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Com um sorriso tímido e percebendo o olhar da tia sobre mim, eu respondo que havia sentido apenas um pouco.

Dona Maria chega com duas latinhas de cerveja, ela dá uma piscadinha para mim e volta para o balcão, deixando as latinhas aqui. Katarina, com o dedo indicador empurrou uma das cervejas em minha direção.

–Voce sabe que eu não bebo. –Falo olhando para a mão dela.

–Bebe por mim. –Ela sorri novamente e eu me vejo encurralado sem saber dizer não.

Abrimos a latinha juntos e tomamos, ela então pareceu curiosa novamente sobre meu olho, nos conhecemos há algum tempo, mas nunca contei a ela sobre.

Percebendo que eu tinha me ligado, ela então pergunta sobre outra coisa.

–Essa sua nova tatuagem... É o seu nome, não é? –Ela se referia ao "JK" em meu rosto.

–É, sim. –Respondi um pouco envergonhado. Ela sorriu de canto.

Tomamos o resto da lata em silêncio, quando terminei, recolhi a minha latinha e a dela, fui ao balcão para pagar a tia Maria e joguei as latas no lixo.

–Está indo para a pracinha, agora? –Katarina pergunta atrás de mim.

Assenti com a cabeça.

–Tome cuidado, não vou gostar de ver meu marido machucado. –Ela ia em direção a rua enquanto falava.

Olhei para a tia envergonhado e sem saber o que dizer. Não sabia o motivo dela me tratar assim, já que toda semana ela me contava histórias sobre garotos que ela ficava. Mas confesso que eu gostava disso, me sentia inteiro de algum jeito.

                                [...]

Avisei à Alex que eu iria sair, ela mandou eu colocar um rastreador em minha camisa, porquê assim como Helena, eu também tinha medo de não voltar para casa. Alex também sentiu o cheiro da cerveja em mim e perguntou se Katarina havia voltado outra vez. Alex me conhecia.

No caminho à praça pensei em ter alguém me seguindo, me observando a cada passo que eu dava, mas ignorei achando que fosse só eu totalmente em alerta.

Cumprimentei todos e me sentei para assistir o jogo que ia rolar valendo uma coca. Conhecia algumas pessoas daqui, cresci junto com elas.

O jogo começou, a torcida ainda estava fraca, foi chegando mais pessoas conforme o tempo passava, fui obrigado a ouvir alguns comentários sobre a única garota do jogo, coisas do tipo: de bom ela só tem o corpo, ou então que ela tinha louça para lavar e comida para fazer. Ignorei, pois eu conhecia ela.

Vinte à dezoito foi o placar do primeiro set. Pausaram o jogo por um tempo, Felipe, um dos jogadores, acabou caindo no fake de Ayumi, a única garota da partida. Enquanto cuidavam dele, um dos moleques resolveu trocar de time e como Felipe se machucou, Ayumi resolveu me chamar para o time dela, e eu aceitei.

Precisei me acostumar nos primeiros minutos pois não me lembrava de muitas coisas. Os pontos começaram a subir para o meu time, Ayumi me parabenizou dizendo que o time do visão havia voltado.

Ganhamos o jogo com uma boa reviravolta no final, um dos meninos foi buscar a coca enquanto descansávamos, me despedi e levei o refri para tomar em casa.

Na volta me senti um pouco menos observado, mas aquela presença ainda estava comigo. Acelerei o passo por precaução.

Fim de tarde...

Acabei de sair do banho, estou em frente ao espelho do banheiro, agora. Tirei o tapa-olho uns minutos antes. Abri a mini caixa que está ao lado da pia e peguei o meu tapa-olho favorito. Passei um algodão ao redor do meu olho para ter certeza de que estaria limpo assim que eu tampasse ele novamente. Joguei o algodão no lixo e segundos depois me vi encarando meu reflexo no espelho congitando a ideia de tentar abri-lo , mas deixei de lado e coloquei o tapa-olho.

Fechei a mini caixa, apaguei a luz e fechei a porta assim que saí.
Hoje a janta será na casa de Alex, mas

William quem irá cozinhar, então encostei o portão e caminhei até lá. Moramos todos juntos.

Quando cheguei a porta já estava aberta

–Chegou atrasado, Jake. Que milagre. –Nicoly diz.

William dá risada enquanto enche a panela com água para ferver e colocar o macarrão.

Me sentei ao lado da Alex e de frente para a Nicoly.

–Fiquei sabendo que Katarina voltou... –Nicoly fala com malícia.

–Um passarinho me contou que o Jake está sendo mais enrolado que ioiô. –William acrescenta.

Dou risada impressionado em como as coisas espalham rápido aqui.

–A nossa criança está crescendo. –Alex finge escorrer uma lágrima de seu olho.

Jantamos bem, William poderia participar do master chef facilmente. Me ofereci para lavar a louça e assim foi feito. William e Nicoly foram para a sala, Alex ficou me fazendo companhia enquanto eu terminava as coisas.

Alex se aproximou e aproveitou para bagunçar todo meu cabelo.

–É uma pena você não estar de chapéu hoje, criança. –Ela diz.

Enxaguei minha mão e "sem querer" joguei água nela. Antes que ela fizesse alguma coisa, eu corri para a sala e me sentei na ponta do sofá enquanto ela vinha atrás.

Começou a novela que a Nicoly gosta, então assistimos todos juntos. Quando acabou eu fui para a minha casa, mas antes verifiquei se os portões estavam fechados.

Tirei os sapatos antes de entrar e fui lavar as mão, quando entrei em meu quarto, Katarina lá estava. Não fiquei surpreso, apenas troquei de roupa e me juntei a ela em minha cama.

–Precisei sumir de novo por causa do trabalho. –Katarina começa a puxar assunto. –Como você se sentiu com isso? –Ela passa a mão em meu cabelo. Realmente havia um tom de preocupação em sua voz.

–Achei que você não voltaria dessa vez. –Digo olhando os seus olhos.

–Você sabe que eu sempre estou de volta. –Ela responde sorrindo.

Depois tudo ficou em silêncio, acabei dormindo em seu colo enquanto ela ainda mexia em meus cabelos. Eu estava feliz.

O Anjo Negro.Onde histórias criam vida. Descubra agora