don't LEAVE.

17. call things off

Through Grace's eyes.

Jackson dançava e cantava tão perfeitamente que eu, várias vezes, questionei se ele era real, mesmo já sabendo a resposta. Era loucura. Loucura a forma como Jackson cantava sem desafinar por um milésimo de segundo que seja, como ele movia o corpo executando cada passo como se seu corpo tivesse nascido para aquilo, como se fosse automático.

Crescemos juntos dançando e isso não é novidade.

Dançamos desde que eu me entendo por gente e mesmo que eu tivesse ciência do dançarino excepcional que ele sempre foi, era diferente agora. Era diferente ver Jackson dançando depois de tantos anos, ver a sua evolução e como seus movimentos fluíam tão majestosamente. Quando me dei conta, eu estava sorrindo, meus olhos estavam fixos em Jackson e eu mal piscava, quase como se eu estivesse hipnotizada. E olhando para as pessoas lá embaixo, não estavam em uma situação tão diferente da minha, nem mesmo aquela única pessoa sentada em uma das mesas do salão.

Talvez Kaylee estivesse certa e eu precisasse mesmo usar óculos porque eu tive que fazer um esforço nada normal para identificar quem estava afastado da multidão, mas o conjunto vermelho sangue e o cabelo loiro me fizeram arregalar os olhos quando finalmente liguei os pontos. James estava de braços cruzados, olhos fixos em Jackson e eu só percebi que segurava a respiração quando alguém da staff cutucou meu ombro, me fazendo respirar fundo e arregalar os olhos, virando para lhe dar atenção.

O rapaz que falava com Lia mais cedo me olhava com um olhar apologético que me fez franzir o cenho, mas ele rapidamente apontou para o palco, onde Jackson me olhava com uma mão estendida em minha direção enquanto mantinha os lábios próximos ao microfone.

O que exatamente isso significava?

Jackson abriu um sorriso que eu não precisava de muito conhecimento para discernir ser forçado. Minha expressão facial caiu imediatamente.

Ah, ótimo.

Ele fez sinal para que eu fosse até ele e eu me perguntei o que exatamente aconteceu enquanto eu tentava identificar James sentado na mesa.

Mordi meu lábio com tamanha força que não me surpreenderia se sentisse gosto de sangue tomar conta da minha boca. Tive que inspirar e expirar tantas vezes ao mesmo tempo em que me concentrava em não tropeçar enquanto caminhava até Jackson no centro do palco, que por um momento esqueci como se respirava normalmente e como se caminhava sem parecer esquisita. Minhas pernas tremiam como se fossem falhar a qualquer momento, era assustador estar em evidência dessa forma. Há alguns passos de distância de Jackson, ele segurou a minha mão, sem tirar os olhos de mim e o seu sorriso não vacilou, por mais desconfortável que fosse. Meu rosto imediatamente se virou na direção de James. Seu nome era a única coisa que se passava pela minha mente naquele momento.

Eu tinha total certeza de que minha expressão não era nada como a de quem estava tranquila com aquela situação e, sinceramente, eu nem me esforçava para tal. Como um bambi assustado, como uma criança se sentindo culpada ao ser pega comendo doce escondida, era exatamente assim que eu me sentia. Assustada e culpada.

As palavras de Jackson soavam distantes e abafadas para mim, mesmo que ele estivesse ao meu lado e o microfone amplificasse a sua voz. Eu via a expressão de desgosto, de decepção no rosto de James, tão claramente que meu peito doía. Talvez fosse minha mente me pregando uma peça, uma bem maldosa por sinal, mas independente de ser real ou não, só a ideia do seu olhar tão... diferente do que costumava ser, era o bastante para me quebrar em pedacinhos.

Jackson apertou minha mão, chamando minha atenção e eu rapidamente virei meu rosto em sua direção, abrindo um sorriso tão real quanto o dele que mexia a boca mas sua voz não chegava aos meus ouvidos. Quando ele se inclinou e beijou minha bochecha, quando ele agradeceu a "platéia", quando ele se curvou educadamente e eu o imitei, quando eu sorri e acenei enquanto ele gentilmente me puxava para fora do palco, durante todos esses momentos eu não estava consciente. Quero dizer, sim, eu estava consciente, eu estava acordada, mas era como se minha mente tivesse desligado completamente.