Dona Laura conhece Oscar

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- Garcia, esse braço sobe só no segundo tan, tan, tan da música. Se subir antes, vai perder o timing. E cuidado com a perna direita antes do salto. Adianta ela pra facilitar o levantamento.

Descabelada, suada e cansada.

Assim eu me encontrava, tentando respirar normalmente, ao ouvir as orientações do diretor do Los Angeles Ballet. Estávamos ensaiando Don Quixote no teatro, pois amanhã teríamos apresentação.

Eu estava aproveitando meus dias em L.A antes de viajar de volta a Medelín para cumprir com o máximo de apresentações que eu conseguisse. Bom, nós teríamos gravações no estúdio em L.A ainda antes de gravar na Colômbia.

A cabeça de Anne funcionava misteriosamente.

O filme não seria gravado na sequência "cronológica". Algumas partes do meio seriam gravadas agora, e outras partes do começo seriam gravadas em Medelín. Era confuso, mas na lógica da diretora fazia sentido. E eu só seguia o que ela mandava.

- Podemos passar na música mais uma vez? – Pergunto ao diretor e ele concorda.

Ao fim, satisfeitos com a performance do ensaio, o diretor libera a companhia para irmos embora. Me despeço do pessoal e ando até minha bolsa procurando meu celular.

Vejo algumas mensagens da Amanda, minha colega de elenco do filme. Ela era legal e estávamos nos dando bem, assim como Jorge, um outro ator que juntos, formávamos um trio de amizade.

Mas não eram suas mensagens que eu responderia agora.

"Passei até um café fresco pra nós." – Era a mensagem da minha mãe que vinha acompanhada com uma foto da garrafa térmica e sua mão fazendo um "joia".

"Se acalme. Já já eu chego aí". – É minha resposta.

Na outra conversa, encontro a mensagem de Oscar.

"Não esqueci de hoje. Estaremos lá por volta das 17h".

Sorrio com sua mensagem e mando um emoji piscando pra ele.

Olho pro relógio e era quase 16:30. Puxo rapidamente minha calça jeans da bolsa e troco minha saia de ensaio por ela. Calço minhas botas, coloco um casaco e ajeito meu coque.

Saio pelas ruas de L.A em direção ao ateliê da minha mãe. Fazia alguns dias desde meu retorno à cidade e Oscar havia combinado comigo de vir visitar o ateliê da minha mãe hoje.

Se ela ficou ansiosa?

Ansiosa é eufemismo.

Ela fechou o estabelecimento mais cedo, para dar mais privacidade ao ator e aparentemente até fez café para tomarmos lá.

- Oh, achei que era ele já! – Ela diz ao me ver entrando pela porta de vidro do ateliê. Vejo todas suas obras expostas e tudo bem arrumado para receber Oscar.

- É bom te ver também, mãe. Obrigada. – Digo irônica abraçando ela.

- Você eu vejo todo dia... – Ela resmunga dando risada e me abraçando de volta.

Retiro meu casaco, ficando com o collant a mostra e aproveito para me servir uma xícara de café. Eu amava o cafézinho fresco da minha mãe.

- Tomando antes das visitas! – Ela implica comigo enquanto mexe no computador do caixa.

- Eu sou sua filha. Sou mais importante.

- Será que ele vem com a esposa?

- Acho que sim. Ele me mandou uma mensagem dizendo "estaremos lá" no plural... – Digo assoprando meu café.

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