POV Hyoga

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Eu não ia ficar esperando o meu mestre descer para tomar café comigo. Eu já estava cansado de ter que ficar encarando a mágoa e a decepção em seu frívolo olhar. Aquilo acabava comigo. Eu não aguentava mais. A pressão estava muito pesada sobre meus ombros. Seja perfeito! Seja perfeito! Seja perfeito! Chega! Não suportava mais isso! Eu não podia me matar, prometi que não o faria. Mas, com as coisas daquele jeito, estava difícil manter a promessa. Minha vida já não tinha sentido, muito menos sem meu mestre. Sim, sem ele. Porque nessa última semana, mesmo estando em casa, era como se eu não existisse para ele. Acho que ele não tinha ideia do quanto aquilo me machucava. Sempre que ele me olhava com aqueles olhos desaprovadores, eu sentia uma vontade enorme de me prender em um esquife de gelo e ficar lá por todo o resto da eternidade. Eu já havia perdido a conta de quantas vezes segurei o choro quando meus olhos encontraram com os dele. Não sabia sequer de onde tirei forças para aguentar aquela torturante semana. Talvez em Milo. Ele tem sido tão gentil, tão amável, tão... pai. A esperança que eu não encontrava nos olhos de meu mestre, tinha de sobra nos olhos de Milo. O amor que eu não sentia em Camus, transbordava em Milo. Talvez isso tenha me permitido ficar de pé até agora. Eu queria retribuir. Eu queria dizer a ele que o amava como um pai. Mas do que adiantaria? Mesmo que Milo me considerasse um filho, se Camus não entrasse em sintonia, seríamos apenas uma família completamente disfuncional. Isso se pudéssemos nos considerar uma família. Eu também não acreditava que se Milo tivesse que escolher entre mim e Camus, ele me escolheria. Claro que não! Foi tão sofrido ele conseguir, finalmente, ficar com meu mestre. E eu também não teria coragem de pedir algo assim a ele. Preferia sair de cena. Quem sabe eles não encontrassem alguém que os dois pudessem chamar de filho?! Aquele pensamento apertava meu coração de tal forma que eu chegava a ficar sem ar. Se eu os perdesse, para onde iria? O que eu faria? Que outro sentido eu poderia esperar da vida? Bem, se eu os perdesse, pelo menos não teria mais que cumprir a promessa. Então poderia voltar para os braços da minha mãe.

Desci as escadarias bem devagar. Não tinha pressa para treinar. Não ia fazer a menor diferença em tempos de paz. Mas como cavaleiro eu não poderia relaxar. Eu tinha que estar preparado para qualquer coisa. Parecia até hipocrisia pensar assim depois de tentar suicídio. Eu era forte o suficiente para encarar qualquer tipo de batalha, estava pronto para entregar minha vida em prol da humanidade, mas não tinha força para encarar a rejeição. Só podia ser piada! Eu tinha orgulho suficiente para me gabar de minha força, mas não tinha dignidade para dizer que era forte. Eu não podia culpar meu mestre por ter se decepcionado comigo. Era realmente patético. Ele não merecia um pupilo como eu, quanto mais um filho. Senti um par de lágrimas teimando em cair por meu rosto. Fiz questão de limpar logo. Não queria que mais ninguém me visse daquele jeito insignificante. Só o meu mestre já foi o suficiente para me destroçar. Não precisava que mais ninguém o fizesse. Passei por todas as casas até chegar à arena. Não tinha ninguém ali. Claro! Sábado de manhã. Quem mais estaria ali? Fui até o centro e fiquei sem saber o que fazer. Já que ninguém iria até ali, eu poderia meditar. Se eu congelasse a arena, não faria diferença. Não hoje. Sentei-me na posição que Shaka havia me ensinado. Eu queria levar minha mente à outra dimensão, se possível. Se meditação não me ajudasse, quem sabe Saga pudesse. Mas não pediria ajuda antes de tentar resolver o problema por mim mesmo. Fechei meus olhos e esvaziei minha mente. Senti meu cosmos subir, mas não importava. Eu queria um pouco de paz, antes que eu cometesse alguma besteira. Esvaziar a mente. Esvaziar a mente. Esvaziar a mente.

– Ei! Acorda!

Assustei-me! Abri os olhos com o coração batendo forte. Minha visão estava meio desfocada.

– Não vai congelar a arena de novo. Deu o maior trabalho da última vez.

Esfreguei um pouco os olhos. Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Aquela voz grave que aquecia a alma.

Aprendendo a ser paiOnde histórias criam vida. Descubra agora