Capítulo 16

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       Damen só conhecia uma saída, pelo pátio da arena de treinos no primeiro andar.

      Ele se forçou a caminhar com calma e propósito, como um criado realizando uma tarefa por seu mestre. Sua mente estava cheia de gargantas cortadas, lutas corpo a corpo e facas. Afastou todas elas e pensou, em vez disso, sobre seu caminho pelo palácio. A passagem, no início, estava vazia.

      Passar por seu próprio quarto foi estranho. Ele ficara surpreso desde que o colocaram ali com o quanto seus aposentos eram perto dos de Laurent, abrigado no interior dos próprios apartamentos do príncipe. As portas estavam levemente
entreabertas, como tinham sido deixadas pelos três homens que, agora, jaziam mortos. O lugar parecia vazio e errado. Por algum instinto, talvez um instinto de esconder os sinais que revelassem sua fuga, Damen parou para fechar as portas.

       Quando se virou, havia alguém a observá-lo.

       Nicaise estava parado no meio da passagem, como se tivesse parado
repentinamente a caminho do quarto de dormir de Laurent.

        Em algum lugar distante, a vontade de rir acompanhou uma onda de pânico tensa e ridícula. Se Nicaise chegasse até lá, se ele soasse o alarme…

       Damen tinha se preparado para lutar contra homens, não meninos com roupões vaporosos de seda jogados em cima de camisolas.

       – O que você está fazendo aqui?– perguntou Damen, já que um deles ia dizer isso.

       – Eu estava dormindo, então alguém nos acordou. Eles disseram ao regente que houve um ataque – disse Nicaise.

       Nos, pensou Damen enojado.

       Nicaise deu um passo à frente. O estômago de Damen deu um nó e ele se dirigiu para o centro do corredor, bloqueando o caminho do garoto. Ele se sentiu absurdo.

       – Ele ordenou que todo mundo saia de seus aposentos – disse Damen. – Eu não tentaria vê-lo.

       – Por que não? – questionou Nicaise.

       Ele olhou além de Damen, na direção do quarto de Laurent.

       – O que aconteceu? Ele está bem?

       Damen pensou no argumento mais dissuasivo que podia inventar.

       – Ele está de mau humor – respondeu, brevemente. Pelo menos, era preciso.

       – Ah – disse Nicaise. Em seguida: – Não me importo. Eu só queria… – Mas
então ele mergulhou em um silêncio estranho, e ficou apenas encarando Damen, sem tentar passar por ele. O que ele estava fazendo ali? Todo momento que Damen passava com Nicaise era um momento em que Laurent podia emergir de seus aposentos ou a guarda podia voltar. Ele sentiu os segundos de sua vida
passando.

         Nicaise empinou o nariz e anunciou:

        – Não me importo. Eu vou voltar para cama. – Só que ele ficou ali parado, todo cachos castanhos e olhos azuis, a luz das tochas eventuais sobre o todo plano perfeito de seu rosto.

        – Então? Vá em frente – disse Damen.

        Mais silêncio. Havia obviamente algo na mente de Nicaise, e ele não iria sair sem dizê-lo. Por fim:

        – Não diga a ele que eu vim.

        – Não direi – disse Damen, sendo absolutamente honesto. Depois que saísse do palácio, ele não pretendia nunca mais ver Laurent.

Livro: Príncipe cativo 1 ( O Escravo )Onde histórias criam vida. Descubra agora