Aquele sobre as marcas - 09/02/2024

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Nunca parei para pensar de fato nas marcas que as pessoas passageiras deixam em minha vida. Os momentos que, mesmo que não sejam capazes de ter um sentido no momento em que ocorreram, abrem espaço e se instalam em minha mente, ocupando uma pequena parte que me inspira e guardo com esmero.

Essa semana lembrei da A. J., residente com quem pouco convivi e, portanto, deveria ser fácil de esquecer. Ela era gentil, muito amorosa e educada, falava mais do que qualquer um gostaria de ouvir e sua flutuação demandava muita atenção.

Em um de seus últimos momentos comigo, antes de sua última internação ela se irritou com o J. V. Ele estava agitado, falando alto e batendo palmas, então parei ao lado dele, deixei que me abraçasse e encostasse a cabeça em meu abdômen e lhe cocei a cabeça delicadamente até que ele ficasse quieto. Ela soltou palavras de satisfação, comemorando o silêncio. Eu lhe respondi rindo, mas incomodada pela birra com meu queridinho: "Ele só precisava de um pouco de carinho". Em seguida ela começou a chorar e pedi que me dissesse o que a incomodava dessa vez: "Eu estou emocionada, porque o que você fez foi lindo.".

Não irei lembrar se ela disse algo mais, ou se a vi novamente antes de partir, mas esse momento me marcou e me relembrou do poder de nossas ações na vida das pessoas, enquanto elas ainda estão aqui.

Como de costume me pergunto se poderia ter feito mais, lhe oferecido mais carinho e tê-la feito sentir-se mais amada, como se nunca pudesse ser suficiente. Mas o "e se" não existe e terei de me contentar com o que lhe ofereci e no que pude apreender dela e o meu coração se conforta na paz de tudo o que lhe dediquei.

Bruna Leonne

Narrativas de uma PoetisaOnde histórias criam vida. Descubra agora