bastião está trabalhando pra retirar o gado do cacaueiro.

— Só desgraça na minha vida. – Reclamo, sentindo minha cabeça piorar.

— Não se preocupe. O Tomás, a Iara e meu principezinho estão vindo, então tudo ficará bem. – Declarou com uma satisfação sádica, e odeio esse pavão exibido um pouco mais. — E estou com seu celular, espero que não se importe. – avisou pegando meu aparelho, e nem sou importância a isso.

— Ah! Ah! Ah! Não tem como eles passarem no rio. – Debocho fechando meus olhos e me levantando bem devagar, para que minha cabeça não seja esmagada de dor.

— Não sei se sabe, caro caipira, mas, já inventaram uma máquina voadora, que leva vários passageiros rapidamente a longa distância. – Debocha, e abro apenas parte dos meus olhos para olha—lo e desejar apertar seu pescoço fino, ainda mais quando lembro da madrugada.

— Está chovendo tanto, que a menos que seja um barco voador, nenhum piloto vai inventar de vir até aqui. – Declaro com satisfação, pegando a xícara de café e levanto a boca, e tendo um bloqueio no corpo todo, devido ao terrível amargor contido nesse troço. – Quer me matar?! – quero saber, olhando a guariroba.

— Quero, mas, isso não vem ao caso. Sobre o barco voador. Você ainda não conhece a Iara, e se ela disser que estão vindo. Ho, eles estão vindo. – Sorriu sínico, olhando as unhas delicadas e azuis.

— Pavão dos infernos. – Xingo virando todo o restante da guariroba na boca, querendo finalizar essa coisa, para deixar de ser ruim.

— Agora é pavão dos infernos?! – Debochou me olhando de cima. – Porque ainda de madrugada, tinha outros nomes. Uns bem delicados para vir de alguém como você.

— Não fiz nada disso. – levanto de uma vez, e é como se tivesse levado uma paulada na cabeça, mas o que chama realmente minha atenção é a cara do pavão me olhando de boca aberta e olhos arregalados. — O que foi, pavão?! – pergunto e me olho, percebendo que estou pelado.

Sei lá, mas, vê-lo me olhando assim, me deixa muito satisfeito. Todas as vezes que ele me olhou me deixou bastante satisfeito, para ser sincero. Minhas mãos até treme, de vontade de deslizar minha mão por meu abdômen, e envolver no meu pau, para que veja tudo o que tenho e posso oferecer. – Minha consciência me condena por isso, mas, é ela contra todo o resto de mim, que reage se agitando sobre o olhar dele.

— Misericórdia! Deus me livre. – Me olhou da cabeça aos pés e engoliu se recompondo, fazendo um pigarro no final. — Sei que deve ser natural da sua espécie andar assim, mas, eu já estou em outra fase da evolução e usamos roupas. Então, por favor, faça o mesmo. – Declarou virando de costas para mim, e fingindo não me ver pelo espelho.

Sabiam que, se você ver alguém pelo espelho, ele também te verá pelo espelho, se olhar na mesma direção. Acho o espelho uma coisa incrível!

— É mesmo. – Mordo lábio, olhando suas coxas aparentes em seu short azul curto, a camisa bege não longa o suficiente para cobrir a sua bunda redonda e bem marcada naquele short que estou achando muito indecente.

Odeio como tudo que olho nele parece tão bonito. A pele parece tão macia, e o cheiro dele foi o melhor que já senti, pisco com a imaginação de abraça-lo por trás, e cheirar seu pescoço, apenas para saciar essa necessidade recém adquirida, e saber qual sua reação. – O que existe de errado nisso, consciência?! Ele é homem. – Eu não me importo que seja homem. Ele me cativa coisas tão intensas.

— Dênis! – Chamou minha atenção, e me vejo muito perto dele, minhas mãos tremendo para serem colocadas em seu quadril e meu corpo reagindo a visão do dele. — Vá para o banheiro tomar seu banho. – me ordena, e suspiro profundamente o cheiro bom que vem dele, reconhecendo que já fiz merda o suficiente por ontem, e não vou cometer o mesmo erro uma segunda vez e piorar nossa situação.

— Certo. Obrigado pelo café. – Agradeço pegando uma toalha e me enrolando, antes de ir em direção ao banheiro.

— de nada. Vou fazer um caldo de ovos para você melhorar. O Bastião está precisando de ajuda. Até veio saber ainda pouco se já tinha acordado. – Comenta sem se virar.

— Bastião, Bastião! Tudo é Bastião. – reclamo entrando no banheiro, vendo minha situação destruída para não dizer fodido.

Me olho no espelho, e suspiro incerto. O que devo fazer?! Como ele mesmo diz, sou bruto demais para ser atrativo para ele, e já fiz bobagem demais para que ele me desse uma atenção.

— o que estou pensando?! – pergunto ao meu reflexo, baixando minha face contra minhas mãos.

Eu não me vejo diferente, por está me sentindo atraído pelo pavãozinho. Me sinto tão homem quanto a uma semana atrás. Me sinto em uma situação tão irônica, porque quando eu ouvia conversas homofóbicas, era o primeiro a intervir, porque achava ridículo alguém julgar alguém, por algo tão pessoal e independentes, quanto o amor que cada um desenvolve, e agora estou aqui, sendo homofóbico comigo mesmo. Talvez a dor de cabeça derivada da cachaça, não seja tão ruim, quando me faz se sentir mais lúcido que já estive em dias.

Vou para a ducha e me deixo se banhar até o meu cérebro se reiniciar. Me seco pensando nos problemas com as cercas que a água arrebentou, tomo o comprimido que o pavãozinho me trouxe com o café, e me visto rapidamente. Não é o momento para pensar sobre tudo isso, porque tenho obrigações inadiáveis e preciso me decidir definitivamente sobre o que irei fazer, porque enquanto não faço, pioro minha situação a cada instante que abro a minha boca.

Na mesa da cozinha tem uma panelinha cheia de caldo de ovos, e o cheiro está ótimo. Procuro com o olhar, tentando encontrar o pavãozinho, e não tenho nem notícias ou remorso, me deixando insatisfeito, porque queria mais da sua presença.

— Espero que não esteja ruim. A Iara ama esses caldos, quando está de ressaca. – A voz dele chegou antes que sua presença, vindo da área externa da casa, e olho ele com apreciação do quanto parece certo ele está assim na minha casa.

Seu rosto está rosado e molhado, e sua camisa está cheia de pingos molhados, enquanto ele seca as mãos no short. Os olhos vividos estão inquietos e mais escuros que o comum, e ele parece apenas uma coisinha atrativa, que eu poderia apertar contra essa mesa, e tomar esses lábios rosados. – ele aceitaria suas bolas novamente! Quero fazer isso, sentindo ele se derretendo contra meu corpo, e não se rebelando.

— O que foi?! – Ele quis saber, me olhando desconfiado.

— Está delicioso. – Lambo os lábios fingindo me referir a comida, e ele me olha com suspeita.

— rum, sei não, em. – negou apertando seus olhos na minha direção, e foi para a pia.

— Não precisa lavar nada. Eu lavo quando voltar da roça. – me apresso, e ele me olha sobre o ombro, dando um sorriso.

— Não é nada. Dona Lúcia mandou um recado por um dos rapazes. Avisou que não vai voltar agora, porque a menina esta próximo a ter o filho, e ela vai esperar com ela, devido a chuva. – Deu o recado, e assinto devagar.

Como devagar, vendo ele resmungar uma música e balançar um pouco enquanto lava a louça sobre a pia. Imagens se forma de como poderia ser satisfatório entrar esse homem assim, e poder aperta-lo contra mim e beija-lo. Dar um bom dia, e perguntar o que ele fará hoje, quando estivemos longe.

Nunca tinha imaginado situação assim antes. Nem mesmo com a mulher que namorei por anos, mas, consigo imaginar com o pavãozinho, e isso é tão difícil e ao mesmo tempo satisfatório.

— Estou indo. Obrigado por ter ficado para cuidar de mim. – Agradeço levantando e levando o prato na direção dele, e colocando na bacia.

Ele me olha com hesitação, mas, apenas beijo sua testa, aproveitando para sentir sua pele macia na minha mão, e querendo mudar sua visão sobre mim.

— Não foi nada. – Disse me olhando, e gostei que seus olhos por um instante estivesse na direção da minha boca.

— me desculpe por ontem. Antes ontem. – peço levantando minha mão, e passando pelos cabelos macios como pelo de gato. – Estou sendo inconsequente, mas, é que nunca me senti assim antes, e sou um caipira acostumado com a rotina e normalidade, e você descarrilhou um monte de coisa, e me deixou em pânico. – admito, usando toda a coragem que me resta, antes de sair sem esperar resposta.

Meu coração está tão acelerado, que não sei explicar, porém, acabo sorrindo meio bobo, porque é a primeira vez que falo alguma coisa e não trocamos farpas. Uma satisfação se instala em mim, enquanto corro na chuva em direção ao estábulo, e pego meu cavalo. Talvez as coisas possam ser diferentes, e gosto de como está indo.

Quando chego ao campo, encontro a bagunça que o gado fez, e mudo meu foco para a situação, satisfeito que quando eu voltar, o pavãozinho vai está na minha casa, e poderei ter mais alguns diálogos satisfatórios, e talvez encontramos algum ponto de equilíbrio.

...

NOTA DA AUTORA:

— estão gostando?! Eu estou amando. Ainda mais porque o próximo capítulo terá participação especial. 💅🏻

— nosso cavalinho xucro está caindo em si. 😍 Tão emocionante.

— Ao que parece, vou conseguir atualizar apenas nos finais de semana, mas, fico feliz por está conseguindo isso. ❤️😅

Beijos e até o próximo capítulo.


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