Yuka sentia bolhas se formando em suas mãos devido a brutalidade que treinava naqueles últimos dias, e sem Kohaku para controlar o ritmo ela treinou sem pausa, sem descanso, como se pudesse cortar aqueles sentimentos desagradáveis caso continuasse. Como se a espada ou a faca pudessem protege-la da sensação de que talvez o problema fosse ela. Senku era um idiota por não parar por um segundo sequer, as vezes ele parecia mais uma maquina do que humano.
E ela odiava lembrar que ele sempre foi assim e que ela sabia desde o começo. Para Senku talvez o amor fosse diferente, talvez para ele, aquilo não passasse de substâncias químicas no cérebro e no sangue, correndo de célula em célula para algo temporário, diferente de sua ciência, que poderia ser eternizada. Ou que era útil aos outros.
Ela precisava esfriar a cabeça, podia sentir isso por cada músculo dolorido, por cada nova bolha nas palmas das mãos. Ela guardou a katana na bainha e se dirigiu para casa. Yuka nem mesmo aqueceu a água naquele dia, apenas entrou na água fria, sentindo que a sensação ao menos afastava aqueles pensamentos. Ela não esperou acordada até que Senku voltasse, e acordou com os primeiros raios de luz.
-- Tem algo errado? Você está estranha esses dias -- Keigo caminhou ao lado dela, bocejando enquanto ela se dirigia até o pessoal que estava prestes a ir até o outro grupo deles, que residia no Império do Tsukasa, agora o atual Reino da Ciência.
-- Nada, só com saudades do pessoal -- mentiu -- Faz tempo que não vejo Taiju ou Yuzuhira, eles ficaram muito ocupados nessas semanas.
Semanas em que estavam cultivando o trigo que Senku achou com todo o mapeamento feito até aquele momento, mas que ainda continuaria, esse era um dos motivos de ele chegar tarde em casa. Pois Senku aproveitava até o último raio de sol que tinham para poder conhecer o terreno.
-- Tem certeza que é só isso? -- Keigo não seria enganado facilmente, ele sabia muito bem quando sua imã estava frustrada com algo, mas também sabia quando ela precisava de tempo, e Yuka não parecia nem um pouco receptiva para uma conversa, não quando seus olhos azuis pareciam uma tempestade revolta como naquela manhã.
-- Sim, eu volto daqui a alguns dias, vou ver como eles estão se saindo por lá -- Ela beijou a bochecha do irmão -- Imagino que plantar deve ser um pouco mais divertido do que ficar aqui sem muito o que fazer.
Keigo deixou um beijo na testa da irmã, e a assistiu ir junto com o grupo. Caminhando ao lado deles, ela era uma presença silenciosa, nem parecia mais a mesma Yuka que conhecia antes da petrificação, a espada na lateral, a faca as costas e uma postura reta. Ela parecia uma guerreira.
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Durante os três dias de viagem Yuka permaneceu quieta, se concentrando em ouvir a floresta. Agraciando o canto dos pardais pela manhã, ou o das corujas à noite. Pelo menos se sentia mais calma quando finalmente chegaram.
E a garota foi recebida por um abraço apertado de Yuzuriha. Taiju ficou super empolgado para mostrar os brotos de trigo que cresciam.
-- O Senku não veio com você? -- O garoto pergunta, olhando para o grupo que se afastava deles, indo para as cavernas escavadas na pedra para tirar um descanso.
Yuka fechou a cara, mas sua voz foi carinhosa ao explicar.
-- Ele está muito ocupado, então eu vim para ver como estão as coisas desse lado -- Taiju como esperado apenas acreditou e desatou a falar sobre tudo, já Yuzuhira permanecia com uma expressão cautelosa, pois percebeu que algo estava errado com a amiga.
Os três camiraram para as cavernas, Taiju contava sobre as dificuldades da plantação e sobre o andamento da construção do navio. Eles partilharam uma refeição junto com todos os outros quando anoiteceu, e Yuka não deixou de reparar que mesmo sendo esforçado com o trabalho, Taiju olhava para Yuzuriha. Não o olhar de apenas ver, mas de prestar atenção. Eles podiam não ser um casal oficialmente, mas agiam como um. Taiju reservava um tempo para ela. E Yuka sentiu uma pontada de tristeza e inveja. Mas estava feliz pela amiga.
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3.700 Anos de amor Parte 3 (Senku X Leitora)
FanfictionYuka está preparada para mudar. Ela está decidida a se tornar mais forte, melhor. Uma flor que aguarda anciosamente sua primavera para desabrochar. Para mostrar a sua beleza, mas que manterá seus espinhos. Porque essa flor é selvagem, e se não tomar...