— Acho que eles podem dormir na sala.. Eu fico no quarto de hóspedes e você no seu quarto. — Heloísa murmurou.
As duas crianças que prestavam atenção no assunto deles automaticamente viraram as cabecinhas estranhando muito.
— Vocês brigaram de novo? — Perguntou Felipe desacreditado.
Stenio começou a rir. O tom de voz dele foi muito engraçado.
— Não, cara. A vovó tá brincando.
— A vovó dorme com o vovô no quarto e eu e o lipe dormimos no quarto do lado!! — A pequena concluiu como se fosse óbvio.
— Falando nisso tá na hora de ir pra cama. Bora, senão Adriana me mata depois. — Heloísa se levantou com a camisola e o robe, escondendo o corpo. Esticou a mão pra menorzinha que quis colo.
Ela a pegou e foi em direção ao quarto de hóspedes. Stenio deu a mão para Felipe ainda rindo muito do jeito dele.
— Já te falei que você é meu neto menino favorito?
— Vô eu já te falei que não tem graça porque você só tem eu de neto menino. — O menino revirou os olhos.
Cada um foi responsável por colocar uma criança na cama. Se deitaram com eles e ficaram contando histórias no escuro. A menorzinha adormeceu primeiro, Felipe demorou mais.
Assim que saíram do quarto de hóspedes, Heloísa tentou tomar o rumo da sala.
— Eles vão estranhar se a vovó não dormir com o vovô. — Stenio a agarrou pela cintura proibindo seus passos e a levantando no ar. Carregou a mulher até o quarto deles dois e trancou a porta.
— Mas que inferno! — Heloísa sussurrou um grito, irritada, estapeando Stenio. — Que inferno você me beijando me alisando como se tudo estivesse bem. Que inferno que você vai me fazer dormir aqui. Destranca essa porra dessa porta.
— Não vou. — Ele aceitava os tapas e a segurava, dando um sorrisinho.
— As crianças podem precisar da gente.
— Eles sabem bater na porta. — Stenio garantiu.
Heloísa bufou irritada e deu a volta por ele, se desvencilhando. Tirou o robe e percebeu os olhos dele firmes nela.
— Tá olhando o que? — Ela o enfrentou, brava.
Stenio cruzou os braços encostado no móvel da televisão e continuou a olhá-la dos pés a cabeça.
— Perdeu alguma coisa? Ow? — Heloísa estalava os dedos na frente dele.
— Quase perdi. To aqui vendo.. Que burro eu ia ser.
Stenio começou a andar na direção dela.
— Você não vem. E você não me encosta. Eu vou te bater, eu vou dar um grito. — Ela ameaçava tentando se fazer de durona.
Sentia o coração na boca.
— Bate, grita. Eu nem acredito que você tá aqui mesmo, eu quero que tudo se exploda.
Stenio passou os braços pelo pescoço dela a puxando para mais perto num beijo intenso e ela só foi puxada sem nenhum tipo de resistência.
Sentiu as mãos dele indo para o cabelo dela. Aquela pegada deliciosa, que só ele tinha. Puxando na medida certa para deixá-la louca.
— Não, não, não. — Ela foi se afastando.
— Sim, Helô, sim! — Stenio ia atrás dela.
— A gente tem muito o que conversar e não vai ser sexo vai me distrair.
— Tá bem. Vamos conversar?
Ela bufou. Não queria conversar.
— Por quem você se apaixonou? — Ele perguntou para ela.
Heloísa continuou de braços cruzados e emburrada do outro lado da cama.
— Eu não me apaixonei eu só..
— Tá, tanto faz. Quando foi? O que foi?
— A gente tava nessas de brigar muito, essas crises que a gente tem. E aí teve aquele delegado transferido, o Matheus.
Stenio escutava atentamente.
— A gente se dava bem, e a gente se conectou de alguma forma.
— Você me traiu? — Stenio sentiu como ela estava molinha molinha falando do cara.
— Não. — Heloisa fechou a cara e cerrou o cenho. — Quer dizer.
Stenio arregalou os olhos.
— Teve um dia que ele veio pra cima de mim.. Falando umas coisas, desabotoando minha camisa.. Mas eu logo entrei em mim e fui embora. O mais rápido possível.
— Ele te beijou?
— Ele tentou. — Ela deu de ombros.
— Mas ele encostou? A boca? Na sua? — Stenio estava tendo uma crisezinha de ciúme e ela realmente segurava pra não rir.
— Ah sei la Stenio toda aquela coisa.. Eu saindo fugida..
— Encostou ou não? — Stenio se levantou bravo e ficou de braços cruzados na frente dela.
Eles se encaravam.
— Um pouquinho. — Ela deu de ombros. — Mas eu acordei na mesma hora e vim correndo pra cá.
— Você me traiu! — Stenio ficou indignado.
— Ah, uau. Estamos quites. Você ama a menina do seu trabalho, bem pior do que eu "fiz" — ela fez aspas no ar.
— Eu não amo ninguém não. Eu fiquei burro por uns dias, fiquei fora de mim, já me organizei. Eu amo você. Eu nunca amei outra pessoa que não fosse você, e eu não aceito você falar isso não.
Heloísa assentiu a contragosto.
— Acho que é normal. — Heloísa confessou. — Nossos altos e baixos. E ter pessoas que as vezes nos entendem mais do que eu vou te entender ou você vai me entender.
— Não tem nada de normal não. — Stenio discordou. A cara fechada, o peito estufado, a narina inflada. Estava com ódio.
— A gente é muito oposto. A gente tem umas crises e a gente fica mal um com o outro, depois tudo melhora e ficamos bem.. É natural que a gente fique vulnerável no meio de uma crise.
— Não é natural. Eu não quero crise. Eu não quero vulnerabilidades. — Stenio continuava puto.
Heloísa revirou os olhos.
— Tá então faz o seguinte? Fica aí em negação enquanto a gente não resolve a porra do problema. Eu vou dormir.
Ela passou por ele, brava.
Ele, obviamente, não deixou.— Eu nunca poderia amar alguém que não fosse você. É fisicamente impossível pra mim. Não tem a menor condição. Eu tenho certeza de você. Eu não tenho de muita coisa.. Mas de você eu tenho. — Ele quis deixar claro.
— Bom trabalho me convencendo disso enquanto tentamos salvar nosso casamento. — Ela forçou um sorriso falso para ele. — Eu não confio em você. Eu não vou me sentir bem sabendo que aquela mulher tá com você.
— Não faz diferença pra mim estar perto dela ou não. Eu sei o que eu quero. Se você quiser.. Eu troco de funcionário. Não falo mais com ela, me dirijo a outra pessoa da empresa que pode fazer a ponte por nós. — Stenio sugeriu.
Heloísa revirou os olhos.
— Até parece que você vai fazer isso.
Ele pegou o celular do bolso no mesmo minuto e foi para a sacada.
Heloísa escutava a conversa com o diretor geral onde Stenio não deixava abertura alguma. Reportou um problema de compatibilidade e disse que não continuaria com a parceria caso esse problema não fosse resolvido, e que estava disposto a pagar a multa contratual. Ou eles substituíam Juliana, ou romperam ali.
Ela tentou fingir que não sentiu um quentinho em seu coração enquanto o via tão resoluto, decidindo tudo e fazendo tudo. Mostrando que não havia nada que ele não faria por ela.
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