Feelings

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Quando os primeiros raios de sol começaram a despontar, Sarah sentiu o calor da pele das duas mulheres aninhadas ao seu corpo. De seu lado esquerdo, a que compartilhava a vida com ela a mais de dez anos, a cabeça acomodada em seu peito; do outro, aquela que se unia a elas de uma forma tão natural e gostosa, o rosto encaixado na curva de seu pescoço. Em um gesto sonolento e impensado, beijou a têmpora de uma, depois o topo da cabeça da outra. Não as acordou. Ficou ali, sentindo a respiração calma das duas, os corpos nus unidos ao seu de uma forma tão certa. Manteve os olhos fechados, pensando um pouco sobre aquilo - até onde seu estado letárgico lhe permitia - e sentiu seu coração acelerar. Não queria que aquilo acabasse, não queria. Não entendia o motivo de tanto medo naquele momento, tudo estava bem, mas aquela pequena dose de consciência de repente tornou tudo tão sufocante, tão desesperador, que sem se dar conta as estava acordando.

— Al, Pipes – as chamou em uma voz suave, lenta, ainda que a pequena parte desperta de sua mente gritasse. — Acordem. Precisamos ver se eles já estão de pé ou...

Piper beijou seu pescoço com carinho, a fazendo parar de falar.

— Vamos ficar só mais um pouquinho, amor – murmurou, sonolenta, e logo voltou a dormir.

— Uhum - Alex concordou baixinho, jogando uma perna sobre a sua e estendendo o braço sobre as duas. — Está tão gostoso...

Sarah acariciou os cabelos negros lentamente. Conhecia a textura dos fios sem precisar abrir os olhos. Sentiu o cheiro suave de Piper, agora igualmente conhecido, e então seu coração foi se acalmando, a respiração aos poucos voltando a um ritmo regular. Assim, deslizou para um sono profundo, no melhor momento da manhã. Horas depois, quando finalmente fosse acordada pelas duas, não se lembraria de nada. Não se lembraria do medo que sentira, nem de tê-las acordado, tampouco das palavras de Piper e Alex, que também não fariam ideia do que haviam falado. Tudo ficaria ali, em seu inconsciente, perdido - ou guardado - para sempre.


Se haviam feito barulho demais na noite anterior, Diane e Lee Vause não pareciam ter ouvido. No café, a animada mulher continuou a fazer perguntas a "Chloe", que estava revigorada depois da noite de sono. Enfatizou que estava encantada com a garota e tornou a parabenizar Sarah pela sobrinha exemplar.

— Nos dias de hoje, com toda essa modernidade, é difícil encontrar jovens ajuizadas como ela – disse a certa hora, lançando um sorriso a Chloe.

Alex, que já estava para lá de cansada com a presença da mãe e suas constantes indiretas, se manifestou:

— Com toda a certeza. Chloe é, sem dúvida alguma, uma preciosidade – disse, olhando para a esposa. — Digo isso a Sarah diariamente. Não é, amor?

Sarah sorriu com a duplicidade da declaração.

— É sim. – Deu uma olhada em Diane. — Temos muita sorte. – Olhou nos olhos de Piper, que claramente se segurava para não rir. Nenhuma das três estava mais suportando a mulher.

Depois de iniciar um monólogo sobre as dificuldades que estava tendo em conciliar sua agitada vida doméstica e sua vida social, Diane teve o desprazer de anunciar que precisariam deixá-las mais cedo. Lee recebera um chamado da empresa e infelizmente, teriam de cair na estrada logo após o almoço para que ele pudesse estar bem cedo no local no dia seguinte. A notícia foi recebida com bastante pesar, enquanto fogos de artifício estouravam dentro de cada uma das três - especialmente em Piper, que interpretava o papel mais longo em sua curta carreira de atriz. Horas depois, o casal deixou a casa, não sem antes fazer um convite, ou melhor, uma intimação:

— Por favor, levem-na com vocês quando forem nos visitar! - Diane deu um abraço enérgico na loira, que já tinha o rosto dormente de tanto sorrir. — Será muito bem recebida, minha linda! Nos demos muito bem, não é?

Young Lady (Temporada 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora