Capítulo VIII.

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Hakari e Kenji chegam e batem na porta da casa, e quem a abre é o jovem Minho, agora com 14 anos: "Tio Hakari!!! Você quase chega atrasado, pra variar", Hakari ri e toma o garoto em seus braços: "Olha quem fala, não é você quem sempre atrasa pro café da manhã?"; "Isso são meros detalhes", responde o garoto. Hakari o coloca no chão e logo Min-ji vem recepcioná-lo: "Meu amor, bem vindo de-", ela interrompe sua sentença ao ver que atrás dele estava um homem magérrimo que mal conseguia ficar em pé. "Querido... quem é seu amigo?"; "É um antigo companheiro do Japão que tive o prazer de reencontrar hoje. Ele não tinha onde ficar, então o convidei para participar do banquete de hoje e passar a noite aqui... tudo bem?", Hakari pergunta já sabendo que será repreendido mais tarde por Min-ji. "Claro, amor. Você sabe como eu amo quando você faz as coisas sem me avisar antes", ela responde com olhos que gelam a alma de Hakari. "Mas por favor, não fique parado ai fora, venha para dentro que está mais quente, venha se servir conosco... é, como é o nome do senhor mesmo?", pergunta ela. "É Kenji, senhora", responde um pouco acanhado.

Minho se anima e diz para ele: "Que legal!! Vocês lutaram juntos então? Foram companheiros samurais? Que incrível!!!!"; Hakari e Kenji se entreolham, e Kenji responde: "Pode-se dizer que sim". Então eles entram na casa. Hakari apresenta Kenji para todos os demais que ali estavam, que era Junghoon e sua antiga amiga a senhora Ji-hye; Jong-su, filho do meio de Junghoon, e os cozinheiros do restaurante de Junghoon, que ajudaram Min-ji na cozinha. Todos se sentaram e tiveram um ótimo jantar juntos. A comida estava deliciosa e a conversa extremamente agradável. Naturalmente Kenji se sentia extremamente desconfortável, mas Min-ji fazia de tudo para mudar isso e fazê-lo se sentir em casa. Depois do banquete e das várias conversas, todos foram embora, sobrando na casa apenas Hakari, Min-ji e Kenji. Min-ji foi dormir, deixando Kenji e Hakari a sós, para poderem conversarem entre si.

"Então é assim que vive o lobo solitário Hakari agora... não mais tão solitário assim né", diz Kenji. "Eu não atendo mais por essa alcunha, Kenji... eu abandonei essa vida, eu abandonei o caminho da espada", responde Hakari. "Eu ainda não consigo entender o que aconteceu com você... acho que você me deve uma explicação, não?"; "Tudo bem, é justo", então Hakari contou por tudo o que ele passou desde a última vez que havia visto Kenji, detalhe por detalhe. Mesmo após ter escutado atentamente, Kenji não conseguia crer que aquele quem estava na sua frente era Hakari, ele não conseguia compreender como era possível ele ter mudado tanto. "Olha, sei que é tudo muito novo... acredite, ainda é pra mim também. Mas eu verdadeiramente acredito que esse é o caminho que leva à felicidade nessa vida... até agora tem funcionado para mim. Você não acha que já está na hora de tentar trilhar esse caminho também, Kenji?"; "Que caminho seria esse?"; "O caminho para a redenção de nossos tão pesados pecados", responde Hakari.

Kenji abre um pequeno sorriso, "Acho que agora é minha vez de te contar minha história. Passamos tanto tempo juntos, mas você nunca soube quem eu era antes de formar o bando... pois bem vou te contar agora. Há muito muito tempo, eu fui abandonado pelos meus pais... pais esses que eu nunca conheci. Um pequeno grupo de camponeses me achou e cuidou de mim. Matakuro, o líder dos camponeses, cuidou de mim como se seu próprio filho fosse. Ele sempre me ensinava sobre como um homem de verdade deveria se portar, com honra e honestidade, sem tentar se aproveitar dos outros. Aos meus olhos, aquele homem era o maior que eu já tinha visto na vida, minha admiração por ele era gigantesca, e ele sabia disso. Eu sempre mostrei interesse em seguir o caminho samurai, e sempre me esforcei e treinei muito para isso, eu não tinha talento natural, mas meu esforço me transformou no melhor espadachim que aquela região já havia visto. Assim sendo, Matakuro sempre me pedia ajuda com pequenos serviços para ele, dizendo que um bom filho sempre ajuda o seu pai. E eu não me importava com o que quer que ele pedisse, eu faria de qualquer forma.

Assim, eu comecei a praticar furtos e assaltos para ele, mas sempre em segredo, eu não poderia falar para ninguém que estava roubando para ele. Passei bons anos fazendo isso para ele, até que ele ficou sabendo que havia uma recompensa por minha cabeça, mesmo que não soubessem quem eu era... me chamavam de rato noturno. Aquele velho... ele não hesitou em me vender para uma fazenda de escravos por um preço altíssimo, e me abandonou sem dizer palavra alguma. Eu entendi naquele momento o que significava de verdade viver... era usar os outros para você conseguir viver da forma como queira. A única igualdade desse mundo é a injustiça que todos sofrem. Eu passei os piores anos da minha vida sendo escravo naquela fazenda... mas um dia eu consegui matar o senhor daquelas terras e fugi. Anos depois fundei o bando Aka e comecei a viver da única forma que eu sabia: usando os outros de escada para que eu pudesse triunfar no final. Entenda, Hakari, de todas as coisas que eu já fiz, a única coisa que me arrependo foi de não ter procurado com mais afinco aquele velho de merda pra matar ele com minhas próprias mãos. A lógica é simples: a vida é injusta, então por que nós deveríamos agir com justiça?".

Hakari inspira e da um grande suspiro: "Realmente, sua vida foi injusta, você sofreu muito por conta disso... eu realmente sinto muito. Mas você não acha que já está na hora de você começar a se tratar melhor? A vida não é justa, mas se você for injusto consigo mesmo, só vai piorar as coisas. Sendo bem sincero, olhe a forma como você viveu sua vida, olhe como você está agora... você realmente acha que isso é viver?". Kenji se irrita: "Ah, sim, senhor perfeitinho. Me desculpe por não ter uma linda esposa e uma casinha bacana. Saiba que você é tão podre quanto eu, e também não merecia ter tudo isso"; "Sim, você tem toda razão", Hakari responde rapidamente, Kenji não esperava que ele concordasse. "Mas você quer se limitar a isso? Você quer se limitar a seus erros? Por que não, ao invés disso, você não reconhece seus erros, mas busca aprender com eles e ser melhor? Sabe, desde que meu melhor amigo morreu, eu tenho lido a Bíblia. Ele era um cristão fervoroso e sempre a lia, então eu continuo lendo a Bíblia por ele, lendo na mesma que ele sempre lia. Sinceramente, não sei se acredito em tudo isso sabe... em Deus. Mas a quantidade de ensinamentos que eu tirei, e continuo tirando desse livro até hoje... é assustador. E sabe, lá mesmo é dito que somos sim pecadores, todos somos. Mas devemos odiar o nosso pecado, não nós, os pecadores. Meu pecado não invalida a minha busca pela felicidade, mas para que essa busca seja válida, eu devo sinceramente buscar não pecar novamente... devo sinceramente buscar ser melhor. Em última instância, é isso que procuramos, a felicidade. Me diga, enquanto você perseguia esse seu caminho que você considera correto, em algum momento você foi feliz? Feliz de verdade?"; Kenji se mantém em silêncio, ele não sabe como responder aquela pergunta.

"Olha, eu só peço que me dê uma chance, apenas uma chance de te provar que o caminho do perdão e do amor é o verdadeiro caminho para a paz e a felicidade. Por favor, Kenji, me dê essa chance". Kenji hesita em responder, mas depois de pensar um pouco, ele diz: "Você só tem uma chance"; Hakari da um sorriso tímido, "Ótimo muito obrigado pela confiança. Pois bem, já falamos demais, vamos dormir por que amanhã precisamos acordar cedo"; "Vamos a algum lugar?", pergunta Kenji, desconfiado. "Claro! Amanhã eu vou te levar para trabalhar comigo na fazenda do senhor Si-u, então trate de descansar bem", responde Hakari enquanto sobe para seu quarto. Kenji não está nada animado com essa notícia.

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