Aquele sobre o sonho de setembro -14/09/2023

11 3 18
                                    

Certamente não consigo lembrar de como começou e as sensações me são mais claras que as imagens. Lembro de estar em uma moto, minha mãe pilotando durante a noite e eu era apenas uma criança. Haviam outras, mas eu não as reconheci. A velocidade era vertiginosa e eu não me sentia segura, era como se fossemos bater a qualquer momento. Eu estava apavorada como se tivesse a certeza de que todos morreríamos com aquela imprudência, então fechei os olhos com força e perdi o momento em que a moto diminuiu a velocidade e derrapou, jogando todos nós para fora.

Ficamos todos desolados próximos a uma escadaria e eu mal conseguia encarar o rosto ralado da minha mãe, enquanto ela sequer parecia se abalar com sua imprudência, mas eu não me importava também. Eu estava cansada e deitei no chão quando dois guardas surgiram e mandaram que eu levantasse, nos olhando com certo desprezo. Tomei o colo da minha mãe e me aconcheguei nela, buscando um lugar para me sentir segura e acolhida, notando a sensação que cativei durante a maior parte da minha vida. Eu não me importava o quanto ela nos arriscava a vida, eu só queria que ela estivesse comigo, me protegesse e amasse. Eu queria pertencer a ela e queria que isso a fizesse feliz. Mas quanto mais eu desejava isso, mais eu notava que não era real.

Um caminhão de mudanças surgiu e os guardas pediram para que a moça lá dentro me levasse para dentro de uma casa grande que estávamos perto. Pouco me lembro do lugar para onde fui levada, mas sei que havia uma festa de aniversário com várias pessoas sorridentes e eu ganhei um pedaço grande de bolo. Pude ouvir um homem dizer que pediu que eu fosse bem tratada e recebesse o maior pedaço, pois era exatamente do que eu precisava naquele momento.

Não sei dizer o que me levou para os fundos daquele lugar, mas ultrapassei as grandes cortinas e pude ver os bastidores da festividade que estava sendo organizada.

Imediatamente fiquei encantada com a cena: um dragão! Era vermelho, talvez menor que eu, mas ainda grande. Me perguntei de que material ele poderia ter sido feito, se era algum tipo de papel e que estruturas o preenchiam para que ele se movimentasse. As patas dianteiras subiam e desciam, o pescoço se curvou, lançando a cabeça para trás, abrindo a bocarra de onde foi lançado centenas de fitilhos brilhantes que imitavam fogo. A sensação que tive foi de presenciar os bastidores de um desfile carnavalesco.

Ao acompanhar o percurso do fogo falso visualizei um caminho de fitilhos brilhantes no alto, presos de um lado a outro, coloridos e claros, mas só os rosas e azuis se fixaram na minha mente. Eram centenas, talvez muito mais, presos num percurso longo acima da minha cabeça, mas eu poderia facilmente tocar os mais baixos se esticasse a mão, mas eram tão lindos que senti que não deveria correr o risco de estragar com o meu toque. Por alguma razão aquilo me fascinou de uma forma que eu sequer me sinto apta para explicar com exatidão. Foi como enxergar algo divino e receber uma resposta para perguntas que fazemos inconscientemente nos piores momentos da vida: era a confirmação de que havia um depois e que era lindo e bom.

Ter aquela resposta me encheu de alegria e gratidão. Fui grata principalmente por ter resistido e não ter cedido e desistido quando tive a certeza de que era impossível superar e sobreviver. Nós superamos e tem sido cada vez mais gratificante. Eu sei que não será sempre fácil, teremos momentos cada vez mais desafiadores, mas o meu legado será da resistência e da busca pelo melhor caminho e eu mal posso esperar para experimentar as delícias da vida que eu me presenteei me dando uma segunda chance. E eu me senti abençoada naquele momento e até depois que acordei.

Bruna Leonne

Narrativas de uma PoetisaOnde histórias criam vida. Descubra agora