15. simple as that.

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"Certo, você me odeia." Jackson não perguntou, não pensou alto, ele afirmou.

Ele afirmou tão diretamente que eu tive que piscar algumas, boas vezes, para induzir meu cérebro a funcionar novamente.

"É desse ponto que vamos começar." ele suspirou. "Por que você me odeia?" quando terminou de falar, sua cabeça estava inclinada para o lado como um cachorrinho curioso.

Okay, do começo.

O nó na minha garganta era tão grande quanto o tornado de pensamentos na minha cabeça que me impedia de falar. Isso vai ser difícil.

"Eu te odeio porque você me deixou quando eu mais precisei de você." minha boca se mexeu sozinha.

Certo, talvez não tão difícil.

Os olhos de Jackson arregalaram e eu pude ver a confusão passar por eles quando minhas palavras chegaram até ele. Ele abriu a boca algumas vezes mas som nenhum saiu, fechando de vez, então eu continuei.

"Você disse que ia me ligar, se comunicar, e você nunca fez." meus olhos analisavam cada centímetro do seu rosto. Eu costumava lê-lo tão bem mas agora é praticamente impossível.

Jackson construiu uma barreira, uma barreira que talvez ele nem saiba que existe, mas seus olhos não brilham como antes, ele não sorri como sorria antes e eu não consigo sequer deduzir o que se passa na sua cabeça agora.

O fato de que ele é uma pessoa completamente diferente do que eu me lembrava, da pessoa que eu conheci, não ajuda muito.

"Eu era uma criança." meus lábios franziram, antes que eu pudesse retrucar ele retomou seu discurso. "Eu tentei" disse assentindo e fazendo com que eu travasse, para outra vez, processar suas palavras. "Eu lembro de tentar falar com você no primeiro ano."

Como se tivessem apagado a luz dentro do meu cérebro, nenhum pensamento saltou enquanto ele falava, um acontecimento raro.

Nunca ouvi o lado de Jackson. Eu sempre soube da minha verdade, da verdade de James, da verdade que eu inventei por falta de uma explicação do meu melhor amigo e talvez, não, e com certeza, é por isso que meu cérebro resolveu parar de funcionar momentaneamente.

"A empresa exigiu que eu cortasse contato com os Estados Unidos e tudo o que me prendia lá..." limpou a garganta, "aqui." corrigiu. "Disseram que eu precisava entrar de cabeça na experiência, me dedicar em aprender o idioma, que se minha mente ainda estivesse aqui, eu não iria absorver e me doar completamente."

Eu franzi o cenho, desviando o olhar para uma prateleira na biblioteca, tentando de alguma forma entender o impacto que isso tinha na minha vida, e a resposta é grande, grande impacto. Isso mudava anos da minha vida. Quero dizer, não anula o que aconteceu mas muda o que eu pensava que sabia. E isso era difícil de digerir.

"Eu tentei durante um ano, meus pais também." suspirou. "Eu era uma criança então tudo o que eu podia fazer e que estava ao meu alcance, eu fazia, e não era muito." ele soltou uma risada curta e respirou fundo. "Tudo o que eu ouvia dos meus pais era que os seus pais não respondiam, não atendiam."

"Foi quando meu pai foi internado." eu expliquei, mordendo meu lábio e mudando a direção dos meus olhos para o pé da sua poltrona. Vi de canto de olho ele se acomodar na poltrona, mudando de posição. "Por isso que ninguém entrou em contato, foi complicado."

Jackson fez um som de quem concordava, me fazendo olhar para ele novamente, a tempo de vê-lo fazer bico ao assentir, um hábito desde que ele era criança.

É nostálgico, é familiar, um sentimento interessante de que ao menos uma sombra do Jackson que eu conhecia tão bem ainda existe. "Depois as coisas foram ficando mais sérias, mais exigentes. Eu tinha muito tempo pra treinar e estudar e pouco tempo para todo o resto." continuou.

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