Rola Um Love

Capítulo três

Karina nem percebeu que deixou cair seu documento no carro do comediante quando pegou a chave para descer. Mas ele viu assim que chegou em casa. Deu risada sozinho. Provavelmente, teria que ver a mulher no dia seguinte também, justamente no dia em que, teoricamente, não precisariam se ver.

Já deitado em sua cama, Daniel acessou o Instagram para mais uma vez publicar a agenda do mês que viria: junho. Fez isso no próprio feed e na conta dos Barbixas, indo em seguida repostar a maioria das coisas nas quais o tinham marcado do Improvável da noite anterior.

Nisso, chegou a uma foto que Samara postou. Era dos três. Ele repostou nos stories e depois foi direto no perfil da mulher de Elídio. Sabia que teria alguma foto com a senhora estressada do trânsito. Ele acertou. A morena tinha feito um layout de quatro fotos com a amiga enquanto assistiam o espetáculo.

A última foto mexeu com ele mais do que ele gostaria. Era descontraída; a intérprete de Simone em Sete Pecados parecia ter tirado aquela foto sem Karina perceber, pois ela não olhava para a câmera. Olhava para frente. O sorriso estava aberto, de orelha a orelha e os olhos castanhos esverdeados pareciam brilhar pela iluminação do palco.

Talvez fosse o fato de estar acostumado, em menos de uma semana, a ver a chefe de cozinha com a cara mais fechada que o sorriso dela despertasse nele algo diferente. Olhou para aquelas fotos e não resistiu tirar um print para deixá-las salvas.

"Finalmente minha chef favorita veio assistir ao Improvável comigo. Sempre bom rir com você, @karinazoca ❤️ te amo!!", escreveu Samara.

Ele inclinou a cabeça para o lado como se alguém o estivesse observando e, como se tivesse constatado que não havia ninguém, clicou no nome da mulher que parecia assombrar seus pensamentos.

A princípio, achou o Instagram dela entediante.

Comida. Comida. Rodrigo. Comida. Comida. Restaurante. Caldo Natural. Comida. Rodrigo, mais algumas vezes. Ah, e comida também.

Isso era o que estava postado pelo menos nos últimos três anos. Ele rolava a tela sem expressão nenhuma no rosto, até encontrar o que chamariam de "Karina do antigo testamento". Isso sim o interessou. Fotos de viagens pelo país na maioria, sim, mas pelo menos tinham algumas fotos dela – e ele viu cada uma até chegar no final do feed.

Por algum motivo, ele sorriu de lado quando entrou nos destaques da cozinheira. Nem percebeu quando, sem querer, reagiu a um story da mulher.

Era engraçado o fato de ele achar ela mais bonita pessoalmente do que pelas fotos que sem dúvidas estavam cheias de filtros do Snapchat. Na época das publicações, realmente os filtros estavam na moda.

Espera, disse que ele a achava mais bonita pessoalmente? Disse que ele a achava bonita? O próprio Daniel negou com a cabeça como se quisesse afastar qualquer tipo de pensamento e franziu o cenho como se perguntasse a si mesmo o que estava fazendo bisbilhotando o Instagram de uma mulher absurdamente chata quando deveria estar dormindo.

Eram quase quatro horas da manhã. Praticamente deu um salto quando olhou para o relógio no canto do celular e se sentou na cama.

E se eu contasse que o susto foi pelo fato de lembrar justamente de Karina e que ele tinha se encarregado de a levar todos os dias para o trabalho até que o carro dela ficasse pronto; acreditariam?

Nascimento enfim soltou o ar quando veio à sua memória o fato de ser dia de folga da mulher e se deitou novamente, se julgando besta por não conseguir tirar ela dali.

Da sua mente.

Quando perguntou se a mulher havia pensado que ele teria coragem de fazer aquilo foi se referindo à brincadeira que fez de deixá-la no caminho. Mas aquilo o fez pensar depois. Ele sequer conseguiu concluir a brincadeira porque a proximidade entre eles não deixou.