— Você se apaixonou por ela. — Heloísa concluiu o óbvio, finalmente falando em voz alta.
— Ah. Heloísa. Pelo amor de Deus. Eu sou casado com você. Já me casei um milhão de vezes. Se eu gostasse de outra pessoa eu não estaria com você.
— Mas você nunca se apaixonou por outra pessoa antes.
Stenio a encarou. Em silêncio.
— Eu não "me apaixonei" fala sério! Você nunca se interessou por outra pessoa estando comigo?
Heloísa sentiu as palavras entrarem em seus ouvidos como se fossem canivetes lançados com a mira exata para perfurar ali.
Automaticamente começou a sentir uma dor física no peito.
Pressionou os lábios e assentiu.
— Já. Já me interessei. Já pensei "será que não é esse o cara certo ao invés do Stenio?". E nunca demonstrei. Nunca cheguei a esse ponto, você nunca nem soube. Porque o que eu sinto por você é maior e eu escolhi você, sem pestanejar.
— Eu também escolhi você Heloísa. Eu escolho. Todos os dias.
Heloísa sentiu seu estômago se revirar.
Pegou o celular e a bolsa, com os quais tinha saído naquele mesmo dia.
— Eu quero o divórcio. — Ela anunciou indo em direção à porta.
— Heloísa. — Ele a segurou com força. — Não vamos fazer isso de novo. Você sabe que é besteira. Eu e você sempre acabamos juntos no final, a gente não precisa passar por isso mais uma vez.
— Eu não preciso estar com alguém que ama outra pessoa. — Ela explicou, fria. Completamente oposta a Heloísa que ele deixara na cama naquela manhã. — Você.. Pode ficar com tudo. E a partir de hoje não estamos mais juntos. Você fica com quem quiser, se quiser chamar ela pra cá.. — Heloísa deu de ombros.
— Para de agir como se eu tivesse te traído. — Ele ficou bravo.
— E não traiu?
— Não. Eu nunca cheguei perto dela. Eu só.. — Stenio segurava Heloísa com força. Não queria deixá-la ir. — A gente se dá bem, a gente conversa sobre um milhão de coisas. a gente concorda em muita coisa. E ela apareceu em um momento em que eu e você estávamos distantes, mas foi só isso. Eu gosto da companhia dela então a gente faz o nosso trabalho e somos.. amigos. É só isso.
Heloísa sentia as lágrimas escorrerem por seu rosto.
Observou a expressão no rosto dele enquanto falava da mulher. Engoliu a seco.— Você pode redigir os documentos dizendo que eu abdiquei de tudo. Eu só quero o divórcio logo. — Ela anunciou, e saiu da casa, entrando no elevador.
Stenio se enfiou no elevador com ela.
— Você não precisa fazer isso. Eu amo você. Que coisa estúpida, Heloísa. Eu não fiz nada.
Ela o ignorava e mantinha os braços cruzados e o olhar fixo à sua frente. Stenio tentava chamar sua atenção de qualquer forma mas o olhar dela já não estava mais ali. Estava morto, moribundo, e ela fazia questão de não olhar para ele mesmo que ele se esforçasse para isso. Desesperado, implorava por atenção e que ela não fosse embora.
Heloísa jogou a bolsa dentro do carro e se virou para ele uma última vez.
— Me diz que não gosta nenhum pouquinho dela e eu fico. — Heloisa o encarou.
Stenio gaguejou.
Ela não disse nada, apenas se enfiou no carro trancando todas as portas automaticamente enquanto ele batia no vidro e falava alto tentando convencê-la.
"Eu amo você."
Dizia ele repetidas vezes.
Heloísa acelerou o carro cantando pneu e foi embora.
Ele ficou sozinho e pensou em pegar seu carro para ir atrás mas sabia que seria pior. Ela não ia querer ouvir nada.Se enfiou no elevador de novo clicando no andar deles. Encarou o reflexo no espelho se sentindo derrotado. Morto por dentro. Ouviu o toque do celular e olhou esperando que fosse ela. Não era. Era Juliana.
Ele desligou o aparelho, porque sabia que Heloísa nunca mais iria querer saber dele então não havia sentido deixar o celular ligado. Ela jamais ligaria para ele. E se precisasse dele, tinha o número do telefone fixo.
Entrou na casa agora vazia. O cheiro dela ainda estava ali, na sala. Stenio caminhou até seu quarto e viu a cama toda arrumada, as maquiagens dela espalhadas pela penteadeira e as compras em cima da cama.
Do lado dele. Presentes. Para ele, pra ele usar com ela.. Diversas coisas.
Stenio se ressentia muito pelo jeito de Heloísa de não ser carinhosa. Por ele sempre ser o responsável pelo romance, as flores, os encontros especiais e os chocolates. Com o passar do tempo diminuiu o ritmo, esperando que ela fosse compensar a falta. Mas a falta só foi aumentando o buraco entre eles dois.
Mas ele via, do jeito dela, como ela estava tentando se reaproximar nos últimos dias. Stenio não tinha plano algum de fazer o que quer que fosse com o crush, ou seja lá o que fosse, a queda que tinha pela colega de trabalho. Ela era bonita, bem humorada, eles se davam bem.
Mas Stenio já tinha tentado suprir a ausência de Helô com várias outras mulheres e ele sabia qual era o resultado. Ninguém era ela. Então, obviamente, ele não tentaria. Nem ousaria tentar. Ele prometeu jamais fazer isso com ela de novo, e era um homem de palavra.
Mas não conseguia controlar seus pensamentos. E se deu conta que um dia já quase perdeu Heloísa para alguém também e se perguntou quem.
Não tinha muito a ser feito, não naquela noite. Ele preferiu tomar um banho gelado e passar a madrugada inteira na cama sem dormir, pensando nela.
No dia seguinte Maitê veio buscar uma mala de roupas de Helô, pela primeira vez. Todas as outras, ela o expulsava e o tirava de casa, arrumava o maior barraco e eles brigavam até o fim. Dessa vez ela silenciosamente se foi.
— Eu preciso falar com ela, Maitê. Pede pra ela me atender, eu preciso.. — Ele demonstrava desespero.
A amiga de sua esposa suspirou e balançou a cabeça negativamente.
— Dessa vez ela não quer conversar, Stenio. Não quis nem comigo.
— Então deixa eu te explicar! As coisas do meu ponto de vista assim você conversa com ela e..
Por dó, Maitê ouviu tudo do começo ao fim. Foi para a casa e deixou a mochila no quarto de hóspedes para a amiga.
— Precisa de alguma coisa? — Ela perguntou, batendo na porta.
Heloísa encolhida na cama tinha ouvido as rodinhas da mala com seus pertences.
— Não, valeu. — Respondeu, seca.
Maitê fechou a porta e deixou a amiga ser fria como quisesse. O dia que se sentisse pronta, viria conversar.
Não viu que Heloísa secava as lágrimas e estava com o coração completamente partido.
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