"it will pass"

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Ser aplaudida era uma das melhores sensações da vida.

Talvez essa fosse a grande diferença de fazer um filme e se apresentar nos teatros, no meu caso com o ballet: sentir o agradecimento do público ao final de cada seção. Receber seus longos minutos de aplausos e fazer inúmeras reverências.

Minha respiração estava ofegante por ter acabado de dançar um ballet de 2 horas. Mas mesmo assim, eu me ajoelhava e levantava repetidas vezes diante dos aplausos.

Na plateia, gritando como um louco, avisto Jorge. Noto sua presença facilmente pois ele balançava os braços pra cima tentando chamar minha atenção enquanto gritava "maravilhosa" o mais alto possível. Algumas pessoas ao seu redor lhe encaravam por puro julgamento, mas eu só conseguia sorrir com a cena.

Apesar de morar em L.A, ele conseguiu vir só hoje assistir o espetáculo neoclássico de Frankenstein que estava em cartaz. Bom, era o último dia então era sua última chance.

Ontem Louis veio me assistir e no dia anterior veio Pedro. Sim, Pedro. Ele postou uma foto do palco e uma selfie comigo no instagram, o que causou um certo reboliço na internet.

"Compartilhando amigos? Pedro Pascal prestigia a bailarina Antônia Garcia, amiga de Oscar Isaac em Los Angeles". – Essa era uma das manchetes que rolavam por aí.

Infelizmente Amanda não conseguiu sair de Nova Iorque para vir me ver nessas três semanas em que a peça ficou em cartaz, mas ela prometeu vir na próxima produção. Isso não evitou Jorge de fazer inveja pra ela, postando várias fotos comigo e no teatro em nosso grupo compartilhado no aplicativo de mensagens.

E após três semanas, hoje foi a última apresentação. Eu estava exausta e só queria ir para meu camarim, arrancar essa maquiagem e ir encontrar Jorge e seu namorado para jantarmos juntos. Meu estômago já me avisava que ele precisava de comida.

Parabenizo os outros bailarinos quando a cortina do palco se fecha e busco minha garrafa de água. Tiro algumas fotos com o pessoal no palco e logo subo para o meu camarim.

Pego meu celular que estava na coxia e vejo que havia algumas mensagens de Anne ali. Antes que eu possa abri-las, alguém me chama.

- Garcia, seu amigo está te esperando no seu camarim. – Um homem da produção me avisa quando passa por mim.

Agradeço o recado e subo as escadas do teatro já imaginando que Jorge estaria mexendo em todas as minhas coisas do camarim.

Lembro da mensagem de Anne e a abro enquanto ando pelos corredores. Meus olhos estão presos na tela quando entro no meu camarim.

- Eu vou checar seus bolsos antes de ir embora pra ter certeza que você não pegou nada meu... – Já chego dando uma bronca no meu amigo, terminando de ler a tela do celular. Confesso que espero sua reclamação ou sua animação diante da apresentação, mas só recebo o silêncio.

Estranhando completamente esse silêncio, tiro os olhos da tela e olho ao redor procurando por Jorge.

Mas não era ele que estava aqui.

Encontro Isaac parado no meio do camarim me encarando.

A primeira coisa que reparo é em seu boné. Ele só usava quando queria passar despercebido pelas pessoas.

Ambos ficamos em silêncio por um tempo só nos olhando.

Foram três semanas sem contato. Quase um mês...

E agora ele está aqui no meu camarim.

- Você tem a estranha habilidade de chegar de surpresa do nada. Geralmente é no meu apartamento, mas hoje você inovou. – Digo com um tom um pouco irônico. Aperto o meu celular em mãos e então apoio ele e minha garrafinha de água na mesa do camarim.

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