capítulo 2.1: o coração tem razões que a própria razão desconhece

1.9K 133 19
                                    

"Só você me conhece do jeito que você me conhece
Só você me perdoa quando me desculpo
Mesmo quando eu estrago tudo
Lá está você"

— There You Are,
ZAYN

●●●

CAPÍTULO DOIS
o coração tem razões que a própria razão desconhece.

Fui suficientemente solícita quando os primeiros arranjos da funerária chegaram na casa de Alissa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Fui suficientemente solícita quando os primeiros arranjos da funerária chegaram na casa de Alissa. Minha melhor amiga ainda estava dormindo lá pelas uma da tarde e eu não quis acordá-la quando as flores e outras decorações chegaram. Pelo que Anne compartilhou comigo, Lissa não fechou os olhos desde que soube da morte do marido. Se agora está dormindo, é melhor que continue. Quero poupá-la o máximo possível, porque sei que o pior será encarar o rosto pálido e sem vida de Aiden dentro do caixão.

O cheiro da tal funerária era horrível —, tanto que inexplicável — mas não por falta de cuidados, na verdade, é o cheiro comum de uma. Mofo e uma quantidade absurda de colônias para amenizar o cheiro, o que, ao meu ver, é completamente inútil. A decoração já estava no seu devido lugar, esperando a chegada dos familiares, apenas. O velório aconteceria às três da tarde, então a única coisa a minha disposição era voltar à casa de Lissa e me preparar para o mesmo, ainda que eu deteste isso.

Ao regressar à casa da minha amiga, notei a presença de um carro. Provavelmente alguém muito bem resolvido financeiramente tinha chego a agradável casa da minha amiga no intervalo de tempo em que estive na funerária. Alissa, por ter trabalhado com muitos artistas, fez muitos amigos. Anne, é uma delas. Os pais dela moram em Holmes Chapel, há algumas quadras da casa de Anne, por isso se conhecem.

Olho novamente para o carro.

O modelo é novo.

E conceitualmente caro. Bem caro, admito.

Por fim, decidi ignorar tamanha ostentação num momento de sofrimento e adentrei a casa, indo até a cozinha. Anne está de avental e terminando de preparar o almoço. O prato escolhido — salmão defumado, batatas coradas e salada — gerou discussão com alguns presentes, e eu não entendi o motivo. Como o ser humano consegue discutir num momento desses? Alguém morreu. Aiden morreu. O filho de alguém, o neto de alguém, o sobrinho, irmão,  primo e marido de alguém não está mais entre nós. Uma pessoa feita de carne e osso.

Anne percebeu o meu incômodo e pôs fim à discussão.

Queria proteger Alissa do mundo, da ignorância e da insensibilidade alheia. Até tentei pôr isso em prática quando regressei da funerária e deixei as compras à disposição de Anne. Inevitavelmente fui a minha amiga, mas miseravelmente esqueci a ideia de protegê-la. Nada nesse momento seria capaz de protegê-la do sofrimento, a não ser a notícia inacreditável de que seu marido estivesse vivo, de bochechas coradas e coração batendo. Isso eu não poderia oferecer pra ela.

WeekendOnde histórias criam vida. Descubra agora