Segundo capítulo

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DIEGO

O elevador parece subir em câmera lenta, observo os números brilharem lentamente indicando o andar em que estávamos. As portas se abrem no décimo terceiro andar, ao caminhar para fora noto que ele já está parado na porta. Amaury está sério, braços cruzados, uma regata branca, chinelos e uma calça de moletom claro adornavam a alta estatura robusta e tentadoramente linda.

— O...i... — Gaguejo nervoso. Talvez vir até aqui tenha sido um erro. Talvez eu devesse ter esperado a resposta. Talvez ele estivesse com visita e por isso não respondeu. Talvez ele me ache invasivo. Minhas mãos tremem e por alguns segundos eu cogito voltar para o elevador e fingir que nada aconteceu.

— Oi, Diego.
— Desculpa, desculpa, foi um erro. — Paro no meio do corredor encarando os olhos dele — Eu não deveria ter vindo. Desculpa.

Viro as costas e caminho rapidamente em direção ao elevador.

— Eu gostei. — Ele fala em um tom baixo — Eu gostei da sua preocupação. — Volto a olhar para ele — Obrigado por se importar.

Meu coração bate tão forte que por segundos eu posso afirmar que consigo ouvi-lo.

— Você não está bravo por eu estar aqui?
— Claro que não.
— Você não me respondeu. — O observo sério.
— Eu não queria mentir para você... — Ele esfrega as mãos uma na outra — Podemos entrar? Não quero ficar conversando sobre o meu fracasso no corredor.

Abro e fecho minha boca em uma resposta que não vem. Sigo a mão estendida até passar pelo batente da porta.

— Senta, fica a vontade.

Obedeço me sentando em uma poltrona de frente para o sofá. Ele me olha ainda em pé.

— Você quer alguma coisa? Uma água?

Balanço a cabeça negando e ele se senta à minha frente. O silêncio invade a sala e por segundos eu tenho a certeza de que fiz uma grande besteira agindo no impulso.

— Obrigado. — Ele fala novamente e sorri — Obrigado pelas mensagens. Obrigado por ter vindo. Eu não estava bem. Realmente não estava. — O olhar dele se perde em algum ponto da parede branca.
— Eu imaginei, Jeremiah é um babaca! O jeito que ele falou com você, todo mundo ficou revoltado. Se existe alguém que não merecia ser tratado assim, é você.
— Não, Diego. Eu errei. Eu fiz tudo errado. Eu... falhei e ele é um jurado reconhecido internacionalmente. Ele falou o que precisava ser falado.
— Não, Amaury! — Me levanto e caminho até a janela dele — Não, ele não precisava ter falado assim com você, porra, você ganhou duas provas e foi um dos melhores em várias outras.
— Mas ele sempre me criticou.
— E você nunca mereceu! Parece que ele tinha raiva de você por algum motivo. Ele foi um babaca. Ele foi babaca ao ponto de ser chamado a atenção pela direção.
— Sério?
— Sim! Eu nem podia estar te contando isso, mas eu acho muito injusto você ficar se sentindo dessa forma por causa dele. Ele é um babaca. Ridículo e maldoso!

Observo ele abaixar a cabeça e esfregar o rosto algumas vezes.

— Não, Diego. Ele está certo, eu não merecia a vaga e talvez essa não seja a profissão certa para mim.
— Amaury! Pelo amor de Deus, você cozinha perfeitamente bem, é uma pessoa incrível...
— Eu... eu não consigo pensar nisso. Cada vez que eu penso sinto um gatilho, meu peito dispara, minha mão treme. Eu acho que talvez nunca mais eu volte a cozinhar.

Balanço a cabeça em negação. Eu não deixaria isso acontecer, não deixaria ele se sentir assim.

— Não vou deixar isso acontecer. Você vai cozinhar sim.
— Não vou, eu fiz uma promessa de não cozinhar mais até que eu encontre a minha vocação.
— A sua vocação é a culinária, Amaury.
— Só se as pessoas gostarem de comer sabão.

Chef - Dimaury 🔞Onde histórias criam vida. Descubra agora