De novo mudança

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Hoje tenho 18 anos, soube depois de um tempo que eu morri por 50 segundos e me reanimaram na estrada mesmo, com choques no peito, hoje estou mudando de cidade pela 6 vez, parece que minha tia é muito boa em seu trabalho e está sendo mais uma vez promovida em sua carreira.

Desde a morte dos meus pais eu passei a morar com minha tia Ângela, ela é médica então não vejo ela sempre, quando contei pra ela que vejo espíritos ela deduziu isso como um trauma e passou a me levar para psiquiatras e psicólogos, todos passam remédios fortes que me deixam dopada mas que ajudam a inibir meu dom, o problema e que não posso fazer uso continuo e com o tempo que paro as coisas voltam a acontecer, eu vejo espíritos o tempo todo.

Eu tentei bebida e maconha para ajudar também, mas fui descoberta e virei uma "jovem problemática", o que me levou a mais terapias e mais remédios ate que me viciei em sonífero e decidiram cortar os remédios definitivamente da minha vida, agora eu não faço uso de nenhum medicamento e sinto que posso enlouquecer todos os dias, então decidi que vou passar a maior parte do tempo em casa onde eu geralmente não vejo ninguém que não devia ser visto.

Acordo com o despertador tocando, dou um tapa nele para fazer parar o som irritante e ele cai no chão.

- Merda...

Levanto da cama, hoje é mais um primeiro dia de aula na nova escola, arrumo meus cabelos loiros que batem na cintura, passo lápis negro nos olhos que realçam o azul claro, coloco meu casaco com meus fones de ouvido e puxo o capuz, lá fora hoje está nevando segundo o noticiário, e eu confirmo isso assim que abro a janela.

- Quando isso vai acabar? - Falo olhando minha imagem no espelho.

Desço pra tomar café da manhã e minha tia me assusta ficando parada bem atrás de mim...

- Desculpa! - diz ela levantando os braços se rendendo e rindo - Não queria te assustar.

- Tá..

- Só queria te desejar boa sorte... 

- Tia, não é a primeira vez que sou a novata da sala, vou te falar como vai ser, vou sentar com isso - mostro os fones de ouvido - E ignorar todo mundo...

- Como você vive fazendo - Ela suspira.

- Tá tudo bem, sério.

- Vou te levar.

- Tia, é dois quarteirões daqui, eu consigo ir andando.

Me despeço e caminho para escola.

Ok, existem dois lados na minha vida agora, o bom e que é uma nova chance de começar do 0, o remédio que tomava me deixava abatida e sonolenta o que muitas vezes me gerou apelido de "drogada" ou "esquisita", o lado ruim, eu não estou tomando os remédios, então tudo volta a ser um inferno.

Chego na escola mais tarde, locais públicos geralmente ficam com a temperatura mais fria para mim, e esse é o primeiro sinal da presença deles, locais onde existem muitas pessoas geralmente indica de que provavelmente em algum momento alguém morreu aqui, eu consigo identificar alguns dos mortos pela sua aparência abatida e jeito perdido, e é assim que eu sei quando não devo responder quando eles falam comigo, evitando passar a aparência de que eu sou completamente louca.

Ignoro o frio como sempre e sigo andando procurando a secretaria.

Vejo uma menina no corredor de costas pra mim e de frente pra uma parede de armários, é a única presente no corredor então vou falar com ela e tentar conseguir informações.

- Por favor, você pode me informar onde é a secretaria?

Ela fica parada, toco em seu ombro e ela vira bruscamente assustada, seu rosto está com um grande buraco na testa que está manchado de sangue, quando abre a boca eu vejo dentes e língua totalmente pretos.

- VOCÊ PODE ME VER?

- Merda - solto ela e disparo pelo corredor em sentido oposto.

Ela me alcança e segura minha mão, seu toque é tão gelado que tenho a sensação de estar com uma bola de neve nas mãos, meu corpo todo se arrepia.

- POR FAVOR! VOCÊ PRECISA ME AJUDAR! EU NÃO SEI O QUE ACONTECEU, NINGUÉM FALA COMIGO NEM ME OLHA NOS OLHOS! EU NÃO SEI A QUANTO TEMPO EU ESTOU AQUI!

Não tenho coragem de olhar nos olhos dela porque eu sei que eles são duas bolas azuis opacas, então foco o olhar em algum lugar atrás dela, e a respondo sussurrando.

- Olha... Eu não tenho ideia de como posso te ajudar, por favor, me deixa em paz ok? Segue a luz! Não quero mais ver mortos ok? 

- EU TO MORTA?

Solto minha mão da dela com um puxão e suspiro.

- Tem um buraco na sua cabeça, isso foi um tiro? Você tá gelada! E ninguém pode te ver a não ser eu? Como não desconfiou disso antes? POR FAVOR me deixa em paz! Eu não quero me envolver ok?

Outro detalhe do meu "dom" é que eu sinto as emoções dos espíritos, e ela estava muito triste, limpo as lágrimas em meus olhos e viro as costas pra ela.

- Estava falando sozinha? - Pergunta uma morena que estava bem atrás de mim.

Eu olho por cima dos ombros e a menina morta não esta mais lá, eu me sinto mal pela forma que falei com ela, mas o que posso fazer? 

Eu suspiro e encaro a estranha na minha frente, estico a mão e toco nela para verificar se é uma viva ou morta, ela já me acha louca, não vai ligar de uma pequena cutucada em seu ombro, certo?

- Ok, isso esta estranho - fala ela afastando a minha mão de seu ombro - Você tá legal?

- Desculpa... Eu to meio perdida aqui, sabe onde é a secretaria?

- Hoje é seu dia de sorte, fui expulsa da sala e você é novata certo? - faço que sim com a cabeça - Ótimo! Eu te apresento a escola, temos 58 minutos, você tem nome ou te chamo de estranha cutucadora mesmo?

- Taylor 

- Daniela, mas chama de Dani..

Ela cruza seu braço no meu e sai me arrastando pelo corredor da escola

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