Young Lady (Temporada 1)

So close and so far

— Negativo – A mulher de cabelos negros revelou desanimada, rolando no celular o e-mail que havia recebido do laboratório.

Sarah suspirou, sentindo que algo dentro dela se partia de novo e de novo. Aquela seria uma noite difícil. Mais uma de tantas outras que tiveram.

— Meu bem – Sarah a envolveu em um abraço —, está tudo bem, ok? Sabíamos que a chance era muito pequena. – A olhou nos olhos, tão verdes e tristes que fazia com que ela sentisse vontade de chorar. As lágrimas de Alex, no entanto, já tomavam seu rosto.

— Eu não aguento mais! – se desesperou.

Sarah se sentou na cama do quarto perfeitamente decorado pela esposa, que apesar da postura de importante arquiteta que ostentava, era uma das pessoas mais sensíveis que ela conhecia.

— Por que nunca dá certo? - Alex largou o celular sobre o colchão — Isso é tão frustrante!

Sarah segurou sua mão e sentiu os dedos frios se entrelaçarem aos seus. A guiou gentilmente para o meio de suas pernas, recostando na cabeceira da cama enquanto ela se aninhava em seu colo.

— Meu amor, você sabe que temos poucas chances. – Sua voz era carinhosa enquanto acariciava os cabelos negros. — Vamos tentar de novo e se for pra ser, vai dar certo.

— Eu não quero mais tentar – Alex murmurou. — Eu acho que... eu acho que a gente devia só aceitar, sabe?

— Está bem - assentiu, beijando o topo de sua cabeça. — Não precisamos tentar de novo. Vamos pensar em outras formas, ok?

Alex concordou, envolvendo os braços em seu corpo. Sarah continuou a consolá-la.

Estavam tentando engravidar por meio de inseminação artificial a mais de cinco anos, sem sucesso. No início se alternavam. Eram mais jovens, as chances de o procedimento funcionar eram bem maiores. Tinham consciência de que dificilmente daria certo de primeira, então não se preocuparam com os primeiros fracassos.

Com o tempo, ficou claro que os óvulos de Sarah já não eram mais tão férteis. A médica responsável as chamou para uma conversa franca e disse que o melhor seria começar a focar seus esforços - e seu dinheiro - em Alex, que era dois anos mais nova e tinha uma resposta melhor aos testes. No entanto, ela já estava com trinta e oito anos e lá estava o resultado: negativo. Nada de gravidez. Nada de bebês.

Sarah queria ser mãe, e como queria! Mas percebeu, pouco antes do que Alex, que era bem improvável que conseguissem gerar uma criança. Com o tempo, se acostumou à ideia e passou a lidar melhor com aquele fato, mas sua esposa sempre sofria com um resultado negativo como se fosse a primeira vez. Sarah sabia que naquela noite ela não dormiria e passaria por fases: primeiro, a da extrema tristeza, depois a da raiva, e por fim, a da reclusão. Nesse último estágio, Alex se tornava impenetrável. Simulava emoções, evitava os amigos e até mesmo a esposa.

Assim, o sólido casamento de dez anos enfrentava constantes crises. Sarah tentava se aproximar, ajudar. Alex sempre recuava, até que aceitasse o "não" do destino e da ciência. Quando finalmente conseguia superar, viviam bons momentos juntas: saiam com os amigos, visitavam familiares, passavam fins de semanas inteiros se amando. E então, resolviam tentar a inseminação novamente. E dava errado. E o ciclo recomeçava.

No dia seguinte, Sarah acordou mais cedo. A noite havia sido tão difícil quanto ela imaginou que seria, por isso decidiu não acordar a esposa. Preparou o café e se acomodou no sofá com a xícara em uma das mãos enquanto mexia no celular com a outra, se atualizando das notícias do mundo da moda.

Pouco tempo depois, Alex desceu as escadas vestida em seus pijamas. Os longos cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo. Sarah sempre se encantava com aquela cena, desde que haviam se conhecido na faculdade onde estudavam. O relacionamento não deu certo de primeira, se envolveram por apenas uma noite em uma festa da fraternidade, mas quis o destino que anos depois se reencontrassem e se apaixonassem perdidamente uma pela outra. Reconhecia que tinha uma das mulheres mais lindas de toda a Califórnia, e tinha ainda mais certeza disso quando a levava orgulhosamente em seus desfiles. Seus colegas estilistas - homens e mulheres - quase quebravam o pescoço para admirar Alex Pearl Vause.