XXIII - Adaptação

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Grávida. Ela estava grávida. Grávida pela segunda vez. A realidade dessa afirmação ainda parecia surreal. Foram necessários alguns dias para que a ficha caísse, e mesmo quatro dias depois, havia momentos em que tudo ainda parecia um sonho distante. O medo e as dúvidas assombravam seus pensamentos. A lembrança da primeira gravidez estava viva em sua memória, trazendo à tona os receios e as dificuldades que enfrentara. Quando descobriu que estava grávida de Ellie e Theo, estava com seu então namorado há alguns anos. Ele era o homem com quem ela acreditava que se casaria e com quem passaria o resto de sua vida. No entanto, seus planos se desfizeram no exato momento em que soube que seria mãe. A reação dele foi devastadora, e Pepper viu seu mundo desmoronar. Agora, anos depois, aqui estava ela, grávida novamente. Desta vez, do namorado de apenas cinco meses. Como médica, era difícil aceitar que deixou que algo assim tivesse acontecido. Não era a notícia dos seus sonhos, e sequer conseguia descrever todas as emoções que sentiu quando teve certeza da existência daquele bebê. No entanto, de alguma forma, isso parecia certo. Tony estava tão feliz que foi impossível não se sentir mais tranquila. A felicidade dele lhe trouxe um pouco de paz, apesar de todo o caos que a notícia trouxe de forma tão inesperada. Conversaram como adultos, encarando a seriedade da situação e decidindo lidar com ela da forma que acreditavam ser correta: juntos. Ainda havia muitas coisas a serem decididas, mas optaram por ir passo a passo, uma coisa de cada vez. A primeira dessas decisões era a retirada do DIU.

Felizmente, podiam passar por isso ao lado de uma das suas melhores amigas. Enquanto preparava Pepper para o procedimento a ser realizado, Natasha não cansava de expressar sua alegria pelo casal, reforçando quanto aquilo era incrível e como ela sempre soube que acabariam daquele jeito. Foi uma intervenção simples, realizada com maestria, mas como também apresentava seus riscos, desde possíveis pequenos sangramentos até aborto espontâneo e infecções, a ruiva precisou ficar de repouso. E como sua vida não poderia parar, o neurocirurgião decidiu que passaria a semana na casa dela, dividindo tarefas para que a namorada pudesse se recuperar perfeitamente. Ele já se dava muito bem com os gêmeos, isso não era novidade, mas naquela nova rotina eles estavam ainda mais próximos. Ver como o moreno se comportava, como ele exercia aquele papel de quase pai de forma tão exemplar, estava mexendo muito com Potts. Ele fazia questão de levá-los na escola e, nos dias em que saía mais cedo, fazia questão de também buscá-los. Ajudava-os com as atividades escolares, se revezava entre eles para assistir aos desenhos e participava das brincadeiras que ela própria não gostava e ainda encontrava tempo para se dedicar plenamente ao namoro deles. Céus, até poderiam ser seus hormônios falando mais alto, mas ela estava completamente sensibilizada. Ver Tony interagindo com Ellie e Theo, rindo com eles, ensinando-lhes coisas novas e mostrando tanto carinho e paciência, fazia tudo parecer tão natural e fácil, trazia uma sensação de paz e confiança que ela não esperava sentir tão cedo.

Então foi fácil para Pepper se pegar imaginando como seria com mais um bebê em suas vidas. Como ele lidaria com uma miniaturinha deles? Será que ele seria tão protetor e babão como era com as crianças? Julgando pela forma como ele os tratava, sempre tão preocupado e atencioso, com certeza não fugiria muito do que ela já vinha experimentando. Ainda era surpreendente ver essas facetas dele. Ela havia se apegado por tanto tempo à imagem do neurocirurgião arrogante e egocêntrico que não valia nada, que às vezes parecia que aquela era realmente a realidade. Mas tinha esse cara que lhe acordava toda manhã com beijos, e que, quando tinha plantão, sempre deixava algum bilhete pregado ao espelho do banheiro para que ela lesse quando acordasse. Esse mesmo homem segurava seus cabelos quando ela se sentia tão enjoada que corria para o banheiro para vomitar, que preparava seus chás favoritos e assistia às suas comédias românticas preferidas, mesmo que não gostasse, apenas para ver o sorriso dela. Ele era incrível, e a mulher se sentia grata por estar se permitindo viver tudo isso ao lado dele. Quanto mais os dias passavam, mais ansiosa ficava pelo momento em que seriam os cinco. Será que o bebê seria mais parecido com ele ou com ela? Será que os gêmeos iriam gostar do novo irmãozinho ou irmãzinha? Como Tony iria reagir quando segurasse o bebê pela primeira vez? A imaginação dela corria solta, já imaginando cenas cotidianas.

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