Capítulo oito

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A maneira como Daniel a tratava, com toda a delicadeza e cuidado, sempre sussurrando elogios em seu ouvido; a forma como ele segurava em seu cabelo e apertava seu corpo nas partes certas; tudo a fazia se sentir querida e desejada como nunca antes. Era como se a alma dela tivesse pedido para que ele lhe cuidasse e, de alguma forma, pela alma dele foi escutada – se sentia protegida. Finalmente estava em casa.

Estava deitada em seu peito, ouvindo as batidas aceleradas do coração dele. Sorria com toda aquela batucada, e mantinha os olhos fechados como se quisesse gravar aquilo como a mais bela música que já havia escutado na vida. O braço estava no peitoral dele, com a mão já próxima ao queixo, onde por alguns segundos os dedos roçavam na barbixa do comediante, brincando com ela.

Quanto ao improvisador, fazia um cafuné gostoso nos cabelos e nuca da cozinheira, a fazendo suspirar. Vez ou outra, beijava sua cabeça. E em alguns momentos, a abraçava como se não acreditasse no que tinha acabado de acontecer ou como se existisse a possibilidade de ela sair dali.

Aquilo era impossível.

Não queriam dizer nada, estavam quase adormecendo. Há muito tempo não sentiam tudo o que estavam sentindo, e se permitiram naquele momento aproveitar.

Enquanto fazia movimentos circulares com o dedo no peitoral do grisalho, Karina soube: também estava apaixonada por ele. E por acaso tinha como não estar? Sua boca se curvou num sorriso assim que constatou. Lá no fundo, ela sempre soube, mas é bem melhor quando se consegue admitir.

—Como você descobriu? - ela perguntou, baixinho. Tinham chances de o homem estar dormindo, mas eram mínimas.

—O quê? - a voz dele saiu meio rouca.

—Como você descobriu? - ela repetiu, entendendo que ele não havia escutado direito a pergunta.

—Descobri o quê? - franziu o cenho.

—Você sabe, Daniel.

—Seu aniversário? Foi a Samara e o Marcão que... - o comediante interrompeu a própria fala quando viu a mulher se inclinar para poder olhar para ele, incrédula.

—Você é lerdo assim mesmo ou se faz? - ela se segurava para não rir, e ele percebeu.

—É sério mesmo que vai me espinafrar até aqui? - fez uma careta, apontando a cama. Ali, ela riu, abaixando a cabeça.

—Você ainda não me respondeu. - voltou a olhar para ele.

—Sobre o quê exatamente você estava perguntando? Porque eu...

—Como você descobriu que estava apaixonado por mim. - ela falou, de uma vez, num fôlego só. A iluminação estava meio baixa, mas ele podia jurar que a chefe de cozinha corou só por dizer aquilo.

Mas, além disso, o olhar dela era intenso, buscava respostas. Era como se o encarar da mulher quisesse penetrar a alma dele. Por alguns segundos, o homem se perdeu ali. Queria dizer “por isso”, mas pensou que soaria muito brega, então resolveu ganhar tempo para se explicar.

—Ah, isso! - balançou a cabeça. —Mas quem disse que eu estou apaixonado por você? Eu disse? - franziu o cenho, se fazendo de desentendido, enquanto ela o encarava com uma expressão de tédio, apesar do riso querendo se formar em seus lábios.

Ele respirou profundamente, pensando em qual resposta seria menos emocionada. Porque tudo o que ele pensava para dizer era tão grande quanto o sentimento que tomava conta dele. Chegava a parecer bobo. Se ele soubesse que o coração dela não se importava com o quão brega ele pudesse ser, pela necessidade de ouvir, ele diria tudo o que queria muito mais facilmente.

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