capítulo 7

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     Dessa vez, quando ergueram a venda, foi diante de uma porta dupla com pesados ornamentos dourados, que foi empurrada e aberta.

    O salão estava repleto de cortesãos e arrumado para um espetáculo em recinto fechado. Havia estrados com almofadas em cada um dos quatro cantos. O efeito era de um anfiteatro claustrofóbico coberto de seda. Havia um ar de excitação considerável. Damen e jovens lordes se inclinavam para perto e sussurravam no ouvido um dos outros ou murmuravam por trás de mãos erguidas. Criados serviam cortesãos, e havia vinho e refrescos, e bandejas de prata cheias de doces e frutas cristalizadas. No centro do salão havia uma depressão circular com uma série de argolas de ferro presas no chão. O estômago de Damen se revirou. Seu olhar voltou para os cortesãos nos entrados.

      Não apenas cortesãos. Entre as damas e lordes vestidos de maneira mais sóbria, havia criaturas exóticas usando sedas coloridas exibindo nacos de carne, com os rostos bonitos cobertos de pintura. Havia uma mulher jovem usando quase mais ouro que Damen, dois braceletes em forma de cobra; um jovem deslumbrante de cabelo ruivo com uma grinalda de esmeraldas e uma corrente delicada de prata e peridoto em torno da cintura. Era como se os cortesãos exibissem sua riqueza através de seus escravos de estimação, como um nobre que cobria de jóias uma cortesã já dispendiosa.

       Damen viu um homem mais velho nos estrados com uma criança pequena ao seu lado, um braço dominador em torno do menino, talvez um pai que trouxera o filho para ver seu esporte favorito. Ele sentiu um cheiro adocicado, familiar dos banhos, e viu uma dama inalando profundamente de um cachimbo fino e comprido que se enrolava em uma das extremidades, seus olhos estavam semicerrados enquanto ela era acariciada pela escrava de estimação com joias ao seu lado. Por todos os estrados, mãos se moviam lentamente sobre carne em uma dúzia de atos menores de devassidão.

      Aquilo era Vere, voluptuosa e decadente, terra do veneno açucarado. Damen se lembrou da  última noite em Marlas, antes do amanhecer, com as tendas veretianas do outro lado do rio, belas flâmulas de seda que se erguiam no ar da noite, os sons de risos e superioridade, e o mensageiro que cuspira no chão diante de seu pai.

      Damen percebeu que tinha parado na porta quando a corrente em seu pescoço o puxou bruscamente para frente. Um passo. Outro. Melhor andar que ser arrastado pelo pescoço.

      Ele não sabia se devia ficar aliviado ou preocupado quando não o levaram direto para o ringue. Em vez disso, foi jogado no chão diante de uma cadeira coberta de seda azul e com o familiar brasão de estrela em ouro, marca do príncipe regente. Sua corrente foi presa a um elo no chão. Sua visão, quando ergueu os olhos, foi a de uma perna elegante dentro de uma bota.

      Se Laurent tinha bebido em excesso na noite anterior, suas meneiras hoje não demonstravam nada. Ele parecia refrescado, despreocupado e bonito, com o cabelo dourado reluzente acima de uma roupa de um azul tão escuro que era quase negra. Seus olhos azuis estavam inocentes como o céu; só olhando com atenção se poderia ver algo genuíno neles. Como o desprezo. Damen teria atribuído isso à maldade — imaginando que Laurent quisesse fazê-lo pagar por ter ouvido o diálogo com seu tio na noite anterior. Mas a verdade era que Laurent o encarava daquele jeito desde a primeira vez que pusera os olhos sobre ele.

      — Você tem um corte no lábio. Alguém bateu em você. Ah, é mesmo, eu lembro. Você ficou parado e deixou que ele fizesse isso. Dói?

      Ele era pior sóbrio, Damen relaxou deliberadamente as mãos que, presas as suas costas, tinham se transformado em punho.

     — Nós precisamos conversar sobre alguma coisa. Sabe, eu perguntei por sua saúde e agora estou perdido em lembranças. Recordo com carinho nossa noite juntos. Você pensou em mim esta manhã?

Livro: Príncipe cativo 1 ( O Escravo )Onde histórias criam vida. Descubra agora