Capítulo Vinte

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França, Paris.
Hospital emergencial de La' France,
00:15 pm, sábado, Natal

Silêncio. Quando pequeno, Jimin gostava do silêncio que o seu quarto abrigava. Gostava de ver as copas das árvores balançarem junto ao vento, gostava também, de poder se entender consigo mesmo.

Solitude. Ele também gostava dos significados que essa palavra trazia, e então, aprendeu a ser uma pessoa sozinha. Isso não era ruim, pelo contrário, aprendeu que ele se tinha e então, era o suficiente.

Cresceu, pessoas povoaram sua vida, se apaixonou, alguém lhe tomou o espaço vazio no coração. Jungkook o fez transbordar. Teve filhos. Quatro, quatro filhotes lindos, saudáveis, e que de repente, se tornaram tudo o que Jimin jamais cogitou precisar ter.

Ele estava bem com o rumo que sua vida estava tomando, trabalhava com o que amava, medicina foi o que sonhou por toda sua infância, ingressar na carreira e ver que caramba! Hoje em dia ele é um médico, ele cuida das pessoas, e quando chega em casa, exausto de um plantão, quem cuida dele são aquelas crianças.

Aquelas crianças que em um passado distante, Jimin enchia a boca pra falar que nunca teria filhos, que não sabia cuidar de si próprio, quem diria ser responsável por outra vida? Na sua primeira gestação, ele teve medo, receios, ter um bebê no auge da sua carreira atrapalharia tudo!

Mas então, Jungkook existia, estava ali, como uma âncora, ele era o seu suporte, em dias chuvosos, era para ele que corria com medo dos trovões. Hoje, ele acolhe Baeyoung em seus braços, enquanto junto a ele, esperava a tempestade passar. Muitas coisas mudaram, o Jimin de dezenove anos, perdido em meio ao campus, o Jimin de vinte e três, conhecendo um mundo novo, tendo sensações novas e então, o Jimin de vinte e nove anos, pai, e esposo.

Mas também havia o Jimin machucado, aquele que se escondia através dos sorrisos gentis, das palavras bonitas, e das ações bondosas. Fazia parte de sua personalidade, não evitaria deixar de ser quem era. Porém crescer, sair do seio familiar trouxe inseguranças, essas mesmas que ele ainda carrega.

Se casou, a insegurança de não saber lidar com um casamento, a pressão da família de Jungkook era o maior pivô de suas insônias. Engravidou, a insegurança de não ser bom o suficiente para aquela criança ingênua, que precisava tanto dele, como Jimin precisava da mãe.

Ter os outros filhotes não foi mais fácil que o primeiro, ainda exista receio a cada memória que guardou, existia também, um corpo fraco e exausto de ouvir: "Você não dá conta nem de um, imagine três!", "Você é um péssimo pai, por que não os abortou?", "Jungkook nunca deveria ter se casado com você".

A mente dele era como uma doença mortal, lhe matava aos pouquinhos, roubando de certo modo, a melhor versão de si mesmo. Foi um horror viajar com aquela família, suportar ofensas que atingiam diretamente o seu lado emocional, mexia, bagunçava o psicológico, e para Jimin, que nunca precisou lidar com isso, agora tinha em mãos sua saúde mental aos pedaços.

Na faculdade, teve alguns amigos que cursaram psicologia, a mente humana para ser estudada. Para ele, via as pessoas procurarem ajuda, tentando terem de volta suas vidas, a posse e o controle dos pensamentos. Jimin não entendia o motivo deles irem atrás de um psicólogo. Até precisar procurar por um.

A saleta espaçosa ocupada por um leito, uma poltrona, e os equipamentos médicos não eram os únicos itens que ocupavam o cômodo. Jungkook estava ali, beirando a exaustão, a poltrona desconfortável ferrava com suas costas, e a dor de cabeça latejante lhe assombrava. Tudo ali dentro era branco, o que já irritava suas vistas ardidas.

Seus olhos ardiam de tanto choro, sua boca ressecada, a garrafinha de água esquecida ao lado, assim como o telefone que foi desligado, pois não tinha estado de espírito para atender as incessantes ligações, o tanto de mensagem.

Family Issues • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora