14. traitors.

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Through Grace's eyes.

Eu sentia as lágrimas molharem meu rosto e meus olhos arderem. Meus pais brigavam na cozinha, completamente inconscientes da minha presença no cômodo ao lado, escondida atrás do sofá e escutando cada frase de ódio tão claramente quanto água.

Passei a tarde na casa de Jackson, ajudamos sua mãe a cozinhar biscoitos e ela fez questão de me entregar um pote cheio deles para levar para casa. Como qualquer criança depois de um dia com seu melhor amigo e, cookies, eu entrei em casa com um sorriso enorme no rosto, afim de fazer uma surpresa para minha mãe, entrei pela janela da sala. Meu sorriso não durou muito tempo.

Abracei o pote contra o meu corpo, me agarrando a alguma coisa na esperança de que a dor no meu peito desaparecesse. Tive medo de sair dali e ver as minhas duas pessoas mais importantes do mundo, exemplo de amor, de segurança, de paz, exalando o total contrário. Tive mais medo ainda de me mover, de fazer algum barulho e depois receber um dos olhares de culpa e dor da minha mãe, eu não queria que ela se sentisse pior por minha causa. Coloquei uma mão na boca, segurando o soluço e olhando para a janela pela qual eu tinha entrado há cerca de três minutos atrás. As luzes da casa de Jackson ainda estavam acesas apesar de beirar as dez da noite, a hora de dormir.

Meu rosto estava completamente molhado e minha cabeça doía, as lágrimas não paravam de cair e a angústia no meu peito apenas crescia. Eu já tinha dez anos, não era boba e meus pais não se esforçavam muito em esconder o que estava acontecendo. Meu pai estava com sérios problemas e quando parecia melhorar, chegava em casa no horário do jantar duplamente pior do que da última vez. Minha mãe já trabalhava no automático e eu também respondia no automático, subindo pro meu quarto como se não soubesse o que se passava e fechando a porta do meu quarto. Em menos de um minuto eu estaria batendo os dedos ritmicamente na janela do quarto de Jackson e ele abriria imediatamente, me abraçando e não questionando nada.

Agora, meus pés treinados me levavam para este mesmo lugar de conforto, soluços cortando minha respiração enquanto eu fungava. Guardei o pote de biscoitos dentro da minha blusa para evitar que ele caísse enquanto eu escalava até a sua janela com facilidade. Não precisei bater no vidro, a janela estava aberta, Jackson estava sentado em frente ao computador com fones de ouvido conectados no seu celular, ele estava rindo.

"James, você é horrível nesse jogo!" ele zombou do amigo.

Pensei em pular de volta para o chão e deixar Jackson e James se divertirem. Ele parecia muito feliz e eu não queria atrapalhar este momento simplesmente por não estar tendo uma boa noite, não, Jackson já tinha feito demais passando a tarde comigo e em todas as outras noites de crise. Antes que eu pudesse ir embora, ele instintivamente olhou em minha direção e seus olhos de bambi se abriram ainda mais.

"Eu te ligo mais tarde, James." ele disse sem tirar os olhos de mim e colocou o fone de lado. "Ace?" ele franziu o cenho, se levantou e veio até mim.

Jackson tinha um olhar preocupado e por mais que eu tentasse segurar as lágrimas, eu desabei quando ele me envolveu num abraço. "Que isso?" perguntou dando batidinhas no pote de biscoitos embaixo da minha blusa.

Eu funguei, colocando o pote em cima da sua cama, Jackson sorriu e me puxou pra sentar no chão, no pé da cama.

"Não quero voltar pra casa." eu choraminguei e ele assentiu.

"Pode ficar aqui, meus pais não ligam, você sabe."

Não levantei os olhos, mantive meu olhar sobre as minhas mãos, brincando com a barra da minha calça, mas quando ele se esticou para pegar um biscoito e colocou na frente do meu rosto eu tive que olhar para ele e aceitar. Chorar me dava vontade de comer doce e eu tinha chorado muito. Tinham algumas caixas de papelão espalhadas pelo quarto e eu notei que muitas das suas coisas não estavam mais no quarto, o que era estranho, mas não questionei. Naquele momento me lembrei de ter que procurar pelo pote —de onde Jackson tirava os biscoitos que fizemos mais cedo— em caixas de papelão pela cozinha.

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