Nada discretos

40 1 1
                                    

- Toda vez que vocês chegarem na ponta do palco, mantenham o corpo levemente para a diagonal. Isso vai permitir que as linhas de vocês fiquem mais visíveis para o público.

As mãos do meu parceiro de trabalho seguram firme minha cintura, enquanto ouvíamos as palavras do diretor. Aproveitávamos essa pausa com as correções para podermos recuperar o folego. Seu tronco atrás de mim subia e descia tão rápido quanto o meu. É... estávamos cansados.

- Vamos do começo. – O diretor pede e nós nos preparamos na posição inicial. A música toca e iniciamos a coreografia do pas de deux de Don Quixote.

Eu amava esse ballet, mas tinha umas partes bem difíceis pra mim. Por isso eu prestava uma atenção redobrada nas correções do diretor e tentava aproveitar ao máximo os ensaios extras.

Depois de mais de uma hora ensaiando, o diretor nos libera. Estávamos só nos três na sala e quando os dois saem, eu aviso que vou ficar um pouco mais para passar meu solo. Na verdade, eu sempre fazia isso. Gostava de repassar as sequências sozinhas mais algumas vezes, quando eu tinha a sala só pra mim.

Me sento no chão com a garrafa de água em mãos, limpando meu suor do rosto com minha pequena toalha. O barulho da porta da sala de ensaio se abrindo me assusta, e eu logo encaro quem estava quem estava entrando na sala.

- Ué? O que está fazendo aqui? – Me levanto repentinamente sem evitar o sorriso nos lábios. Era instantâneo vê-lo e sorrir.

Oscar divide seu sorriso comigo e caminha em minha direção depois de fechar a porta.

- Cheguei de viagem e quis te ver.

Ele estava em Nova Iorque para uma campanha publicitária. Passou cinco dias lá e não sabia quando voltaria. Bom... ele voltou hoje para a minha alegria.

- Estou suada. – Eu aviso ele quando paro em sua frente.

- Eu não ligo. – Suas mãos me envolvem em um abraço forte, me tirando do chão. Dou risada quando ele começa a me rodar pela sala. Tudo isso era saudade?

- Como entrou aqui?

- Eu disse que era seu namorado e queria fazer uma surpresa. – Ele responde e eu o encaro com uma sobrancelha levantada.

- Você não fez isso...

- Tudo bem, eu não fiz. Mas eu disse que era seu amigo e eles deixaram eu entrar. Uma senhora simpática me guiou até essa sala.

- E você chegou faz tempo?

- Uns 10 minutos. Fiquei te vendo dançar pela janelinha da porta.

Todas as portas do prédio possuem uma abertura de vidro para podermos visualizar o interior do local.

- Ah é? E o que achou?

- Você é linda... minha nossa, como é linda dançando. – Ele diz em um tom provocativo aproximando seus lábios dos meus. Puxo seus cachos para mim e o beijo no meio sala.

Corríamos o risco de alguém passar pelo corredor e ver a cena? Sim. Mas estávamos contando com a sorte. E a sorte era minha em ter seus lábios colados nos meus.

- Humm... – Ele resmunga ao pararmos o beijo. – Minha parte favorita é quando ele te ergue e você joga a perna pra cima.

Dou risada da sua descrição do passo de ballet.

- Eu não jogo a perna. Eu a sustento. É muito diferente! – Corrijo sua fala mostrando para ele como o movimento era feito. Ergo minha perna esticada na lateral, chegando próximo a minha orelha. Ele olha abismado para a sustentação da perna, e brinca passando a mão envolta como se certificasse que não tem nenhum fio segurando.

Behind the scenesOnde histórias criam vida. Descubra agora