XIV - Natal

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E então, mais uma vez era Natal. A cidade estava exalando o clima natalino, com as ruas iluminadas por luzes cintilantes e as vitrines decoradas com enfeites coloridos. As melodias festivas ecoavam pelos cantos, enquanto as pessoas se apressavam com seus presentes, envoltas em um sentimento de alegria e expectativa. O ar frio trazia o aroma de pinho e especiarias, anunciando a chegada da época mais mágica do ano. Para muitos, o Natal era realmente isso. Um período de união, celebração e generosidade. De fato, o momento mais especial do ano. No entanto, para Tony, essa época do ano trazia um sentimento muito diferente, era um lembrete constante de perdas e solidão.

Há quinze anos, em um fatídico 22 de dezembro, um acidente de carro tirou a vida de seus pais. A data, que deveria ser de festividade e calor humano, tornou-se um marco de tristeza e vazio. As luzes brilhantes e canções alegres não conseguiam penetrar a névoa de sua melancolia. Cinco anos atrás, outra perda veio a somar-se à sua dor: seu difícil divórcio. A separação aconteceu justamente quando as feridas de seu passado começavam a cicatrizar, reabrindo-as com uma intensidade ainda maior. O moreno amava Sawyer, ele jurava que ela era a mulher da sua vida, que envelheceriam juntos e comemorariam bodas de bengalas. Mas então, ela tornou-se apenas um lembrete de como todos que ele amava sempre partiam.

Por isso, Tony encontrou no hospital uma forma de se distrair dos sentimentos sombrios que o fim de ano trazia. Voluntariar-se para ficar de plantão durante as festividades era sua maneira de manter a mente ativa, focada em tarefas e responsabilidades, longe dos pensamentos que o perturbavam. Era um período em que ele podia se dedicar inteiramente ao trabalho, evitando o silêncio e a solidão de sua casa, que apenas amplificavam as lembranças dolorosas.

Deveria ser por volta das 22h, ele havia acabado de encerrar um atendimento clínico quando voltou para sua sala, encontrando quem menos esperava ver ali. O homem parou abruptamente na porta, surpreso com a presença de Virginia. Ela estava sentada em sua cadeira, exalando uma confiança que parecia tomar conta do espaço. Seu sorriso, iluminado pelo batom vermelho, era um contraste marcante com a seriedade habitual que usava no dia a dia. O vestido, no mesmo tom dos lábios, era tão ousado quanto os mesmos, e Tony não pôde deixar de pensar que ela parecia uma chama viva - vibrante e impossível de ignorar.

— Pepper? O que você está fazendo aqui? -Questionou confuso, fechando a porta atrás de si.

A mulher deu de ombros, um gesto que parecia despretensioso, enquanto se levantava e caminhava em sua direção. Naquele momento, ele pôde apreciá-la por completo pela primeira vez. E que crime ela cometia apenas existindo, mas naquele vestido... Céus.

A peça era uma verdadeira obra de arte da moda. Feito de um tecido luxuoso e fluido, provavelmente seda ou chiffon, em estilo midi. O corte era impecável, abraçando suas curvas de forma sutil, sem ser excessivamente justo. O decote era em V profundo, mas ainda assim elegante e sofisticado, proporcionando um toque de sensualidade discreta. As alças eram finas e delicadas, conferindo um ar de glamour ao conjunto. Alinhado ao tom vibrante de vermelho, que contrastava lindamente com a pele clara dela, a escolha era mais do que perfeita para desestabilizar quem ela quisesse.

— É véspera de Natal, ninguém deve passar sozinho. -Seus olhos brilhavam com uma determinação que Tony reconhecia muito bem. — Trouxe um pouco da nossa ceia, está ocupado demais ou pode se juntar a mim, a Mia e ao Alex?

— Eu... Não esperava isso. -Fez uma breve pausa, sorrindo levemente. — Só preciso terminar algumas coisas aqui antes.

— Então é um sim? -Pepper maneou com a cabeça, satisfeita com a resposta.

— É um sim. -Tony confirmou.

Ele observou a colega de trabalho sair, ainda surpreso com o convite inesperado. Mas, ao mesmo tempo, sentiu um calor reconfortante em seu coração. Talvez este Natal não fosse tão solitário quanto ele imaginava.

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