Capítulo dois

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Daniel acordou mais cedo que o normal; se é que realmente tinha conseguido dormir. Por algum motivo, ele estava gostando daquelas implicâncias com a cozinheira e queria que elas fossem levadas adiante. Surpreso com as coincidências, começou a pontuá-las sozinho sentado no sofá de sua casa.

Primeira: os carros batendo.
Segunda: eles se encontrando no restaurante.
Terceira: ela era a dona do restaurante que um de seus melhores amigos e a mulher dele costumavam ir; consequentemente, amiga de Samara há anos.
Quarta: os dois moravam no mesmo bairro.

Sendo isso, ao mesmo tempo: cômico se não fosse trágico e trágico se não fosse cômico. Mas, de certa forma, ele sentia que ela também gostava daquilo. E com certeza provocaria ela com isso quando a encontrasse no mesmo dia.

—Oi, Zé, bom dia! - saudou o mecânico assim que ele o atendeu.

—Bom dia, meu amigo! Tudo bem? - respondeu de forma simpática. —Em quê posso ajudar?

—Então... - estalou a língua no céu da boca, se levantando para ir a cozinha. —Eu acabei batendo em um carro terça-feira...

—Tá arteiro, hein moço?

—Mais ou menos. - soltou um riso nasal. —Foi uma falta de atenção de ambas as partes. Mas a mulher é meio revoltada...

Meio’ é elogio, pensou, se permitindo rir mais uma vez antes de concluir o raciocínio.

—Daí, prometi arcar com o prejuízo dela. Deu uma amassada na lateral direita, então eu queria...

—Ah, entendi! - o interrompeu. —Pode trazer o carro da moça aqui e quero ver o seu também, impossível que não tenha sido prejudicado.

—Ficou um pouquinho, mas o dela é mais urgente. - respirou fundo. —Daí semana que vem a gente vê o que faz com o meu.

—Tá certo. - assentiu. —Aqui a gente conversa melhor. Pode vir com os dois carros. Consegue vir agora pela manhã?

—Foi o que planejei. - concordou com a cabeça como se o amigo pudesse ver. —Vou falar com a dona do carro e daqui uma horinha apareço aí. Pode ser?

—Claro. Estou abrindo a mecânica agora, então qualquer horário antes das onze que você puder vir para mim está ótimo.

—Obrigado. - agradeceu.

—Por nada. Já sabe, o que precisar de mim é só me ligar ou vir aqui. Eu sou o Zé, pô. - os dois riram.

Meio que o era mecânico dos três Barbixas e Elídio fez uma homenagem ao amigo relembrando ele e seu bordão em um jogo de Realidade Paralela. 

Encerraram a chamada e não demorou muito para Daniel ligar para a sócia de Rodrigo Boschi.

—Alô, Daniel. - ela respondeu no segundo toque.

—Bom dia para você também! Te acordei?

—Bom dia. - a ruiva quase sorriu. —E não, você não me acordou. Não tenho nem cara de gente que acorda tarde.

—Isso foi uma indireta?

—Não, foi uma direta mesmo. - ele riu. —Mas o que foi?

—Esqueceu que eu disse que te ligaria antes de passar aí para te buscar? - provocou, pois lembrava que ela tinha dito que não tinha necessidade.

—Eu disse ontem que não precisava. - o barbixa mais velho riu outra vez enquanto ela se levantava do sofá. —Mas você vai para lá agora?

—Agora, agora, não... - negou com a cabeça. —Vou ajeitar umas coisas aqui e daqui uns quarenta e cinco minutos, uma hora, eu vou para lá. Daí ainda tenho que arrumar alguém para me ajudar a empurrar o seu carro até a mecânica...

Rola Um LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora