A primeira dor

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Era estranho não escutar a voz do anjo na livraria mesmo quando o mesmo estava lá, era como quando Aziraphele havia ido embora, era um silêncio torturador, mas ambos ali respeitavam o espaço e o tempo do anjo. Crowley passava a maioria de seus dias no quarto, apenas observando Aziraphele em seu sono profundo. A algum tempo a barreira que antes queimava impedindo Crowley de chegar perto, havia sumido, e a áurea de Aziraphele ia aos poucos se tornando um pouco mais tranquila. Entretanto, Crowley ainda tinha medo, e queria estar a todo o momento ao lado do anjo, mesmo que a livraria estivesse totalmente selada.
Muriel na cozinha fazia um simples chá, nada muito forte, nada muito leve.
Tanto quanto Crowley, muriel também sentia falta do anjo. Era incrível como apenas alguns dias fez a pequena se apegar a Aziraphele. Se doía em muirel, doía muito mais em Crowley.
Muirel pegou duas xícaras, e depositou o líquido quente nas mesmas. Subiu as escadas com cuidado, e adentrou o quarto de Aziraphele, encontrando Crowley sentado no chão, apenas com a cabeça encostada na cama 
Muriel não disse nada, apenas delicadamente se sentou ao lado de Crowley, entregando a xícara de chá.
Crowley não a ignorou ou algo do tipo, ele sabia que Muirel não tinha culpa de nada. Pegou a xícara e lhe agradeceu. O silêncio era algo que o confortava, então ver que Muriel já sabia disso, era reconfortante quanto.

Crowley tomou seu chá rapidamente, e deixou a xícara ali do lado, e apenas continuou a olhar para o nada.
Muriel, por outro lado, estava curiosa sobre os dois, queria ir mais a fundo naquela história, ela queria saber mais.
- Senhor Crowley? - Muriel o chamou.
Crowley olhou, como se estivesse pedindo para que continuasse.
- Não tenho certeza se é a melhor hora, mas o senhor poderia... Se quisesse! Me contar mais sobre vocês dois? - Muriel pediu um pouco vergonhosamente, e certamente com medo de um sermão.
Crowley pensou.
- Como eu e Aziraphele nós conhecemos? - Perguntou.
- Não apenas! Mas, tudo? - Muriel riu sem jeito.
Crowley apenas suspirou, e olhou ao redor.
- Claro, oque quer saber? - Crowley perguntou.
- Ah, sério? Meio que eu pensei que o senhor não iria querer... Parece chateado.
- Chateado? Não, não. É apenas medo. - Crowley riu.
- Medo? Do que? - perguntou confusa.
- medo de ele não voltar.
- oh... Eu aposto que ele vai! - Muriel o encorajou.
Crowley olhou para ela e sorriu.
- Vamos, o que quer saber? - Crowley perguntou novamente.
- Pelo que escutei no céu, eu já tenho uma noção de como vocês se conheceram, só não sei o porquê. - Muriel explicou.
- Porquê? Não entendi.
- Não me leve a mal senhor Crowley, mas você é um demônio, por que ficou com ele? Pensei que não gostasse de anjos.
- É, eu não gosto deles, mas Aziraphele é diferente.
- Como?
- Eu não sei... Eu só olhei para ele, e vi um anjo desastrado, piedoso e gentil. Ele disse que havia dado sua espada flamejante para os mortais, tudo para que eles tivessem algo para se proteger. Ele desobedeceu, tudo para o bem de outras pessoas, pessoas que haviam errado. Nenhum anjo faria isso. - Muriel pensou com as palavras de Crowley.
- Mas como se convenceu que ele era diferente? - perguntou curiosa.
- Bem... Eu não tinha certeza, e queria ver se ele realmente era diferente, foi quando encontrei ele no dilúvio. Fiquei chateado por ele não demonstrar tanto receio pelo acontecimento, mas quando vi ele chorar no telhado da arca, me fez apenas querer continuar a conhecê-lo.
- Oh, sério?
- sim. E dali para frente, continuamos a nos encontrar. - Crowley sorriu.
Muriel se preocupou
- O senhor sabia das punições que Aziraphele ganhava no céu?
- Até então não... Mas fiquei sabendo quando Aziraphele voltou. Eu li o diário dele. E de repente, tudo fez um tipo de sentimento.
- Eu lembro da arca de Noé. - Muriel disse.

Alguns dias haviam se passado, e a água havia finalmente abaixado, agora mostrando o lindo gramado verde. Noé e sua família saíram da arca todos atordoados, mas de certa forma, felizes.
Os animais ao pouco saíam dela também, cada um indo embora com os seus pares, a terra estava "limpa" novamente, e um arco iris era encontrado no céu.
Em cima da arca, havia um anjo e um demônio que observavam tudo ao redor  O anjo mantinha uma feição cansada, e o demônio, uma feição entediada.
Haviam sido dias difíceis para os dois, Aziraphele precisava cuidar de Noé e sua família, até saírem da arca, e por puro tédio e falta do que fazer, Crawley decidiu fazer companhia ao anjo,que inclusive, havia sido a pior decisão até agora. Aliás, a arca não era o melhor lugar a se ficar, tudo fedia, e era bem entediante também. Os dois sempre costumavam ficar fora dela, no telhado, mas quando a chuva apertava mais do que o normal, eram obrigados a entrar. Para não serem pegos, tinham que se manter em forma de animal.
Aziraphele gostava de bombas, ele achava elas fofas, então se agradou e se tornou uma. Já Crawley, preferia corvos, ele gostava de preto, então adotou a ideia de se tornar um.
Noé e sua família estranhavam o "casal". Na arca haviam dois casais de bombas, então obviamente era estranho ver uma sozinha, e igualmente, havia dois casais de corvos, e também era estranho ver um sozinho. E era ainda mais estranho ver os dois juntos. Noé achou que aquilo era obra maligna, então tentou os jogar para fora da arca diversas vezes, mas desistiu quando inúmeras vezes os dois voltaram 
Crawley ficou irritado quando Noé o colocou para fora da arca, para que o mesmo encontrasse uma árvore ou sinal de vida vegetal. Mas riu quando o mesmo fez igual com Aziraphele, não só uma, mas três vezes.
E agora, finalmente, a água havia secado, e a grama se encontrava seca.

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⏰ Última atualização: Sep 16 ⏰

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