Capítulo 17

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        O momento raro de  afeição do tio com o sobrinho encerrou a reunião, e o regente e o Conselho deixaram a sala. Laurent permaneceu e se levantou de onde estava ajoelhado, observando o tio e os conselheiros se retirarem. Orlant, que havia feito uma reverência e saído depois de libertar Damen, também tinha
ido embora. Eles estavam sozinhos.

        Damen se levantou sem pensar. Ele lembrou, que devia esperar algum tipo de ordem de Laurent, mas já era tarde demais. Ele estava de pé, e as palavras saíramde sua boca:

       – Você mentiu para seu tio para me proteger – disse ele.

       Havia quase 2 metros de tapeçaria entre eles. Ele não teve a intenção de dizer o que o tom de sua voz indicou. Ou talvez tivesse. Os olhos de Laurent se estreitaram.

       – Ofendi mais uma vez seus princípios elevados? Talvez você possa sugerir uma trégua mais sadia. Eu acho que me lembro de lhe dizer para não sumir.

       Damen podia ouvir, ao longe, o choque na própria voz.

       – Não entendo por que fez isso para me ajudar, quando dizer a verdade teria lhe servido muito melhor.

       – Se não se importa, acho que já ouvi coisas demais sendo dita sobre meu caráter, esta noite. Ou eu vou ter de me digladiar com você também? Eu posso.

       – Não, eu não quis dizer… – O que ele queria dizer? Ele sabia o que devia
dizer: gratidão do escravo resgatado. Não era como se sentia. Ele estivera muito perto. A única razão por que fora descoberto era Govart, que não seria seu inimigo se não fosse por Laurent. Obrigado significava obrigado por ser arrastado de volta e algemado e amarrado no interior daquela jaula de palácio.

       De novo.

       Ainda assim, de maneira inequívoca, Laurent salvara sua vida. Laurent e o tio eram quase páreo um para o outro quando se tratava de brutalidade verbal. Ele se
perguntou exatamente por quanto tempo Laurent resistira antes de ser levado até lá.

       Não posso protegê-lo como estou agora, dissera Laurent. Damen não havia pensado no que proteção podia significar, mas jamais teria imaginado que Laurent entraria no ringue para defendê-lo – e permaneceria ali.

       – Quero dizer… Estou agrade…

       Laurent o interrompeu.

       – Não há nada mais entre nós, sem dúvida não agradecimentos. Não espere bondades futuras de minha parte. Nosso débito está pago.

       Mas o leve franzir de cenho com o qual Laurent olhou para Damen não era totalmente de hostilidade; e acompanhava um olhar longo e curioso. Depois de um momento:

       – Eu estava falando sério quando disse que não gostava de me sentir em dívida com você. – E depois: – Você tinha muito menos razão para me ajudar do que eu tinha para ajudá-lo.

       – Isso sem dúvida é verdade.

       – Você não tem papas na língua, tem? – perguntou Laurent, ainda de cenho franzido. – Um homem mais esperto teria. Um homem esperto teria ficado no lugar e ganhado vantagens fomentando o senso de obrigação e culpa em seu mestre.

       – Eu não sabia que você tinha um senso de culpa – disse Damen sem rodeios.

       Um apóstrofo surgiu em um dos cantos dos lábios de Laurent. Ele se afastou alguns passos de Damen, tocando o braço trabalhado do trono com a ponta dos dedos. Então, em uma postura espalhada e relaxada, sentou-se nele.

Livro: Príncipe cativo 1 ( O Escravo )Onde histórias criam vida. Descubra agora