O Anjo Negro.

6.

–Era isso que você queria? Falasse antes –Me deixo gargalhar.

De relance, vi Edigar voar para cima de mim, sua mão parou em meu rosto, tive de cede-lo para o lado, mas não senti dor alguma.

Com minha mão, limpei minha bochecha.

–Vai com calma chef. Eu estava assistindo tudo. –O semblante de Jake mudou, o brilho em seus olhos sumiu.

Edigar voltou a se sentar.

–Estava querendo falar com você. Tenho novidades das quais irá gostar.

Ele respondeu com seu rosto entediado.

Edigar continuou a falar orgulhoso.

–Chegou aos meus ouvidos que você foi criado por minha causa, me interessei por isso e criei algo muito maior. Você já deve ter cruzado com meu primeiro teste.

Ele balançou a cabeça como resposta.

–Você está me ouvindo? Você é uma criação minha! Por qual motivo o Jake luta contra tudo isso? –Edigar começa a gesticular com as mãos. –Podemos nos juntar e fazer as pessoas terem um outro eu! –Os olhos dele brilhavam falando sobre isso.

O outro sujeito que habitava Jake agora se irritou.

–Eu não fui criado de uma forma legal como você está dizendo e você pagará pelo o que seja lá que esteja fazendo.

–Para de ser sentimental! Parece que estou falando com o Jake. Cadê aquela raiva que eu ouvi dizer que você tem?

O 'demônio' se levantou e num segundo havia derrubado Edigar de sua cadeira, Ele agora estava em cima dele, o puxando pelo colarinho, como um lobo faminto.

–Não vou lhe dar o que quer.

Enquanto Ele falava, deixou que a saliva espirrasse na cara de Edigar, propositalmente, e com a mão que fora apertada mais cedo, devolvera-lhe o soco que recebera uns minutos atrás. Com os ouvidos aguçados, escutou uma porta se abrir, dois homens apareceram com pistolas em mão, Ele verificou os bolsos de dentro do paletó de Jake, estava desarmado, verificou, então, os bolsos de Edigar, que agora estava sorrindo.

Encontrou uma pistola e pegou para si, os dois caras estavam atrás dele, o que foi o suficiente para Ele conseguir esconder em sua roupa. Sentiu algo gélido no outro bolso de Edigar, puxou para fora e viu que era um isqueiro, aproveitou e guardou no bolso de Jake furtivamente.

Ele se aproximou do ouvido de Edigar e agradeceu. Puxaram-o de cima do chefe e o jogaram para o lado, seus olhos se fecharam contra sua vontade, Ele esqueceu desse efeito colateral, e por último apenas pôde ouvir os passos apressados vindo de todos os lados.

Os capangas de Edigar o pegaram e meteram o pé, alguns minutos depois escutei um chute na porta, passos desesperados vieram em minha direção, senti as mãos de William me levantando, fui carregado, com a ajuda de Alex, até o carro. Para a minha surpresa, Nicoly também venho. Com cuidado, no banco de trás, ela começou a tratar dos meus ferimentos. Fui me despertando com as dores que comecei a sentir, mas mantive os olhos fechados.

A última coisa que me lembro agora foi de ter acordado em minha cama. Ouvi a voz da Alex e da Katarina vindo do quintal, pareciam que estavam conversando, a única frase que ouvi por completo foi: eu conheci outra pessoa, não tenho tempo para o Jake, agora. E depois não ouvi mais nada. Mais tarde já achava que o que eu ouvirá foi apenas sonho, então voltei a esquecer.

Não saí mais de casa nesse dia, tomei banho, peguei um novo tapa-olho e o coloquei, no mesmo instante veio um flashback da época da escola, o rosto de Edigar atrás do valentão do grupo antes de tudo acontecer. Tentei ignorar e fui à cozinha tomar um gole de café para dormir. Depois troquei a roupa de cama e novamente adormeci.

                                 [...]

05:47. Estamos tomando café agora, hoje o dia será mais leve, com o conhecimento que ganhamos nesses últimos anos, o degustador dessa peça toda não aparecerá tão cedo depois do espetáculo que ele fez.

Ainda estou com dor, minha mão está roxa pelos hematomas e meu olho esquerdo está dolorido, mas estamos nos divertindo, ligamos o rádio no som mínimo pelo horário e entramos na vibe.

Mais tarde fui para o trabalho, talvez eu seja mais um escravo do sistema? Não sei, não estou a fim de pensar muito hoje. Antes de sair, eu limpei o olho mais uma vez e enfaixei minha mão, talvez eu a tenha quebrado, está doendo bastante, mas preciso seguir com a rotina, foi o que minha mãe me ensinou.

Aproveitei que já estava no mercado e comprei chocolates para a Nicoly, energético para mim e Alex, e William havia pedido uma brecha, como sempre. Voltei para casa mais calmo, se tinha alguém me observando, eu não me liguei.

Passamos o resto da tarde juntos, não recebemos ligação nenhuma hoje, talvez Alex tenha mandado uma mensagem a eles, é a cara dela fazer isso.

Eu pedi para cozinhar hoje, fazia um tempo que eu não mostrava meus dons culinários. Comemos e discutimos sobre as fofocas da semana. Ainda bem que eu sempre falei para não comprarmos nada do Romero, não me apresentava uma boa impressão.

Nicoly trouxe uno, então agora estamos jogando. William começou jogando um número verde, taquei um mais dois para Nicoly, que completou com um mais quatro. A partida não terminava, ficamos quase meia hora nisso, e quando terminou, eu estava com trocentas cartas em mãos.

William correu para a sala para não lavar a louça, então sobrou para a Alex, que reclamou. Fiquei com ela até que terminasse, depois nos sentamos no sofá, William pegou a sacola do mercado que eu havia trazido e distribuiu as coisas dela. Alex escolheu uma série e a assistimos até todos pegarem no sono. Dormimos no sofá, todos esmagados igualmente.

                                   [...]

05:45 de um domingo. Estamos na garagem tomando café. Não sei por qual motivo acordei com dor nas costas, minha mão ainda está enfaixada, mas não dói tanto quanto antes.

Acabei de voltar do trabalho, bem quando pisei com os pés em casa, meu telefone começou a tocar. Atendi.

–Quem é? –Perguntei ao perceber que ninguém falou nada de imediato.

Ouvi apenas uma respiração pesada.
A ligação caiu.

Não me incomodei e logo voltei a fazer minhas coisas. Depois do ocorrido, eu comecei a ouvir uma segunda voz. Nada de bom sai dela...