Heloísa ouviu baterem na porta e Maitê gritou pedindo para que ela abrisse. De repente, seu neto passou correndo pela porta. Pepeu, Drika, Stenio e a menorzinha, sua mais nova neta, entraram.
Aquela bagunça se instaurou na sala. Todos se cumprimentando. Heloísa percebeu que perdeu completamente a noção do tempo e se esqueceu dessa viagem que tinham programado pra voltar definitivamente a morar no Rio.
Heloísa pegou a pequenininha dos braços de Stenio e a encheu de beijo, depois de ter feito o mesmo com o maior
— Ah meu Deus mas que saudade que eu tava dessa princesa! — Heloísa ajeitou a menina em seu colo.
Ela era apaixonada na avó. Grudou em Helô de todas as maneiras possíveis deitando a cabeça em seu ombro, e segurando os dedos da avó com a mão.
— Ué, o vovô não deu oi pra vovó.. — Felipe observou.
Heloísa gaguejou e olhou para Stenio.
— Foram tantos beijos que a gente até se perdeu, Fe. — Stenio justificou se colocando na frente de Helô. A pegou pela nuca e deu um selinho demorado na boca dela. — Oi, meu amor.
Heloísa o fitou com o olhar. Ele conseguia ouvir os palavrões dentro da cabeça dela.
— Vai mãe, bora. Pega suas coisas e vamos. — Drika cobrou. — A gente ainda nem almoçou.
— Eu expliquei pra eles, amor..
Maitê apareceu no corredor tentando entender aquela barulheira toda.
— Expliquei que a Maitê fez uma cirurgia importante e você ficou uns dias aqui com ela.. Mas agora que ela tá se sentindo melhor dá pra você participar de tudo que programamos juntos, né? — Stenio olhava para Maitê e Heloísa esperando por confirmação.
Helô ficou completamente parada no mesmo lugar, absorvendo aquele tanto de informação.
— Sim. — A voz de Maitê a acordou do transe. — Com certeza. Eu to ótima na verdade, vou lá buscar a mala da Helô e o Stenio já bota no porta-malas..
Ela voltou carregando peso.
— Ué, madrinha. — Drika olhou para Maitê. — Foi cirurgia do que que você parece que tá nova em folha?
Heloísa não acreditava naquele circo todo.
Maitê e Stenio trocaram olhares.
— Sabe o que é? Eu tava com.. Pedra na vesícula. Daí a gente removeu a vesícula, mas nossa tô me sentindo ótima na verdade eu nem devia ter atormentado sua mãe pra ela ficar aqui mãe você conhece, né.. ela fez questão.
Stenio admirou Heloísa grudada na bebê. Por mais que estivesse com raiva, aproveitava o momento para agarrar a pequena e matar toda a saudade.
Stenio foi se apressando em enfiar a mala dela no carro enquanto tudo acontecia ao mesmo tempo.
Os pequenos brigaram com o pai e a mãe querendo ir no carro dos avós, e quando Heloísa se deu conta estava no banco da frente ao lado de Stenio.
Os pequenos ali atrás não paravam de contar absolutamente tudo sobre a vida deles e sobre como estavam com saudades. A empolgação de visitar o vovô e a vovó era maior que tudo.
Stenio sempre foi bom com as crianças. Dava a maior atenção e batia um papo com o mais velho. Eles tinham tudo em comum, porque a cada vez que Felipe via o avô, se apaixonava por alguma coisa que Stenio era apaixonado. Foi assim com o futebol, com a pipa, com o filme dos dinossauros e agora estava sendo assim com a fórmula 1.
— Você não vai acreditar no presente que eu e a vovó compramos pra você, amor. Você vai piraaaaar!
— A gente pode dormir lá na casa de vocês hoje? — O menino perguntou animado.
— Claro que sim! A gente faz o cinema na sala como sempre. E o pai e a mãe de vocês que se vire com a mudança! — Stenio gargalhou. — Eu acho até que agora que vocês vão morar aqui vocês podem ficar num tempão com a gente. Pra matar a saudade, sabe?
Heloísa o encarou.
Poderia ser mais óbvio?Os dois carros entraram no estacionamento do restaurante onde iriam almoçar.
Drika e Pepeu se ocuparam das crianças e Stenio pegou a mão de Helô. Sentiu ela apertando seus dedos com força e torcendo eles para trás.— Ai. Ai. — Ele sofreu genuinamente sentindo dor.
— Muito engraçadinho. Você acha mesmo que você vai se safar dessa, Stenio? Sério? Ficar fingindo pra eles que tá tudo bem?
Ela brigava com ele e toda vez que seu tom de voz ficava alto ela voltava a a sussurrar.
— Amor, eles tão voltando pro Brasil agora, tão precisando da nossa ajuda. Você realmente quer entrar ali naquele restaurante e contar que estamos nos divorciando pela trigésima quinta vez?
— Milésima quarta. — Ela corrigiu apontando o dedo na cara dele.
Olhou na direção do restaurante. As crianças não mereciam aquela instabilidade toda. Ela ficou de conversar com Stenio mas aquilo tudo era ir rápido demais. Não era como ela tinha planejado.
— Você que sabe. — Ele suspirou, frustrado. — Se você quiser, vamos ali e contamos pra eles toda a verdade. — Stenio ofereceu.
Heloísa ouviu a pequena chamando por eles dois e sentiu seu coração apertar.
Quando se deu conta, estavam todos na mesa de um restaurante italiano que era o favorito de Helô. Drika e Pepeu davam conta das crianças enquanto contavam empolgados sobre as casas que iriam visitar nos próximos dias e agradeciam pela ajuda que eles iam oferecer — tanto com a mudança, quanto com as crianças.
Heloísa se viu dentro do restaurante com o braço de Stenio passado ao redor de seu ombro, dando eventuais cheirinhos nela. Ele estava abusando do teatro, porque estava com saudades, disso ela sabia.
— Imagina amor. Eu e seu pai.. — Heloísa lançou um olhar para Stenio, querendo matá-lo. — Sempre estaremos aqui por vocês. — Disse, sinceramente, olhando para sua família.
De repente aquele buraco em seu peito doía bem menos com ele ao seu lado, mesmo que estivesse sendo o Stenio de sempre e ajeitando as coisas do jeito mais torto possível. Sentiu vontade de rir, mas não podia. Principalmente porque sabia que não conseguiria perdoá-lo nem tão cedo. Mas agora era sobre sua família inteira, não só sobre eles.