Eu subi para o quarto do meu mestre lentamente. Eu não queria ter aquela conversa. Eu não queria saber mais nada, não queria escutar mais nada. Por que Camus tinha que aparecer? Eu estava praticamente no paraíso com Ikki. Eu poderia viver daquele jeito para sempre. Se fosse daquele jeito, eu não teria problemas para cumprir minha promessa de não tentar me matar de novo. Eu confiava que Ikki me faria feliz e eu a ele. Sem mais ninguém. Só eu e ele. Eu teria o tempo e a segurança necessários para esquecer tudo aquilo que me perturbava, para organizar toda a bagunça que havia dentro de mim. E, quem sabe, um dia eu poderia voltar para o Santuário e encarar meu mestre como ele desejava, como um mestre e nada mais. Por quê? Por que ele estava fazendo aquilo? Tudo que eu queria era o bem de todos. Eu só queria parar de incomodá-lo com aquela pressão ridícula que eu fazia, esperando que ele fizesse algo por mim, que ele tivesse uma consideração que ele não tinha. Ele poderia viver com Milo sem ter um estorvo por perto. Um estorvo, sim! Era isso que ele pensava de mim! Era isso que eu era naquela casa. Não éramos uma família! Camus e Milo só estavam comigo por ordem de Athena. Quer dizer, lógico que era isso! Depois de anos eles finalmente poderiam viver como um casal. A última coisa que eles precisavam, que eles queriam, era alguém no caminho deles. E eu estava sendo esse alguém. Nada mais que um empecilho. Como se já não bastasse essa existência sem sentido, agora ela se tornou um peso completamente desnecessário. Era por isso que eu queria me matar. Eu sabia que isso aconteceria. Quando algo existe onde não há necessidade, acaba se tornando algo incômodo. Eu não queria representar isso, ainda mais na vida de meu mestre. Mesmo que não fosse recíproco, eu o amava. Mesmo que isso fosse apenas uma perturbação para ele, eu o considerava meu pai. E eu não queria causar qualquer tipo de problema para ele. E quanto mais eu percebia que estava perturbando, mais agoniado eu ficava, mais eu sofria. Aquela casa já não era meu lugar. Não enquanto Camus e Milo estivessem ali. Eu ainda era o cavaleiro de Cisne, então não tinha motivos para que eu morasse ali. Meu lugar era na Sibéria, perto da minha mãe. Talvez Ikki não fosse para lá comigo, mas, mesmo que não fosse a Sibéria, qualquer lugar seria melhor do que a décima primeira casa do Santuário.
Eu já estava no quarto, parado no meio dele. Eu estava me sentindo perdido. Eu não sabia o que fazer. Aquela angústia estava crescendo dentro de mim. O desespero estava começando a tomar conta. O vazio se espalhava pelo meu corpo. Eu ainda estava tremendo. Era mais do que eu conseguia segurar. Eu consegui dizer o que queria para meu mestre, mas eu não estava feliz com isso. Pare de mostrar fraqueza! Pare de mostrar o quanto é imperfeito! Ele só vai se decepcionar ainda mais! Era o que se passava em minha mente. Se alguma hora eu tive a esperança de que as coisas mudassem, como um milagre, agora eu tinha a certeza de que eu permaneceria daquele jeito para sempre. Meu mestre nunca me perdoaria depois de toda aquela falta de respeito. Ele detestava ser desrespeitado. Sempre deixou isso muito claro. E eu sabia que ele se irritaria se eu agisse como um adolescente rebelde. E por um lado eu queria que ele se irritasse. Eu queria que ele pudesse se irritar tanto ao ponto de pedir para que eu não fizesse mais parte de sua vida. Por outro lado, eu tinha medo disso. Eu estava cavando minha própria cova. Se para ele seria fácil me ter longe de si, para mim seria como o inferno. Eu vi minha mãe morrendo na minha frente e estava matando dentro de mim o homem que sempre vi como pai. Não seria algo simples. Superar algo assim seria quase impossível. Eu apenas o fiz porque Ikki estava do meu lado. Tê-lo ali me trouxe uma coragem que eu não sabia que existia. Era como uma garantia de que eu sobreviveria. Mas... Agora ele não estava ali! E o que eu faria? Eu permitiria que aquela coragem permanecesse? Ou será que a covardia tomaria conta de mim mais uma vez? Sentei-me na cama com o rosto em minhas mãos. O que eu faria? O que aconteceria? Meu coração batia forte e rápido. Era como um grito silencioso de socorro. Eu tinha que sair dali. Eu tinha que dar um jeito de evitar aquilo.
Ouvi a maçaneta se mexendo. Logo a porta se abriu. Eu não tive coragem nem de erguer meu rosto. Apenas esperei que algo acontecesse. Pude ouvir cada passo sincronizado com as batidas em meu peito. Senti que ele se sentou ao meu lado. O cheiro de meu mestre, que eu tanto conhecia, invadiu minhas narinas como droga. Quanto mais perto ele ficava, mais meu peito se apertava. Aquilo era demais para mim. Eu não ia aguentar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aprendendo a ser pai
FanfictionHyoga está enfrentando alguns problemas pessoais e Camus deve aprender a lidar com isso... Dessa vez como pai! AVISOS As personagens dessa fic não me pertencem!! Todos os direitos estão reservados ao titio Kurumada e à Toei Animation!! Contém Spank...