capítulo 11

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     –Seu mestre parece bom – disse Erasmus.

     – Bom? – disse Damen.

     Foi difícil pronunciar a palavra, que arranhou sua garganta à medida que ele forçou sua saída. Ele olhou para Erasmus sem acreditar. Nicaise saíra junto com Laurent, deixando Erasmus para trás, sua guia esquecida no chão ao lado dele onde estava ajoelhado. Uma brisa suave agitou seus cachos louros, e acima deles a folhagem se moveu como um toldo de seda negra.

     – Ele se preocupa com seu prazer – explicou Erasmus.

     Levou alguns instantes para que essas palavras se conectassem a seu significado correto, e, quando fizeram isso, uma risada impotente foi a única resposta. As instruções precisas de Laurent e seu resultado inevitável não tinham a intenção de bondade, mas o oposto. Não havia como explicar a mente tranquila e intricada de Laurent para o escravo, e Damen não tentou.

     – O que é? – disse Erasmus.

     – Nada. Conte-me. Eu queria notícias suas e dos outros. Como estão as coisas para você, tão longe de casa? Você é bem tratado por seus mestres? Eu tenho curiosidade… Você entende a língua deles?

     Erasmus sacudiu a cabeça para a última pergunta.

    – Eu… Eu tenho alguma habilidade com patrano e os dialetos do norte. Algumas palavras são parecidas. – Ele disse algumas delas de maneira vacilante.

     Erasmus falava veretiano bem o bastante; não foi isso o que fez Damen franzir o cenho. As palavras que Erasmus conseguira decifrar do que tinha sido dito a ele eram: Silêncio. Ajoelhe-se. Não se mexa.

    – Eu falei errado? – disse Erasmus, interpretando equivocadamente a expressão.

    – Não, você falou bem – disse Damen, embora sua consternação permanecesse. Ele não gostou da escolha das palavras. Não gostou da ideia de que Erasmus e os outros ficavam duplamente impotentes pela incapacidade de falar ou de entender o que estava sendo dito ao seu redor.

    – Você… não tem as maneiras de um escravo palaciano – disse Erasmus com hesitação.

     Isso era dizer pouco. Ninguém de Akielos confundiria Damen com um escravo de prazer; ele não tinha as maneiras nem o físico. Damen olhou pensativamente para Erasmus, perguntando-se o quanto dizer.

     – Eu não era escravo em Akielos. Fui mandado para cá por Kastor como punição – disse ele depois de algum tempo. Não fazia sentido mentir sobre essa parte.

     – Punição – repetiu Erasmus. Seu olhar baixou para o chão. Todos os seus modos mudaram.

     Damen perguntou:

     – Mas você foi treinado no palácio? Quanto tempo passou lá? – Ele não sabia por que nunca vira aquele escravo antes.

     Erasmus tentou um sorriso, animando-se depois do que quer que o houvesse desalentado.

    – Sim. Eu… Mas eu nunca vi o palácio principal. Eu estava treinando minhas habilidades quando fui escolhido pelo guardião para vir para cá. E meu treinamento em Akielos foi muito rígido. Eles estavam…

    na verdade…

    – Na verdade…? – encorajou Damen.

    Erasmus corou e disse com uma voz muito delicada:

    – Caso ele me achasse agradável, eu estava sendo treinado para o príncipe.

    – Estava mesmo? – perguntou Damen com algum interesse.

Livro: Príncipe cativo 1 ( O Escravo )Onde histórias criam vida. Descubra agora