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Não vou me estressar se a Nicoly não encontrar alguma pista no vídeo, talvez nem exista um fio solto onde estamos procurando.

Conheço ou talvez conhecia a pessoa a qual estamos lidando e posso afirmar que fácil é a última coisa que vai ser e que eu imaginei que seria. E segundo as pessoas que eu fui trombando ao longo da minha caminhada até aqui, paciência é algo que eu tenho para dar e vender.

O motivo disso é: lembram-se dEle? Quando Ele surgiu, algumas coisas em casa desandaram. Minha mãe tentou entender o que acontecia, mas ela não teve tempo o suficiente para descobrir o que era. Ela precisou sair com meu pai. Alguma coisa chamava-os e até hoje não voltaram para me cobrarem o que era. Por conta disso, eu fiquei mais uma vez com a vovó.

Ela, junto comigo, estudou para entender e achar uma solução para o que me fazia mudar de personalidade. Um médico da cabeça era caro e os livros ainda eram de graça.

O que descobrimos foi que o bullying, mais precisamente o momento que Edigar feriu minha visão, se juntou com tudo aquilo que eu vivenciei e criou esse "monstro" dentro de mim, para me defender.

Vovó percebeu que Ele aparecia após pequenas coisas que normalmente tiravam apenas um pouco da paciência das pessoas, então ela trabalhou isso comigo.

O copo estava cheio e qualquer gota, agora, transbordava.

Pratiquei meditação, treinei a minha respiração, meus pensamentos, joguei Sudoku, entre outras coisas, e a vovó treinava junto comigo para que eu não me sentisse diferente dos demais.

Nesse processo nós conseguimos fazer com que Ele "dormisse" em minha mente, mas Ele ainda estaria lá, ocupando meus pensamentos e me deixando preocupado. Então, vovó me deu a ideia de direcionar Ele para o meu olho machucado, já que eu enxergava apenas as luzes e os vultos com ele depois do acidente. Por isso o uso do tapa-olho, para ter menos chance dEle escapar, embora Ele possa sair quando eu não consigo me controlar.

Após esses rápidos pensamentos em poucos segundos, deixei meu corpo deslizar pelo sofá e fiquei desajeitadamente deitado. Coloquei meu chapéu sobre o rosto e submerso ao meu próprio mundo, me imaginei junto com Katarina, cenas deleitosas que já aconteceram e que ela prometera que vão acontecer.

Não pude deixar de sorrir por baixo do chapéu, porém um pensamento do qual ainda não estou acostumado, surgiu rapidamente: esses pombinhos...

Tinha esquecido-me do quão grossa é a voz dEle e que, depois do sequestro mais xoxo que eu já vi, Ele já não fica mais “dormindo”.

Eu até pediria ajuda, mas não incomodarei mais a vovó com isso de novo. Vovó deixou a Alex a par disso tudo, não para eu não procurá-la, mas sim porque ela sabia que eu não buscaria ajuda quando isso acontecesse. E só entre nós, a Alex é a minha amiga favorita da vovó.

Lembrei de que tinha o jornal do mês em cima da mesa de centro e me estiquei para pegá-lo. O chapéu deslizou para o meu colo, assim eu o deixei e me encostei no sofá, novamente.

Somente passei os olhos sobre as notícias, a preguiça já tinha tomado o meu corpo naquela hora do dia e minha cabeça já tinha acumulado relatos ruins o suficiente.

Nicoly me cutucou na cintura, eu olhei para ver o que era e ela respondeu-me com um barulho de peido feito com a boca. Minha cara de palhaço foi inegável.

–Não há nenhuma inteligência artificial usada no vídeo, Jake –ela complementou em seguida.

–Certo... –Peguei um canetão do meu bolso direito e joguei para o William que realmente pensou rápido e não deixou ele cair no chão.

–Anota no quadro o que descobrimos hoje, meu querido –pedi me sentindo em empreguetes.

E assim foi feito.

O Anjo Negro.Onde histórias criam vida. Descubra agora