8. deja-vu.

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Through Jackson's eyes.

Se eu tivesse sido avisado de que ela estaria na reunião, eu escolheria ficar no hotel. Meus olhos a acompanharam caminhar da porta até a cadeira em frente à mim, ela evitava meu olhar mas focava em Lia com uma intimidade que eu não entendia de onde vinha.

Enquanto a reunião acontecia, Grace escutava atentamente, olhando Lia com um sorriso amigável no rosto. A naturalidade com que ela levava a situação me deixava intrigado. Era como se ela fizesse isso com frequência, o que me fez levantar uma sobrancelha.

Tenho quase certeza de que passei metade da reunião olhando para ela e tentando entender o que se passava na sua cabeça. E isso não era bom sinal.

Grace estava, obviamente, muito diferente do que eu me lembrava e mesmo tendo visto suas redes sociais, —um episódio traumático que eu esperava não ser mencionado.— a experiência de vê-la agora era completamente diferente. Ela tinha o cabelo mais escuro, liso mas ondulado em algumas mechas. Uma bagunça arrumada, com certeza não seria tão... harmônico em qualquer outra garota. Seus olhos ainda eram os mesmos, tinham o mesmo brilho e a mesma inocência. Agora, pessoalmente, eu via suas sardas discretas embaixo dos olhos e no nariz com mais clareza assim como algumas pintinhas no pescoço.

Seu olhar mudou de direção, agora estava em mim, seu sorriso foi se desfazendo e ela levantou as sobrancelhas. Virei meu rosto, evitando seu olhar.

Eu tinha sido pego em flagrante.

Eu não ouvia a voz de ninguém, como se a sala estivesse em silêncio esse tempo todo. Mas, quando desviei meu olhar de Grace, minha audição foi gradativamente voltando a funcionar.

"Então o contrato dura 365 dias. Caso haja a necessidade de interromper, não haverá multa desde que tenha se passado seis meses desde o início do contrato." Lia estava lendo as folhas em suas mãos, pausando para nos olhar e ver se estávamos concordando. Eu e Grace assentimos e ela retornou a sua leitura. "Ambos estão proibidos, enquanto o contrato durar, de se envolver com qualquer outra pessoa que não seja o contratante e a contratada." Ela deu uma pausa longa, nos olhando e depois focando apenas em mim por um longo período de tempo.

"O que foi?" Eu perguntei franzindo o cenho.

Ela então voltou a ditar, me ignorando. "Ambos deverão assinar um termo de sigilo sobre o namoro falso. Deverão aparecer em eventos públicos juntos. A contratada deverá estar ciente de que agora, ela é uma figura pública."

Grace concordou, o homem ao seu lado prestando mais atenção do que ela.

Quem era ele afinal de contas?

"O dinheiro da contratada será depositado mensalmente, todo final de mês, diretamente na conta dela."

Eu parei de escutar, entediado. Me estiquei na cadeira e olhei fixamente para o teto, balançando a cadeira para frente e para trás. Talvez o fato de que Grace estava sentada ali, na minha frente, depois de tanto tempo, era o que me deixava mais inquieto do que o normal. Prendi a argola do piercing nos dentes, repuxando o canto do meu lábio.

O namoro falso estava finalmente saindo da caixa isolada no meu cérebro, de uma realidade distante, para se tornar algo próximo, algo real. Eu não podia balançar o meu pé mais nervosamente do que agora.

Eu seria incapaz de falar alguma coisa no momento e por isso eu agradeço o rapaz desconhecido ao lado de Grace por ter nos dado a honra de escutar sua voz depois que a sala foi ficando silenciosa após Lia terminar de ler o contrato.

"E quando exatamente eles começam?" O homem perguntou.

A advogada cutucou minha costela, me fazendo olhar para ela, que me encarava furiosa. Apontou o queixo para a mesa, tinha deixado uma cópia do contrato na minha frente e a outra na frente de Grace.

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