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Estou no trabalho, novamente. Repondo caixinha por caixinha de leite condensado, fileira por fileira. Eu sei que eu poderia cortar a lateral da caixa, e simplesmente colocá-la na prateleira para puxa-la com cuidado enquanto os produtos vão ficando em seus devidos lugares, mas amo o prazer de colocar um por um, ser paciente e depois ver o resultado.

Coloquei o último leite condensado com cuidado para não esbarrar nos outros ao lado e tentei não notar a leve tremedeira em minha mão, ela está sempre me acompanhando e eu nunca soube a sua causa.

Peguei a caixa que eu acabei de esvaziar, desmontei ela e joguei para o carrinho ao meu lado, um pouco longe de mim. E assim fui para a próxima caixa do mesmo produto.

Deu onze horas em ponto, horário do meu almoço, e assim que fui até a entrada do mercado, o William já estava lá. Ele me entregou a minha marmita, eu agradeci e em seguida ele se despediu, pediu que eu sempre tomasse cuidado.

Quem me dera eu não ser um alvo tão fácil.

Entrei na sala dos funcionários, ela não é tão grande, mas é o suficiente. Há dois sofás formando um L; um balcão grudado num dos braços do sofá; e atravessando ele tem uma mesa de plástico, em cima dela tem um microondas e um bebedouro de água, e à frente da mesa tem uma pia com um escorredor.

Não precisei esquentar a minha comida e me sentei num dos cantos do sofá, aproveitei o tempo bem o suficiente para eu não ter de comer rápido. Lavei meu pote, sequei e guardei em minha mochila que estava encostada na parede.

Voltei ao trabalho.

Arrumei mais algumas seções e me ajeitei para sair. Peguei o ônibus, dei o dinheiro contado para o motô, pedi que liberasse a catraca e me sentei no fundão, no último banco do lado esquerdo, contrário ao motorista.

Dei sorte de o ônibus estar vazio e ninguém sentar ao meu lado. Fiquei observando a rua movimentada, várias lojas abertas, camelôs aqui e ali, policiais parados na praça, e nisso, tem pessoas indo e vindo, assim como em nossas vidas.

As pessoas vem e vão, fazem uma festa, nos marcam com cicatrizes boas e/ou ruins, mas será que elas também não vem em vão? Não darei minha opinião agora, pois tudo uma hora muda e eu não tenho muita certeza sobre o que eu acho. Mas espero que a Katarina, Alex, William e Nicoly, não tenham de se afastar, eles são os pilares que me seguram. Eu não gostaria de desmoronar carregando tudo o que eu carrego hoje.

Qual é o pilar que te sustenta? Mesmo que seja "defeitos", eles têm algum papel sendo desempenhado para você ser o que é.

Dei o sinal, me levantei e fui para a porta. Descerei no próximo ponto.

Assim que eu desci, atravessei as ruas e o trilho do trem que está depois da calçada. Passei na quitanda, comprei abacates, cumprimentei alguns conhecidos que me viram crescer e agora eu estou atravessando a passarela. Eu vou pela rua de cima e assim sairei no portão de cima, pelo portão de baixo eu teria de ir pela estrada, é mais perto, porém estou sem a chave dele no momento.

Deixei minha mochila no pé da estante que tem ao entrar em minha casa, tirei os sapatos e deixei eles ao lado, segui em passos lentos para o banheiro que fica em frente a essa estante e lavei as mãos, irei higienizar o meu olho e trocar o tapa-olho por um mais limpo. Lavarei esse mais tarde.

O Anjo Negro.Onde histórias criam vida. Descubra agora