POV Camus

179 9 0
                                    

Eu estava com a cabeça dando voltas. Meu filho! Meu filho tentou se matar! Meu Hyoga, meu menino! Ele tinha tentado acabar com a própria vida! Eu sequer sabia descrever o que estava sentindo. Era fato que aquela notícia me decepcionou. Hyoga sempre foi meio melancólico e sentimental, mas nunca havia chegado a esse extremo. Sacrificar-se em batalhas era completamente diferente de tirar a própria vida. Quando ele se dispôs a sacrificar-se em uma luta, ele tinha um objetivo, ele lutava por algo maior, digno. E não era como se ele estivesse esperando ser morto. Ele, além de lutar por algo justo, estava lutando pela sobrevivência também. E agora, depois de tudo que passou, depois de todas aquelas batalhas onde ele esteve lutando para continuar de pé, ele me aparecia com essa de, deliberadamente, tentar tirar a própria vida. Isso não entrava na minha cabeça! Isso era tão absurdo que eu sequer conseguia conceber que acontecera. Eu não o criei daquela forma. Não criei um covarde que fugia da vida daquela maneira. Aquele não era meu pupilo, aquele não era meu filho. Eu não ia aceitar aquele comportamento. Eu não podia aceitar aquele comportamento. Eu não podia perder meu menino! Meu filho podia ter morrido! E eu só saberia depois que o ato já estivesse consumado. Se Milo não estivesse aqui, se Milo não estivesse na hora, as coisas poderiam ter se tornado uma tragédia. E isso me revoltava! Não só porque Hyoga teve a ousadia de cometer esse ato debaixo do meu nariz, mas também porque eu não fiz nada para evitar. Ele já devia estar sofrendo com alguma coisa há muito tempo. Ele já devia estar carregando aquele fardo há um bom tempo. E eu não percebi. Eu deixei aquilo passar. Eu não podia acreditar que cometera uma falha tão absurda! Era tão absurda quanto a tentativa de suicídio de Hyoga.

Eu coloquei minhas mãos na cabeça e sentei-me na cama, desesperado. O desespero tomou conta de mim. Eu não sabia de nada! Eu não sabia o que estava perturbando meu filho! E ele não queria me contar. Deixei que a revolta tomasse conta de mim e agi friamente. Ao invés de demonstrar compreensão e carinho, tentei impor minha autoridade. Mas eu estava desesperado! Eu estou desesperado! Eu estou perdendo meu filho! Ele está se afastando de mim! Ele está se trancafiando dentro da escuridão. E eu não consigo fazer nada. Não só porque ele não me deixa, mas também porque eu não sei de nada. Eu me sinto horrível. Eu não estava sendo um bom pai. Eu não estava sequer sendo um bom mestre. Eu não conseguia ajudar meu filho a passar por um problema. Qual era minha necessidade na vida dele? Qual era o meu papel na vida daquele garoto? Será que ele não me queria como pai? Será que eu estava forçando uma coisa que ele não queria? Eu não conseguia entender mais nada! Aquilo não só me deixou confuso, como também magoado. Hyoga não confiou em mim. Ele estava descartando completamente a possibilidade de que eu poderia ajudá-lo. Ou ele simplesmente não acreditava que eu servia de ajuda? Por que ele estava fazendo isso comigo? Por que estava me excluindo de sua vida daquela forma? O que estava acontecendo? Será que minha ausência fez ele se afastar tanto assim de mim? Será que minha ausência afetou sua forma de me ver em sua vida? Eu não conseguia parar de pensar. Minha mente era uma explosão de sentimentos. Revolta, decepção, mágoa, insegurança, compaixão. Estava tudo tão confuso.

Senti a mão de Milo em meu ombro. Levantei meu rosto e ele olhava para mim com carinho. Aquele olhar trouxe um pouco de conforto ao meu coração.

– Camus, não acha que se precipitou? Hyoga está passando por uma fase difícil, meu amor. Forçar não será pior? – ele me perguntou com carinho.

– Eu não sei, Milo. Eu não sei o que fazer. E eu detesto essa sensação de impotência. Eu preciso que Hyoga me fale o que está acontecendo. Eu preciso acabar com o que o levou a cometer tal imprudência. Eu não posso permitir que meu garoto continue com pensamentos autodestrutivos. – falei um tanto quanto angustiado.

– Mas você acha que forçá-lo dessa forma é a melhor solução? Eu não sei, Gelinho. Você sabe como Hyoga é teimoso. Essa situação pode perdurar por muito tempo e talvez seja pior tanto para ele quanto para você.

Aprendendo a ser paiOnde histórias criam vida. Descubra agora