Cadê Minha Agenda?

15 2 0
                                    

       Todo o trajeto para casa, fico pensando no que fazer, essa situação não pode piorar, seria um grande problema na minha carreira. Cheguei em casa, os meus pais estão jantando, vejo os meus pais sentados à mesa de jantar conversando, rindo, a forma que ambos olham um para o outro é lindo demais. Como alguém consegue simplesmente se casar só por se casar, sem ao menos achar o grande amor da sua vida e querer estar com ele todos os instantes. Porque, a meu ver, alguém casado que beija outra pessoa, não ama de verdade. Então para que se casar. Estou refletindo sobre isso por algum tempinho até que a minha mãe me ver parada os observando. Ela abre um sorriso.

- Boa noite. – Digo passando pela porta.

- Boa noite princesa. – Às vezes eu ainda acho engraçado, mesmo após adulta, o meu pai ainda me chama de princesa.

- Boa noite querida. Janta conosco? – a minha mãe pergunta.

- Sim, vou lavar as mãos. – Coloco as minhas coisas na mesa no canto da sala, lavo as mãos e volto para a sala de jantar.

- Como foi o dia? – o meu pai pergunta com curiosidade.

- Foi tudo bem. – Dou de ombros. O meu pai me olha, com os olhos curiosos. Acredito porque deu para perceber o meu timbre de voz alterado. Não tenho o costume de mentir para os meus pais, nem mesmo enganar eles com algumas coisas, sou sempre sincera com eles.

- Mesmo. Muitos casos novos? - Ele continua me olhando.

- Alguns. – Tomo um gole do meu vinho, acredito que pelo fato de ser sempre clara em tudo com eles, o meu pai esteja vendo o meu desconforto agora. E isso está atiçando a curiosidade dele.

- A Maitê hoje à tarde me disse que viu a mãe dela fazendo xixi em um palito. – Todos sabemos que Renata e Ben estão tentando engravidar.

- Mesmo, e o que você explicou para ela? - perguntei. 

 – Liguei para Renata para saber o que falar.

A conversa felizmente tomou outro rumo, o que me deixou um pouco mais confortável, a minha mãe conta as coisas que Maitê fez hoje, e eu dando altas risadas.

- Bem disse que a psicologia falou sobre o desenho dela. – Todo o processo com a Maitê foi muito difícil ver a minha mãe naquele estado, depois daquele homem tentar levar a Maitê da gente. Conseguir pegar a Renata, era tudo loucura demais, mas, por outro lado, a nossa família é uma família resiliente, nos superamos os obstáculos sempre. Todos juntos. Esse foi mais um deles que agora preferimos não mencionar mais.

- É, infelizmente não tem muito para onde correr, essa conversa tem que acontecer logo. – a minha mãe diz triste.

- Verdade mãe... – Já estamos finalizando a sobremesa, quando o meu celular começa a toca. Dou uma olhada no visor. Era a Carla. – Preciso atender. – Digo me levantando. Para Carla estar me ligando a esse horário com certeza é alguma coisa do trabalho, não nos falamos muito a noite.

( ... )

- Oi. – Atendo.

- Oi, Hember. Preciso da sua ajuda. Eu perdi a planilha que foi entregue hoje na reunião com o João. Eu tenho que resolver alguns assuntos amanhã de manhã e não consigo me lembrar o endereço, de onde preciso pegar uma papelada. – Dou um pequeno sorriso, a sua voz estava bem nervosa. – Como eu sei que você grava tudo, não só no e-mail como também na sua agenda. Me salva aí vai.

- Claro! Espera um minuto que vou te mandar o e-mail com a planilha. – Digo indo até as minhas coisas, vou para o escritório, abro o notebook. Com alguns cliques mando a planilha para ela.

- Obrigada, salvou a minha vida. O João ia arrancar o meu fígado. – a sua voz estava mais aliviada agora.

- Não ia nada, ele é supertranquilo. – Digo me arrependendo de falar qualquer coisa dele hoje.

- Por falar nisso, o que foi aquilo na reunião de hoje de manhã em? – ela fala com malícia.

- Téo as vezes exagera mesmo. – Dou de ombros.

- Há isso todos sabemos. Mas. Eu estou falando mesmo é do João te defendendo gata, certeza que ele tem uma queda por você. – Ela fala empolgada. Não consigo entender o porquê, todos sabem que ele é um homem casado.

- Deixa de ser doida Carla. Ele simplesmente não gostou da forma que o Teodoro estava falando, foi só isso. – Desconverso. Não quero complicar as coisas mais ainda.

- Não, amiga. Tem alguma coisa a mais, a forma que ele ficou furioso com o Téo – Carla não é exatamente a minha amiga. Não tenho tanta intimidade assim com ela, então a sua fala me incomoda um pouco. A malícia na sua voz, tenho certeza de que apoiaria um caso desses.

- Eu duvido muito, João é um homem casado. – Corto ela - Bem, Carla, eu preciso ir agora. Eu estou jantando. Os meus pais estão me esperando.

- A claro, querida, até amanhã. Boa noite! E mais uma vez obrigada. – Não entendi muito bem, mas pareceu uma conotação de deboche na sua voz.

- Por nada, boa noite.

( ... )

Assim que desligo, coloco o celular no modo avião, deixo ele em cima da mesa, tudo que eu menos preciso agora é lidar com alguém do escritório. Aproveito para dá uma olhadinha na minha agenda, confirma alguns horários, estou com uma leve impressão de que está faltando alguma coisa. Começo a revirar as minhas coisas, atrás da bendita agenda e não a encontro. Não acredito nisso é por isso que estou com a sensação de que está faltando alguma coisa, só pode.

- Droga! Eu não acredito. – Reclamo em voz alta.

- O que aconteceu? – o meu pai estava de pé na porta me olhando.

- Acho que perdi a minha agenda com as anotações importantes, inclusive umas que eu preciso para amanhã. – Reclamo.

- Tem certeza, já olhou tudo – ele olha para minhas coisas sobre a mesa.

- Sim. – Fico pensando nas duas vezes que as minhas coisas caíram, não acredito que foi lá em cima que perdi a agenda. - Com certeza foi na hora que esbarrei no Pedro.

- Quem é Pedro? – o meu pai pergunta com curiosidade.

- Eu saí apressada do escritório e esbarrei nele, na frente do prédio, as minhas coisas caíram-no cão. Com certeza foi neste momento.

- E dá para se virar sem? – ele pergunta se aproximando.

- Vou ter que reler os papéis e analisar os fatos de novo, para me lembrar os pontos, tinha anotações importantes que precisam ser discutidos amanhã. Mas, acredito que de sim. – o meu pai se abaixa e pega um papel no chão. Não! Não. Não... é o bilhete do João. Ele ia-me entregar quando os seus olhos passam pelo que está escrito. A sua fisionomia logo muda, o olhar do meu pai fica sombrio, como se ele já soubesse do que se trata. 

HEMBER -  Se Eu Ficar...Onde histórias criam vida. Descubra agora