XIX - Conversa

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Era mais uma sexta-feira, e naquele dia, milagrosamente, Tony e Pepper conseguiram sincronizar suas escalas de trabalho, uma façanha rara para dois cirurgiões de renome. O hospital, com suas luzes fluorescentes e corredores sempre em movimento, parecia respirar um pouco mais aliviado à medida que o fim de semana se aproximava. Os relógios marcavam a passagem das horas com uma calma incomum, como se até mesmo o tempo soubesse que algo fora da rotina estava acontecendo. O dia a dia frenético de cirurgias e emergências dava lugar a um clima de tranquilidade. Para o casal, essa coincidência era muito bem vinda, já que mal vinham tendo folgas conjuntas e considerando que o romance estava ficando de lado, devido a todas as exigências profissionais e pessoais das últimas semanas, era uma oportunidade de, finalmente, dedicar um tempo exclusivo um ao outro.

Ainda era cedo, cerca das 17h da tarde, e em dias normais Pepper iria direto para casa a fim de liberar a babá dos filhos e poder passar um tempo com as crianças. Mas naquela mesma data, os gêmeos tinham a festa de pijama para comemorarem o aniversário de Ivy, e como Donna havia deixado bem claro, a não presença dos dois era totalmente fora de cogitação. Assim, sabendo que encontraria a casa vazia, a ruiva aceitou a proposta de Tony para que passasse a noite no apartamento dele. E, bem, se finalmente teriam um encontro, ele deveria ser ao menos digno. Com vontade de comer uma massa, e sabendo que comida italiana era a favorita de ambos, ela aproveitou o tempo em que o neurocirurgião se dedicava a uma reunião de última hora para preparar algo especial. Ela ponderou se não era melhor um talharim ao invés de pizza, e um check na geladeira confirmou ser essa a melhor opção.

Antes de começar o preparo, limpou o balcão com todo o cuidado e se preparou para brincar prendendo os cabelos em um coque. Misturou farinha e sal em uma vasilha e adicionou os ovos. Bateu-os com certa facilidade e, com a massa ainda mole, distribuiu um pouco mais de farinha no balcão e começou a usar sua força para dar homogeneidade à massa. Terminando, ela a colocou para descansar. Procurou pela cozinha e encontrou o rolo de macarrão. Teria que usar a força para abrir a massa. Ótimo, mais um processo para mantê-la ocupada. Quando o tempo do descanso acabou, ela pegou a massa na geladeira e, jogando uma mão cheia de farinha outra vez na superfície que ia trabalhar, suspirou e usou as mãos para aplicar pressão a fim de abrir um pouco a bola antes de usar o rolo.

E foi exatamente assim que Tony a encontrou. A princípio, ele a observou intrigado; a mulher tinha os braços, a blusa e algumas partes do rosto suja de farinha. E bem, ele não poderia perder a oportunidade de provocá-la.

— Por acaso estamos sem massa para fazer macarrão para o jantar?

— Não, nós temos, eu só queria fazer algo diferente.

— Você percebeu que está suja de farinha? É um jantar especial? -Ele se aproximou dela ainda sem tocá-la.

— Que seja, tem algum problema? -Ela questionou na defensiva, porque de certa forma eles sempre seriam eles, mas estava longe de estar verdadeiramente irritada.

— Nenhum, na verdade, fico bastante interessado vendo você coberta de farinha fazendo um jantar especial para mim. -O moreno se aproximou e abraçou-a pela cintura, sorrateiramente usando uma mão para alcançar o saco de farinha.

— Não é por sua causa.

— Ah, não? Que pena... Eu estava achando tudo muito sexy. Extremamente sexy. Tem certeza que sabe fazer massa? Quer uma ajuda? Posso fazer força com você. -A ruiva sentiu quando ele a pressionou contra o balcão e na sequência jogou um pouco de farinha sobre a massa e pegou o rolo de macarrão das mãos dela, tudo pretexto. — Sabe, tem mais farinha em você que no balcão.

— Pensa que não sei o que você está fazendo? Pode esquecer. -Tony riu e jogou farinha na blusa dela, fingindo ser um acidente. — Anthony! -Ela virou-se para fitá-lo.

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