– Eu... tentei me matar. – eu disse e logo abaixei a cabeça.
Senti Milo me apertar um pouco mais naquele meio abraço. Talvez por ter presenciado o ato, aquilo também era muito difícil para ele. Mas nem se comparava com a dor que existia em meu peito. Eu estava ali, me expondo daquela maneira para a pessoa que eu mais admirava. Eu tinha plena consciência da minha fraqueza. Quando pensei em fazer aquilo, eu já estava no auge do desespero. Não sei como aguentei esse tempo todo. O fato é que eu sabia o quanto aquele era um ato covarde, patético e imperdoável. Se eu tivesse morrido, eu sabia muito bem o que me aguardava. Mas eu sobrevivi. E encarar meu mestre era pior do que qualquer um dos seis mundos do inferno. Não porque ele era rígido ou coisa do tipo. Talvez ele resolvesse me punir, sim, mas não era isso que me incomodava. A questão é que sempre considerei Camus um modelo a se seguir. Era meu ídolo, meu herói, meu... pai. Eu sempre fiz de tudo para que ele tivesse orgulho de mim. Fui capaz até mesmo de ignorar o meu enorme sentimento por minha mãe e batalhar contra ele. Tudo porque eu queria que ele se orgulhasse de mim. Que ele visse que, mesmo sendo fraco, eu ainda era digno. Mas então vieram os tempos de paz. E eu não consegui evitar que meu lado depressivo viesse à tona. Eu não fazia por mal. Só que aquela paz sempre me lembrava do quão desgraçada foi a minha vida. Não me arrependo de nada que fiz como cavaleiro de Athena. Mas, e agora? Athena não precisava mais de cavaleiros. Os tempos eram de paz. Eu dediquei minha vida toda a isso e agora... O que eu faria? Minha vida já não era mais necessária. Eu não tinha mais objetivos de vida. E esse vazio que eu sentia só fazia com que eu sentisse falta da minha mãe. Aquele sentimento infantil de querer estar nos braços de minha mãe, voltava para minha mente. E era um sentimento tão forte, que foi capaz de dominar meu corpo e me fazer tentar cometer aquele ato vil. Eu me sentia péssimo por isso. Era difícil de acreditar que um cavaleiro como eu teve a ousadia de tentar aquilo. Justo eu que lutei pela vida, estava tentando acabar com a própria. Aquilo não tinha perdão!
Eu não ia chorar. Não na frente do meu mestre. Não depois do que eu tive a petulância de tentar fazer. O errado ali era eu. Eu não tinha sequer o direito de derramar lágrimas. Milo, por outro lado, já estava soluçando do meu lado. Era realmente surpreendente o quanto ele se apegou a mim. Claro que a recíproca é verdadeira! Mas eu não esperava que ele se apegasse a mim ao ponto de me chamar de filho. Eu nunca sabia o que dizer nessas horas. Eu também tinha vontade de chamá-lo de pai, embora ele parecesse mais com uma mãe. Mas se nem meu mestre eu conseguia chamar de pai, imagina o Milo. E eu tive muita sorte por ter sido ele a me flagrar. Quando ele chegou, eu ainda não tinha feito nada, apenas segurava a faca na altura do pulso. Mas então ele gritou meu nome e, por impulso, acabei cortando-me. Ele tratou logo de me auxiliar, estancando o sangramento. Não foi fácil, já que se travava de um lugar onde o fluxo de sangue era intenso, mas conseguimos. Depois disso ele me deu um baita sermão, que eu ouvi totalmente calado. Eu não tinha coragem de dizer nada, pois sabia que estava errado. Mas, esperei que ele fosse me punir ou algo do tipo, tudo que ele fez foi me abraçar e dizer que estava tudo bem. Foi a primeira vez que não aguentei segurar o choro. Eu tinha cometido aquele crime e ele me dizia que estava tudo bem no maior carinho possível? Deixei que as lágrimas molhassem a camisa dele, mas não expliquei meus motivos. Prometi para ele que não voltaria a tentar suicídio, mas que não queria revelar o que me levara àquela decisão. Ele concordou, embora detestasse quando eu fazia isso. Mas ele disse que se eu voltasse a tentar algo assim ou não observasse melhora em meu comportamento, ele contaria para meu mestre. Claro que depois dessa ameaça eu me virei para conseguir, pelo menos aparentar, uma melhora. Por isso fui atrás de Shaka. Ele parecia controlar muito bem os sentimentos através da meditação. Pensei que comigo também funcionaria. Mas aí aconteceu tudo aquilo hoje de manhã e lá estava eu, agora, tendo que expor essa coisa pavorosa ao meu mestre.
Continuei perdido em meus pensamentos, apenas esperando alguma reação. O silêncio tinha dominado aquele quarto. Ouvi passos em minha direção, já que estava de cabeça baixa. Senti que meu mestre se sentou ao meu lado e pegou em meu braço, deixando a cicatriz à mostra. Ele parecia analisar aquilo.
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Aprendendo a ser pai
FanficHyoga está enfrentando alguns problemas pessoais e Camus deve aprender a lidar com isso... Dessa vez como pai! AVISOS As personagens dessa fic não me pertencem!! Todos os direitos estão reservados ao titio Kurumada e à Toei Animation!! Contém Spank...