s e t e n t a e u m

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Questão de ego

Existe um conceito, que aliás eu acabei de inventar (ou talvez eu não tenha inventado porra nenhuma e só esteja plagiando alguém sem perceber, de forma subconsciente) que se chama paradoxo da insegurança. Ele funciona da seguinte maneira: quando se é inseguro demais, você acaba se autossabotando e nem ao menos tenta ir atrás das coisas que almeja por acreditar ser indigno e incapaz, e se você pensa tão pouco de si mesmo que isso te impede até de tentar, você se torna ainda mais inseguro. Afinal, "se eu não tenho nada do que desejo, se a minha vida não anda, eu devo ser mesmo tão pequeno quanto eu penso que sou". É um ciclo que se retroalimenta.

Me pego pensando em quantas histórias bonitas deixaram de acontecer por causa da insegurança, nos passos largos que a humanidade poderia ter dado se tivéssemos um pouco menos de medo. Vivemos num mundo que nos instiga a ter medo, que glorifica o medo, a estagnação, a submissão. Eu sei que ele é necessário e tem a sua razão de ser, mas acontece que o medo, na maioria das vezes, passa do ponto e não é nada produtivo.

Acho curioso que uma das fobias mais comuns que existem é a fobia social, ou seja, pessoas que tem medo de outras pessoas. Por que é tão importante assim o que o outro pensa da gente? Na grande maioria das vezes, o outro tá emaranhado nas suas próprias questões, na sua própria história, preocupado com seus próprios monstros debaixo da cama, e nem tá prestando tanta atenção assim. Eu acredito que cada um de nós olha muito mais pro próprio umbigo do que ao redor, e se tá olhando demais ao redor, é porque tá evitando olhar pro umbigo. De um jeito ou de outro, orbitamos ao redor de nós mesmos.

No fim, tudo é uma questão de ego. Somos inseguros porque achamos que o mundo tá de olho em nós e nas nossas grandes e pequenas falhas do dia a dia, mas a verdade é que ninguém tá olhando, ninguém se importa o suficiente pra dar uma boa olhada. Podemos errar "à vontade", muito mais do que achamos que podemos. Essa é a beleza de ser insignificante.

Seríamos muito mais felizes de tivéssemos dimensão da nossa insignificância, se abraçássemos ela, mas queremos ser relevantes em todos os contextos possíveis, até aqueles que não nos cabem mais. Aliás, existe algum lugar onde caiba um ser humano?

Para mim, particularmente, é um alívio saber que sou só mais uma entre bilhões vivendo dentro de um pálido ponto azul, acomodado em um feixe de luz que um dia foi observado pelo Carl Sagan.

O infinito ao meu redor me torna pequena, quase microscópica, e consequentemente; me faz sentir segura.

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