POV Milo

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Eu acordei mais cedo aquela manhã. Eu queria preparar o café da manhã para minha família. Ok, não tão família nessa última semana. Camus continuava rígido com Hyoga, mesmo estando de férias. Ele estava, claramente, magoado com toda aquela situação. Eu poderia até dizer que ele estava mais magoado do que decepcionado. No dia em que ele soube do ocorrido, voltou para casa bem tarde. Ele me contou o que conversou com Dohko. Eu concordava com aquela hipótese que eles comentaram. Hyoga realmente poderia estar sentindo um vazio por conta da vida que estávamos levando. Camus já havia me contado, há muito tempo, a história de Hyoga antes de se tornar cavaleiro e que por conta dela que Hyoga era tão melancólico. Nada mais normal que em tempos de paz ele se sentisse vazio. Camus parecia ter aceitado aquela explicação, que mesmo sem ser confirmada, parecia a verdadeira. Mas o que meu marido ainda não tinha entendido é que aquele vazio que Hyoga sentia só aumentaria caso ele continuasse evitando-o. Sim, Camus estava evitando Hyoga de todas as formas possíveis. E isso era torturante até para mim. Hyoga ia para a escola, voltava para casa, almoçava, ia treinar, voltava para casa e se trancava no quarto. Camus não ia lá e ele também não se atrevia a sair do quarto. E os dois passaram a semana assim. Nos momentos em que eles se encontravam, o clima ficava tão pesado que todas as minhas tentativas de alegrar o ambiente foram em vão. Aquela situação estava me incomodando de uma forma que eu não conseguia nem descrever. Tanto o meu Gelinho quanto meu Patinho estavam sofrendo. E eu me sentia inútil por não poder fazer nada.

Hyoga estava visivelmente sofrendo. Eu olhava para aquele par de diamantes e podia sentir claramente sua dor. Ele tinha medo de perder Camus, tinha medo de que aquele erro afastasse Camus de si. A admiração que Hyoga tinha pelo mestre era algo inimaginavelmente grande. Seus sentimentos eram tão perceptíveis. Eu sabia muito bem que ele via Camus como o pai que nunca teve e sempre sonhou ter. Era quase como se ele colocasse Camus em um altar. Era um carinho tão grande que eu me comovia facilmente só de vê-lo naquele estado por conta daquela situação. E, por outro lado, eu me irritava. Não com Hyoga, mas com Camus. Não podia ser que ele era tão cego ao ponto de não perceber o quanto agir daquela forma estava ferindo Hyoga. Eu estava com vontade de dar um soco na cara do meu Gelinho para ver se ele acordava para vida. Se ele quisesse poderia resolver essa situação tão fácil. Por que ficar prolongando aquele sofrimento? Por que permitir que Hyoga continuasse sentindo aquele vazio? Eu não conseguia entender. Quer dizer, sei que foi um choque para ele descobrir as coisas, ainda mais daquela forma. Mas ele não podia continuar ignorando a situação. Ele não podia ficar adiando aquela conversa. As circunstâncias não eram nada favoráveis para aquele tipo de atitude. Hyoga podia não suportar e tentar aquilo de novo. E se não houvesse ninguém por perto? E se ele realmente conseguisse se matar? Camus se arrependeria amargamente depois. Eu tenho certeza que ele sabia disso. Então por que continuava sem fazer nada? Eu nunca tinha visto meu Gelinho tão acuado antes, sem saber o que fazer. Eu não conseguia imaginar o tamanho da mágoa que ele estava sentindo. Provavelmente era grande, afinal ele detestava situações mal resolvidas. Se ele não estava conseguindo resolver é porque tinha algo muito forte o impedindo. Eu sabia que ele ficaria abalado, pois Hyoga sempre foi muito correto e nunca fizera algo daquela magnitude. Só não imaginava que ele ficaria tão abalado ao ponto de se afastar daquela forma. Confesso que até de mim ele estava um pouco arredio. Eu não queria forçar a situação, mas aquilo já estava me agoniando.

Terminei de fazer o café da manhã. Estava satisfeito com meu trabalho. Hyoga cozinhava bem melhor que eu, mas eu também sabia me virar. E muito bem, por sinal. Sorri e fui preparar a mesa, sorrindo. Hoje era sábado. Hyoga não tinha aula, só sairia para treinar. Mas eu não permitiria que ele se enfurnasse naquele quarto o dia inteiro. Hoje eu fazia questão que ele ficasse comigo e com Camus. E ai do Gelinho se ele fosse contra! Eu já estava cansado daquilo. Hoje eu resolveria aquela situação, não importava como. Terminei de arrumar a mesa e me dirigi até as escadas para acordar meus dois teimosos. Quando já estava na ponta da escada, vi meu loirinho descendo coçando os olhos e bocejando. Sorri largamente. Eu o achava uma graça quando acordava, parecia uma criança. Vi seus olhos inchados e vermelhos. Ele provavelmente passou boa parte da noite chorando. Aquilo doía. Eu queria fazer alguma coisa para que ele voltasse a sorrir.

Aprendendo a ser paiOnde histórias criam vida. Descubra agora