Casulo Angelical ( good omens )

sempre perto de você

Aziraphele olhou seu reflexo no chão, encarando seus olhos mortos, tentando achar um real motivo para tudo. Ainda olhando para o seu reflexo, imaginou automaticamente a imagem de Crowley. Por ser meio que sua mente e alma ao mesmo tempo, algumas memórias da imagem de Crowley começaram a aparecer no chão.
Aziraphele levemente se assustou, mas continuou neutro, apenas observando as imagens no reflexo do chão.
A saudade apertou seu peito.
Ele levemente encostou em uma delas, acariciando a imagem.
Deu um leve sorriso fraco.
Em toda a eternidade, Aziraphele não conseguia não sorrir ao ver Crowley. Uma verdade, era que até quando Aziraphele não sabia da existência daquele sentimento pelo demônio, em seus dias tristes, Aziraphele sempre sorria quando via Crowley, quando escutava aquela voz. Mesmo que as palavras de Crowley fossem curtas e grossas, só de sentir a presença dele, já era motivo para Aziraphele ter o dia mudado para algo feliz.
Aziraphele levantou-se e começou a andar pelo local, observando cada figura de Crowley pelo chão espelhado.
Além de imagens de seu amado normalmente, havia as imagens de Crowley zangado por algo que provavelmente Aziraphele fez, era um tanto triste ver essas, pois se Aziraphele tivesse algum arrependimento, era por ter tido tantas discussões com o demônio, tanto tempo perdido por coisas estúpidas. Mas por outro lado, era bom saber que eles sempre corriam atrás um do outro para pedir perdão.
Só de ver as imagens de Crowley, fez Aziraphele se esquecer daquela dor.
De vez em quando, dava algumas risadas dos estilos antigos de Crowley, e às vezes um suspiro apaixonado. Ele sentia falta de Crowley, mas não poderia voltar, aliás, ele estava sempre machucando Crowley. Sentiu o sorriso de seu rosto sumir.
Novamente se sentou no chão espelhado e frio. E continuou a olhar as imagens, mas dessa vez, uma delas chamou a atenção. Era uma com movimento, e nela, estava Crowley, acariciando os cabelos do corpo desacordado de Aziraphele. Aziraphele arregalou levemente os olhos, sentindo suas bochechas corarem. Mordeu os lábios triste, Crowley realmente se importava com Aziraphele, e mais uma vez, o anjo havia o deixado.
- Oh Crowley... - sentiu as lágrimas caírem pelo seu rosto e encostar na imagem.
Automaticamente, Crowley levantou o corpo deitado de Aziraphele, o abraçando forte, ignorando a proteção quente que envolvia o corpo de Aziraphele.
Aziraphele naquele momento só quis sumir.
Não poder sentir aquele abraço, aquela voz, aqueles olhos.
- Oh Crowley! - Aziraphele se abraçou - Eu te quero tanto! - Deixou as lágrimas caírem.
Enquanto via embaçado a imagem de Crowley se queimando por estar perto de si  
- Aziraphele... - uma voz saiu da imagem. Olhou espantado. - Se você está ai, se pode me escutar, saiba que, eu não quero exigir nada de você, meu anjo, eu só quero que você tente olhar para tudo que pelo menos tentou fazer por mim... Pelos humanos, animais... eu só queria ter a chance de poder dizer o quão especial, gentil e gracioso você conseguiu ser mesmo depois de tudo que passou. Por um lado, eu acho que você precisava entender que, o local onde você foi criado, o local onde você aprendeu diversas coisas, foi um lugar tóxico e violento, por isso, se o problema, é você não querer aceitar oque fez, eu acho que você deve se perdoar de uma vez por toda. Eu acho que eu nunca disse isso, mas, Aziraphele, obrigado, obrigado por salvar a minha vida, por se submeter a tortura, pelo demônio arrogante e insensível. Eu sou tão grato por você, que poderia fazer de tudo por ti. Ninguém nunca fez algo do tipo por mim meu anjo. Então, eu tenho certeza que você merece ser perdoado por si mesmo.
Crowley se aproximou do corpo, dando um selinho nos lábios de Aziraphele, que sentiu o calor dos lábios de Crowley nos seus. Mais lágrimas foram derramadas. - Fique o tempo que quiser meu anjo, só não fique para sempre. - Crowley sorriu abraçando o corpo.
Dessa vez, lágrimas de alegrias foram derramadas, ouvir um obrigado, pela primeira vez na vida sem ser irônico, por algo que o mesmo se esforçou, foi algo que esquentou seu coração. Levemente a imagem de Crowley foi sumindo do chão, e agora, diversas imagens de Aziraphele fazendo coisas fantásticas, sem nem ao menos se importar com as consequências. Como na época de Jó, que ajudou o demônio a deixar as crianças vivas, como ajudar a jovem que vendia os corpos para aquele professor de medicina estranho, entre outras pessoas. Ele já havia sido castigado pelos seus atos tantas vezes, mas mesmo assim, nunca nem ao menos pensou em parar de fazer o bem aos humanos. Ele merecia um perdão de si mesmo, de fato.

Suas lágrimas eram incontroláveis, perceber que talvez ele estava sendo grosso demais consigo mesmo, fazia ele se arrepender ainda mais.
- Aziraphele.
Aziraphele olhou para o local, procurando quem o chamava agora.
- Você não precisa me achar, só precisa me escutar.
- Escutar...? - Aziraphele limpou os olhos.
- Minha criança, sei que acha tudo um pouco injusto lá no fundo, sei que lá no fundo se questiona se o errado era você, mas eu acho que já é a hora de esclarecer algumas coisas.
Aziraphele limpou os olhos, apenas tentando ao Máximo prestar atenção.
- Aziraphele, você precisa entender que o perdão é algo divino, que todos precisam. Inclusive você. Eu criei os anjos no intuito de serem meigos, puros, e generosos, como você. Eu os criei com todos esses trejeitos, completamente puros, parecendo realmente crianças, minhas crianças. Mas não há muito que eu possa fazer filho, infelizmente todos mudam, lúcifer deixou sua marca de qualquer maneira no céu, os deixando arrogantes. Quase não consigo diferenciar os demônios dos anjos. Mas ao mesmo tempo, eu não posso simplesmente mudar as suas personalidades. Por mais de ter o poder, eles escolheram ser assim. Mas tudo terá consequências, filho. - Aziraphele sentiu as mãos de Deus o pegar carinhosamente. - Por isso, eu devo dizer que, estou feliz por você Aziraphele. Os outros anjos não passaram nem pela metade do que você passou. Depois de todas as palavras maldosas, toques físicos agressivos, os castigos por coisas desnecessárias, foi demais para você não é? Mas apesar de tudo, você continua sendo o mesmo de antes, com uma alma pura e radiante, sempre querendo ajudar os outros mesmo não tendo muitas possibilidades e muito menos permissão. Eu criei você com tanto carinho e amor, e tive medo de você se tornar que nem eles, mesmo sabendo o final. Mas não, você continuou sendo o meu pequeno Raiozinho de sol. Pena que depois de tudo, você se sentiu tão vazio. Mas se quer saber, você foi muito bem Aziraphele, eu estou tão orgulhosa.
Aziraphele escutou todas as palavras com lágrimas nos olhos, escutar que alguém tão importante estava orgulhoso de você, era algo incrível.
- Descanse um pouco minha criança, sei que você pode estar um pouco confuso, então o melhor a se fazer é descansar, longe dos outros, tomar um tempo só para você. Pense um pouco no que fez durante toda a eternidade, e eu te garanto que você poderá voltar bem melhor.
O lugar escuro de antes se tornou um lugar tranquilo e bonito.
- Mas, e Crowley? Ele pode pensar que eu o abandonei... - Aziraphele se preocupou.
- Ele não vai, apenas confie em mim e tudo ficará bem. - Deus colocou Aziraphele no chão, dando novas roupas, na verdade, apenas uma simples túnica branca 
- Bom descanso pequeno.
Aziraphele sorriu meigamente, sentindo uma felicidade genuína.

Ao longe, observando, Crowley deu um pequeno sorriso. Ele realmente não se importaria de esperar se isso significasse ter aquele brilho de volta. Ele estava feliz por Aziraphele. Muito.
Crowley fechou os olhos, e quando abriu os olhos novamente, estava novamente no quarto.
Acariciou os cabelos brancos de Aziraphele, sentindo sua mão arder um pouco.
Mesmo estando feliz por Aziraphele, Crowley por um lado sentia a saudade já invadir o seu peito.
Com movimentos delicados, Crowley deitou-se ao lado de Aziraphele, e o abraçou, ignorando a pequena queimação.

Não importa onde você esteja, eu sempre estarei ao seu lado. Não importa o quanto queime, eu sempre vou estar aqui, sempre.

Eu irei te proteger mesmo quando não precisar.
Eu irei te abraçar mesmo que você não queira.
Eu irei te cobrir mesmo que você não esteja com frio.
Eu serei o seu casulo.
Por que eu te amo, dês do início.