A madrugada ainda se espreguiçava sobre a cidade, tingindo o céu de um azul pálido, quando Ryu caminhava sozinho pelos destroços do que fora o último reduto da máfia. O ar fresco da manhã tocava seu rosto, trazendo o peso de um silêncio que parecia ecoar com mil palavras não ditas.
Naquele dia fatídico, após o tumulto dos últimos tiros e gritos, Ryu procurou por Nam-soon entre os escombros, mas tudo o que encontrou foi um rastro de sangue que desaparecia misteriosamente entre as sombras. Ela, sempre tão vibrante e determinada a moldar um futuro menos sombrio, parecia ter sido engolida pela terra.
O desaparecimento de Nam-soon lançou Ryu em um abismo de desespero e confusão. O funeral foi um evento carregado de incertezas e murmúrios, pois sem um corpo para velar, muitos questionavam o que realmente havia acontecido. Ryu, consumido pela tristeza e pela culpa, mal notava as figuras encapuzadas que observavam à distância. A mulher que desafiou o destino ao seu lado, a força motriz por trás de sua luta, parecia ter sido arrancada dele, deixando um vazio imenso e dúvidas sem fim.
Nos dias que se seguiram, Ryu dedicou-se a fortalecer as tréguas, mas seu coração estava em pedaços. Um envelope sem remetente chegou às suas mãos, interrompendo a monotonia de seus dias cinzentos. Dentro, encontrou uma carta escrita com uma caligrafia delicada e familiar:
"Para Ryu, o guardião das minhas batalhas,
Cada passo que dei, foi pensando em nosso futuro, em uma vida sem sombras onde poderíamos existir livremente. Mas há caminhos que devem ser trilhados sozinhos para proteger aqueles que amamos. A luta nos cobra seu preço, e algumas guerras continuam mesmo após a paz ser declarada. Não esqueça, a verdadeira força reside na capacidade de seguir em frente, mesmo quando o caminho é incerto.
Com todo o meu amor, N."
Ryu segurou a carta, as palavras ecoando profundamente. As lágrimas que ele se recusava a derramar finalmente encontraram seu caminho, enquanto ele olhava para o horizonte, agora repleto de possibilidades dolorosas e esperançosas. Nam-soon estava em algum lugar, lutando suas próprias batalhas, e ele precisava ser forte, por ela e pela paz que ainda era tão frágil.
A carta, um farol no meio de sua escuridão, não apenas renovou sua dor, mas também reacendeu uma chama de esperança. Ryu sabia que o caminho à frente seria solitário, mas estava determinado a honrar o legado de Nam-soon, protegendo o futuro pelo qual ela tanto lutou.