Capítulo III.

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Mais um dia se inicia no restaurante de Junghoon, todos os funcionários parecem extremamente empolgados, com exceção de Hakari, como sempre. O dia está movimentado, muitos clientes estão a todo tempo entrando e saindo do restaurante, e sempre saindo exatamente satisfeitos. O velho Seung sempre entretém os clientes do restaurante com suas histórias e piadas, o que ajuda a manter o clima amigável e familiar que o restaurante almeja transmitir. Após boas horas de trabalho, é chegada a hora do intervalo dos funcionários. Hakari pega seu almoço e vai comer sozinho do lado de fora do restaurante, Min-ji nota isso, toma coragem, e vai com ele para almoçarem juntos. "O-oi... posso almoçar com você?", perguntou a jovem moça, em japonês. Hakari apenas acenou com a cabeça. Assim, os dois almoçavam, e após cerca de 3 minutos sem falarem nada, Min-ji pergunta: "O clima estava bom hoje não é?", e logo se envergonha de ter feito essa pergunta. Hakari, novamente, somente acena com a cabeça. E eles ficaram o resto do almoço sem falar nada. Logo após terminarem, voltaram para dentro e continuaram o trabalho.

Desde aquela dia, Min-ji continuou todos os dias almoçando com Hakari, trocando poucas palavras com ele, mas a cada dia ela falava um pouco mais. Por mais que Hakari não gostasse daquilo da mesma forma que a jovem moça, ele começou a apreciar a companhia da jovem. Então passados alguns dias, ele finalmente falou com ela, e disse: "Eu matei meu irmão e iria me matar também... mas ele me amaldiçoou com suas últimas palavras... agora eu não consigo morrer. Então decidi sair do Japão, por que eu tinha certeza absoluta que mais nada de bom teria para mim lá". Min-ji havia perguntado por que Hakari havia vindo para a península coreana, mas a resposta a deixou sem reação alguma. "Por que você matou ele, senhor Hakari? Você é uma pessoa gentil, tenho certeza que deve ter um bom motivo...", perguntou a garota. Hakari esboça um pequeno sorriso: "Tenho pensando muito nisso, na verdade. Antes eu tinha a resposta clara e óbvia, mas agora, por mais que eu não queira, essa resposta está nebulosa... existe um bom motivo para matar o irmão? Eu... eu não sei". Min-ji pede perdão pela pergunta que ela havia feito, e continua seu almoço em silêncio.

Depois desse dia, ela nunca mais voltou a almoçar com Hakari, que por sua vez tinha certeza que era por que ele a tinha assustado. Certo dia, Hakari fora almoçar e o velho Seung foi junto dele. "Ela não está vindo mais, não é? A Min-ji", perguntou para Hakari, que permaneceu em silêncio. "Você acha que foi por conta do que você disse a ela, não é?", perguntou o velho. "Heh... ela te contou?"; "Não. Eu estava jogando o lixo fora naquele dia e acabei escutando. A min-ji não contou para ninguém", respondeu Seung, o que deixou Hakari genuinamente surpreso. "Ela não está vindo mais por que se sente mal de ter feito você reviver o seu passado doloroso", ao ouvir essas palavras do velho Seung, Hakari ficou extremamente conflitante dentro de si mesmo: "Mas por que ela se importaria com o que eu sinto? Eu sou só um assassino..", perguntou Hakari. Seung da uma breve pausa. "Você se considera uma pessoa má, Hakari?", pergunta o velho. "E existe alguma dúvida disso?", responde Hakari. "O que você considera ser uma pessoa má?"; "Ora... uma pessoa que pratica atos malignos"; "Entendi. Então uma pessoa que pratica atos maléficos... eu ainda adicionaria que é uma pessoa que sabe que os atos que ela pratica são maléficos, mas os pratica mesmo assim. Concorda, Hakari?; "Acho que sim", responde o japonês.

"Pois bem, deixe-me contar uma coisa para você, isso que estamos descrevendo agora é o ser humano. Nós somos ruins por natureza, todos somos. Você não pode se considerar como pior ou melhor do que eu, pois somos todos iguais em sermos miseráveis e malignos. Não estou falando que você está certo em ter cometido tais atos, só estou falando que você ter cometido eles não te faz alguém pior que eu, apenas o faz ser humano na mesma medida que eu também sou". Hakari olha para o velho, sem entender muito bem por que ele estava dizendo tudo aquilo: "Então você está dizendo que merece a morte assim como eu? Mesmo sem nunca ter matado ninguém?". "Sim. É exatamente isso. Mas ao invés da morte, sabe o que nos é oferecido? A vida, o amor, o perdão. Entenda, o ser humano é mal, mas não significa que não possa se tornar bom. Não estamos condicionados a sermos do mal para sempre... só se assim desejarmos. A todo momento seremos chamados para praticar o bem, por mais difícil que seja. E a cada momento que praticamos o bem, nós nos tornamos um pouco mais vivos. Veja bem, a verdade desse mundo é dura e difícil, mas simples: viver e morrer pelo amor. É assim que quebramos o ciclo de maldade que nós mesmo criamos, é somente assim que vencemos nessa vida... é somente assim que realmente nos tornamos felizes. Claro que nós sozinhos não conseguimos nada, somos falhos e miseráveis, mas ainda bem que temos um Pai que nos ama e cuida de nós. Somente através dEle, podemos ser bons e felizes de verdade".

"Como assim um Pai?", pergunta Hakari. "Me refiro a Deus, que é nosso Pai que está nos céus", responde o velho. Hakari esboça uma cara de descontentamento: "Eu não acredito nessas coisas..."; "Você não acredita ou não conhece?", pergunta Seung. "Dá no mesmo. Não acredito que exista Deus algum... se existisse, não haveria tanta desgraça nesse mundo... não haveria toda essa matança e todo esse ódio. Se Deus existisse, a maldade não existiria", responde Hakari. O velho Seung abre um sorriso: "Então você afirma que por conta do nosso livre arbítrio, que nos permite realizar o mal, Deus não poderia existir?"; Hakari acena com a cabeça. "Mas você prefere ter um filho ou um brinquedo que responda a todos os seus comandos?", retrucou Seung. Hakari não soube responder. "Optar por praticar o mal não vem de Deus, mas do homem. A existência do mal não invalida a existência de Deus, pelo contrário. Se Deus não existe, não existe a justiça. Se Deus não existe, nada nos impede de fazer o mal que quisermos. Entende, Hakari? Deus é a justiça, Ele nos da a oportunidade de praticar o bem ou mal; se praticamos o bem, acolhemos a sua vontade, se praticamos o mal, somos inimigos de Deus, e Ele nos pedirá contas disso. O mundo é injusto, meu amigo, e sempre será... mas Deus nunca deixará de ser justo". Hakari não sabia como reagir a tudo isso, mas o velho realmente conseguiu instigar sua mente. Seung, assim, se retira, mas antes que ele entrasse de volta ao restaurante, Hakari o pergunta: "Até alguém como eu pode se tornar uma boa pessoa? Mas como?", o velho abre um sorriso e responde: "O seu passado não define quem você será, mas sim as suas ações no presente. Comece praticando uma boa ação por dia.", e assim foi embora Seung. Hakari estava com a cabeça doendo de tanto pensar, mas dentre um redemoinho de pensamentos, um se destacou: "Eu quero mudar".

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