POV Hyoga

180 7 0
                                    

– Não me chame de filho. – eu falei cabisbaixo.

Então era isso. Era isso que Camus queria me dizer. Eu deveria estar feliz, não é? Eu deveria estar chorando de alegria nos braços daquele que sempre considerei um pai. E eu estava, sim, muito feliz. Aquilo era o que eu sempre quis ouvir de meu mestre. Finalmente eu tinha a certeza de que ele me amava. Mas por que agora? Por que depois de tudo que aconteceu? Se ele tivesse dito antes, talvez a minha reação fosse diferente. Mas agora minha mente estava um caos. Aquele dia tinha me mudado completamente. Eu me senti livre. Pela primeira vez eu me senti livre para ser o Hyoga que eu era. Sem máscaras, sem fingimento, sem ter que ser perfeito. E eu gostei da sensação. Eu queria experimentar mais daquilo. Talvez assim eu pudesse encontrar um equilíbrio que desse sentido a minha existência. E acima de tudo, eu era livre de me sentir um peso para meu mestre. Eu não precisava mais me culpar por exigir algo de meu mestre que ele não poderia me dar. E agora? Ele disse que me amava como filho. Ele estava me oferecendo aquilo que eu achava que não tinha. Mas o Hyoga que eu era naquele momento, já não era o Hyoga que Camus tanto amava. Eu mostrei pra ele o lado que sempre fiz questão de esconder. Mesmo que ele aceitasse aquele novo Hyoga, eu voltaria para a prisão dentro de minha mente. Eu, inconscientemente, voltaria a querer ser perfeito para agradar meu mestre. Talvez ainda mais, afinal, eu queria poder retribuir aquele sentimento à altura. Eu queria ser o filho que ele merecia ter. Mas eu não era. E voltar a ser aquele Hyoga certinho só me causaria mais angústia. A vida já era um fardo pesado demais para mim. Eu não queria mais exigências.

Senti lágrimas correndo em minha face. Meus olhos já ardiam. Sentia minha cabeça pesada, zonzo como se eu fosse desmaiar. Podia ser efeito do álcool, mas não bebi tanto assim para ter esse tipo de reação. Era o stress! Eu estava dividido entre ser eu mesmo e ser aquele que Camus queria. Eu não sabia o que fazer. Por que ele não disse aquilo antes? Por que esperou até que eu descobrisse o quanto a liberdade de ser era atraente? Eu não queria magoar meu mestre. Eu não queria fazer nada do que eu fiz. Eu não queria tê-lo desobedecido, nem o desrespeitado, nem tê-lo afrontado. Aquilo me machucava também. Eu amava meu mestre. Eu amava meu pai. Eu não queria que esse novo Hyoga fosse um problema para ele. Eu não queria mais causar problemas para ele. Aquele vazio ainda estava dentro de mim. Eu não queria preocupá-lo. Ele passou por maus momentos tanto quanto eu. Ele estava sofrendo tanto quanto eu. Nunca pensei que fosse ouvi-lo dizer que estava acuado e sem reação, inseguro. Camus sempre foi seguro de si, centrado, firme. Vê-lo tão vulnerável por minha culpa, não era fácil. Eu fiquei sem reação também. Foi um choque. Eu era o causador daquilo. O verdadeiro Hyoga é que estava perturbando meu mestre daquela forma. Não! Não! Não! Eu não podia viver daquela forma. Eu não conseguia ser o filho que meu mestre merecia e também não conseguiria viver sabendo que eu causava aquele tipo de sofrimento na pessoa que eu mais amava. O que eu faria? Como sair dessa situação sem magoar Camus ainda mais?

Levantei da cama e encarei meu mestre.

– Não posso! Não posso ser seu filho! Eu não consigo! – disse bastante aflito.

– Por que não, Hyoga? O que te impede? O que tem de errado? – meu mestre perguntou com o semblante já desesperado.

– Eu... – coloquei a mão direita em meu rosto, como se estivesse entrando em colapso. – Eu não agüento mais essa vida. Eu não agüento mais fingir ser aquilo que eu não sou. Qual o sentido disso? – eu comecei a rir, minha cabeça latejava cada vez mais.

– Por que está fingindo ser aquilo que não é? Você não precisa fingir, Hyoga! Eu amo você de qualquer jeito! – Camus começou a vir em minha direção.

– NÃO! – gritei dando um passo para trás. – Se eu não for perfeito, se eu não for aquele Hyoga, você vai chorar de novo. Você vai sofrer de novo! Eu não quero isso! Eu... eu...

Aprendendo a ser paiOnde histórias criam vida. Descubra agora