Prólogo Improvável

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Karina estava com pressa para chegar ao restaurante; afinal, era um dia importante para ela. Um chefe renomado iria visitar seu espaço e provar de suas comidas mais comentadas e avaliar o Caldo Natural, sua marca em sociedade com o seu melhor amigo, Rodrigo. Ele tinha um leve interesse nela, mas os dois já haviam conversado e ela tinha deixado bem claro que entre eles a relação era de irmandade – só não sabia muito bem se isso estava claro para ele; mas, enfim!

Saiu correndo de seu apartamento e desceu até a garagem avoada, sem nem cumprimentar as pessoas direito. Aquilo não era de seu feitio, geralmente era querida e simpática com todos a sua volta; porém, naquele dia em específico, ela estava estressada. Para completar, a TPM. Aqueles dias. Estava nervosa. Preocupada, com medo de alguma coisa (ou tudo) dar errado. Por mais que sempre recebesse elogios, ela sempre ficava insegura.

E não falo apenas da vida profissional. Karina não sabia reagir a elogios e menos ainda concordar com algum deles; por isso, quando seu amigo disse estar apaixonado por ela, a mulher custou acreditar. Ou quando suas amigas diziam o quanto era linda, ou quando homens demonstravam certo interesse... era difícil acreditar naquilo.

A chefe havia crescido em um ambiente difícil. Ela era filha única e, diferente de muitos filhos únicos que são mimados, ela apenas recebia cobranças. O século em que estamos, a era da facilidade que não existia na época de seus pais só fez com que ela fosse encarregada de ser a filha perfeita e de, durante muito tempo, realizar os sonhos que eles tinham.

Sempre dedicada, mas quando conseguia alguma coisa, não era mais do que a obrigação dela. Nada de congratulações, era apenas sua obrigação.

Chegou a começar a cursar Direito como seus pais queriam, mas em um semestre ela não conseguiu aguentar e, depois de uma dose de coragem, resolveu ter uma conversa séria com eles. Tinha se esforçado e passado em um vestibular para um curso que não queria fazer.

Sua real paixão era a Gastronomia. Amava estar dentro de uma cozinha, inventar receitas, pratos diferentes... No fim, seus pais acabaram ao menos aceitando; sabiam que já não podiam mais ir contra ela nesse sentido. E ela conseguiu. Se formou em Gastronomia, Hotelaria e fez pós-graduação em Marketing e Comunicação Publicitária. Depois disso, fundou a Caldo Natural que já estava ganhando alcance mesmo até em regiões fora do Brasil.

Profissionalmente, se sentia plena, realizada e feliz. Estaria mais feliz ainda se, mesmo com o trânsito que enfrentava, conseguisse chegar ao restaurante no horário que queria.

Daniel, por sua vez, estava atrasado para uma entrevista (bom, isso não era bem uma novidade). Se não fossem as mensagens de seus amigos-irmãos relembrando isso, ele não estaria tão nervoso. Mas, definitivamente, no último mês ele estava mais atrasado que o normal para os seus compromissos e não existia motivo aparente.

Corria contra o tempo e contra as leis de trânsito, por mais que não fosse de fazer isso. Nascimento era um homem tranquilo, mas quando estava atrasado e todos pareciam fazer questão de lembrá-lo disso... digamos que ele não gostava muito.

Ao ver que estava próximo do local onde desejava chegar, resolveu atender ao chamado de Anderson que aparecia em sua tela pela sétima vez. Mas, quando abaixou o olhar para pegar o aparelho, não se deu conta de que o semáforo fechou e continuou.

Karina, com seu nervosismo, também não viu que um motorista ignorou o farol vermelho e avançou. Resultou em uma batida.

Leve. Talvez até demais comparadas as que são consideradas normais no nosso cotidiano.

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