Resolvido

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Era uma noite tranquila e de brisa suave em soho, com um vento refrescante e acalmante. As lojas da rua estavam todas fechadas e apagadas, e a única luz possível de se ver, além da luz dos postes, era da livraria, uma pequena luz que passava pelas brechas das cortinas e pelo vão da porta.
Lá dentro, se encontrava um demônio, conhecido por poucos como Crowley, o traidor, se afogando em mais uma garrafa de vinho, chutando algumas vazias pelo chão. Muriel, olhava a cena incomodada, pelo cheiro forte de álcool no local, e principalmente pelas diversas garrafas de vinho pelo chão, alguns até mesmo quebrados. Ela queria aconselhar Crowley a parar de beber e limpar a bagunça, ou simplesmente ir dormir, mas sabia que nunca conseguiria pedir isso a Crowley, nem quando ele estivesse bêbado, e muito menos quando estivesse sóbrio, ele não era tão gentil, principalmente depois da partida de Aziraphele.
Muriel exitou, mas resolveu falar.

- Eu... Eu vou dormir, tudo bem senhor Crowley? - Muriel olhou insegura.
- E eu preciso saber? Tanto faz. - Crowley respondeu seco jogando a cabeça para trás.
- certo. -muriel falou baixo enquanto subia as escadas para o quarto que antes era de Gabriel.

Crowley soltou um suspiro pesado em resposta. Ele não dormia mais, porque toda noite, era um pesadelo diferente e angustiante. Então ele voltou a se adaptar a não dormir mais. Nunca mais.

Uma batida na porta.

- Que? Que diabos? - Crowley reclamou frustado, quem era o imbecil? - Que se foda aí fora. - Decidiu ignorar.

Mais uma batida na porta, mais uma mini reclamação, mais um foda-se da parte de Crowley.
As batidas pararam. Crowley suspirou aliviado, mas logo se surpreendeu ao escutar alguns soluços do lado de fora, em uma voz, um tanto familiar... Crowley congelou, e sentiu a brisa, uma brisa, uma áurea, um cheiro diferente, porém, muito, muito familiar. Como ele não tinha sentido a presença dele antes? Crowley levantou às pressas da poltrona e apressou os passos até a porta, abrindo rápido, só conseguindo ver um anjo abraçando os próprios joelhos no canto da porta. Crowley não sabia o que fazer, e muito menos o que sentir. Ele exitou em ficar sóbrio, seria melhor lidar com a situação bêbado, certo?

- Aziraphele... - Crowley iniciou - Levante-se daí, vamos! - Crowley disse, apenas vendo os olhos marejados e inchados de Aziraphele olhando o mesmo. O  demônio estava com raiva, como Aziraphele podia voltar depois de tanto tempo? Como ele poderia voltar depois de ter o abandonado sem mais nem menos? Anjo traidor. - Urgh!

Crowley irritou-se e se sentou ao lado de Aziraphele, não tão próximo, mas nem tão longe.

- Por que voltou? Deveria ter ficado lá com o seu grandioso trabalho, não é? - Crowley continuou - Afinal, não tem nada aqui que te interessa, certo? Arcanjo supremo.
Aziraphele desviou o olhar constrangido. Parecia estar arrependido. Deu um tempo e resolveu falar.
- Crowley... Me escute, por favor... - Aziraphele voltou a o olhar.
- não tem o que eu escutar de você Aziraphele, você já deixou bem claro as coisas, eu tenho que falar aqui! Eu! - Crowley aumentou o tom de voz, mas se arrependeu ao ver o anjo se encolher um pouco.
Aziraphele só o olhou, com um rosto triste e implorando por perdão, ou pelo menos para que Crowley o deixasse falar.
- Aziraphele... - Crowley percebeu suas mãos trêmulas, seus olhos assustados, e seus pés se roçando levemente um no outro. Ele ficaria sóbrio, seria melhor.
Crowley por um momento se sentiu culpado, querendo ou não. Aquela raiva dele era menos do que o amor de anos que Crowley sentia pelo anjo, e uma parte de si torcia para que o anjo lhe dissesse algo bom, ele sabia que uma hora ou outra iria perdoar Aziraphele.
- Vamos entrar. - Ele levantou esperando o mesmo ato de Aziraphele.
Aziraphele levantou grunhindo baixinho.
Crowley o olhou um tanto curioso.
- Algo de errado? - Crowley perguntou.
- Não é nada. - Aziraphele adentrou a sua livraria, e logo atrás de si, segurando antes a porta, Crowley a fechou.
Crowley observou Aziraphele olhar um tanto enojado o estado da livraria, estava podre de poera e com um cheiro enjoativo de álcool. Suspirou envergonhado pela bagunça.
- Você disse que tem algo a me falar, não é?- perguntou Crowley ficando de frente para ele, o olhando com aqueles olhos amarelos penetrantes.
- Crowley... Eu sei que está bravo e magoado comigo, porém, eu vou lhe pedir algo. Me escute, acredite em mim, não aumente o tom de voz de novo... Por favor. - Aziraphele o olhou.
Crowley nunca havia visto antes um olhar tão alegre como o de Aziraphele, tão triste como agora, o que diabos aconteceu nesse meio tempo afinal?  Teve que confessar que seu coração doeu quando Aziraphele pediu para não gritar consigo de novo. Todos os trejeitos de medo que vinha de Aziraphele criaram paranóias em Crowley, o fazendo ficar nervoso.
- E-eu não vou. - Crowley afirmou.
Aziraphele deu um pequeno suspirou antes de começar, ele só queria que Crowley acreditasse em si, ele não queria um perdão, ele não merecia um perdão.
- Olha, eu não queria ter ido, e eu tentei, juro que tentei de alguma maneira gesticular e avisar o que estava realmente acontecendo, mas você não percebeu, eu só quis te protejer Crowley, pelo menos, uma única vez.
Crowley o encarrou irritado, algo na sua cabeça falava que Aziraphele estava apenas mentindo, por mais de não gesticular como costuma fazer quando mente. Crowley sentiu raiva.
- Me proteger? Como? Me deixando largado aqui? Sumindo da minha vida como se nada tivesse realmente acontecido? Depois de todos os sinais? Atos? Conversas? Foi dessa forma que você quis me proteger? Afinal! De que você quer me proteger Aziraphele? - Crowley perguntou indignado, não aumentando o tom de voz.
- E-eu - Aziraphele encheu seus olhos, mas logo os enxugou com a manga de seu casaco - olha, o metratom havia me dito, que ou eu ia para o céu, ou você seria apagado do livro da vida, se pelo menos eu fosse apagado junto com você Crowley, mas não! Ele prometeu me deixar bem aqui, para ficar sozinho, com culpa. Eu só queria te manter aqui... Mesmo que isso significasse ficar longe de você... - Aziraphele colocou as mãos no rosto.
Crowley analisou todas as palavras, por mais de tudo indicar ser verdade, a parte mais machucada de Crowley gritava, falando para o mesmo ir embora, deixar o anjo assim como Aziraphele fez.
Suspirou fundo, e resolveu escutar a sua parte mais machucada.
- Você já foi um mentiroso melhor Aziraphele. - Crowley disse seco.
Aziraphele abaixou as mãos de seu rosto, o olhando completamente surpreso. Abaixou o rosto, com um olhar morto, apenas deixou as lágrimas caírem. Aziraphele o olhou ainda com os olhos cheios de lágrimas.
Ele suspirou pesado, e de dentro de seu casaco, tirou duas folhas, que mais pareciam folhas de um livro.
Crowley levemente arregalou os olhos, e as pegou na mão, e não era nada mais, nada menos, do que suas páginas do livro da vida, a de Crowley, e a de Aziraphele.
- A-anjo? - Crowley perguntou assustado.
Aquele livro era totalmente sagrado, e totalmente protegido. Como diabos o anjo pegou aquilo? Crowley resolveu acreditar em si.
- você não me quer mais aqui, eu já entendi, mas eu me sinto na obrigação de te dar isso. Eu sofri muito para pegá-las - Aziraphele riu sem jeito, se virando para ir embora.
- Adeus Crowley, tome cuidado. - Aziraphele não conseguiu manter o sorriso no rosto.

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