Acordei assustada, minha testa suava muito e minha respiração estava acelerada, fazendo o meu peito subir e descer rapidamente. Sonhei o mesmo sonho essa noite, não sei se devo chamar de sonho, pesadelo é o mais adequado. Os gritos da minha mãe, o cheiro de sangue e fumaça ainda estavam frescos na minha memória, era muita coisa para uma criança passar. Tentando acalmar a minha respiração, fechei os olhos e tentei tirar toda a agonia que rondava a minha cabeça.
Quando finalmente meu coração parou de bater como um tambor em dia de festa, o sino tocou. Prestando mais atenção onde eu estava, vi o Eren dormindo esticado no chão com a Mikasa o olhando de costas para mim. Ela não deve ter me visto, já que estava com o olhar tão focado no garoto. Coçando os meus olhos para tirar o incômodo de uma noite mal dormida, voltei minha atenção para o Eren. Ele parecia estar na mesma situação que eu estava a poucos minutos atrás, preso em um pesadelo. Finalmente tomei coragem e me levantei do chão frio que eu estava deitada, passamos a noite dentro do que parece ser um depósito, dormimos no chão duro, bem diferente do que estávamos acostumados.
— Acorda ele, Mikasa. - disse finalmente tendo a atenção dela. — Ele não merece ficar preso no mesmo pesadelo. - falei me direcionando para a porta do local. — Vou pegar comida, me espera aqui. Onde está o Armin? - perguntei notando a ausência do loiro.
— Ele está com o avô dele, acho. - ela falou olhando para o chão. Apenas concordei e voltei a tomar o meu caminho para fora dali.
Assim que deixei os dois pra trás pude ver a situação que nós refugiados estávamos. Tinha muitas pessoas em um grande pátio formando várias filas para pegar comida que os soldados da muralha estavam distribuindo. Andando entre a multidão, mesmo que eu tenha me espantado com a grande quantidade de pessoas em tão pouco espaço no começo, analisando melhor eram muitos poucos sobreviventes. Shiganshina tinha uma boa quantidade de população, e ver que apenas isso sobrou, me deu um aperto no peito. Então o meu pai veio na minha cabeça, o que me fez ficar ainda mais triste. Quando chegamos ontem no distrito mais próximo e seguro, eu não consegui dormir sem antes vasculhar todos os que desciam dos barcos e os abrigos lotados de pessoas desoladas que perderam tudo. Fiquei horas e horas procurando por ele, e nada, nem mesmo um sinal da sua presença. A sensação de ser uma órfã me apavorou, mas tentei me acostumar com a situação e aceitar que meu pai realmente morreu naquele massacre, seria mais fácil do quê alimentar uma falsa esperança, embora ainda me arde os olhos pensar que perdi as pessoas mais importantes da minha vida.
Andando ainda com todos esses pensamentos não prestei atenção ao meu entorno e acabei esbarrando com alguém sem querer. Tirando os meus olhos do além e voltando para a pessoa a minha frente para pedir desculpas, vi que havia esbarrado em uma menina com cabelos loiros e olhos azuis. Seu rosto estava tão relaxado e seus olhos transbordaram indiferença.
— Me desculpe, eu não estava prestando atenção. - disse com um leve aceno de cabeça.
— Eu também não. - ela disse. Dei um sorriso muito leve de canto com sua declaração. Estava pronta para virar para ir a uma fila para pegar comida para mim e para os outros, mas a garota que ainda não sei o nome parecia que ia falar alguma coisa. Voltei novamente minha atenção para ela, esperando que falasse algo, mas ela só ficou me encarando por um tempo.
— Está tudo bem? - perguntei franzindo a minha testa e inclinando levemente a cabeça para o lado. Ela ainda não me respondia, mas seu olhar se desviou para o meu colo, logo abaixo do meu pescoço. Quando fui ver o que lhe prendia tanto a atenção notei o colar que minha mãe me dera antes de morrer, e imediatamente entrei em pânico. Não podia deixar as pessoas verem ele, poderia descobrir quem eu verdadeiramente era e minha preciosa cabeça ia ser posta em uma estaca. Limpei minha garganta tocando no colar, precisava de uma desculpa, ainda bem que era uma boa mentirosa, afinal quem esconde sua verdadeira identidade por tantos anos deve ser alguma coisa. —Bonito não é? - comecei. — Vi ele jogado na multidão e peguei. Parece valer muito, não acha? Com tudo isso que está acontecendo, ele pode valer alguns dias de comida garantida. ‐ falei para a garota na minha frente repousando meu olhar em seus olhos para ver se ela caiu na minha mentira. Mas infelizmente, se eu sou uma boa mentirosa ela é uma ótima pessoa em não demonstrar emoção, seu rosto era tão passivo como da primeira vez que nos trombamos. —Nem coloque o olho, eu vi primeiro. - disse com um leve sorriso antes de colocar o colar de volta na parte de dentro da minha blusa. — Você já comeu? Estou indo pegar comida, quer vir comigo? - eu suspirei e perguntei tentando mudar de assunto. Ela desviou levemente o olhar para pensar mas logo voltou a me fitar. Ela acenou com a cabeça e fomos em direção a uma das filas que estava atendendo mulheres e crianças como prioridade, eu fiquei na frente e a menina logo atrás.
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FOGO E SANGUE - Imagine Attack on titan
Hayran Kurgu"Naquele dia, a humanidade se lembrou do terror que é estar nas mãos deles" A humanidade presa nas muralhas, reféns de criaturas monstruosas que os caçavam não imaginava o tamanho do mundo lá fora, ou se quer quem realmente os protegeu e lutou pela...